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CT do Flamengo seria referência em 2019, mas encara pior cenário em 35 anos

Estátua de Zico na entrada do novo módulo do CT do Flamengo - Alexandre Vidal / Flamengo
Estátua de Zico na entrada do novo módulo do CT do Flamengo Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

21/02/2019 04h00

O Flamengo, ainda na gestão Eduardo Bandeira de Mello, montou um plano ousado. Ser a referência em centro de treinamento no Brasil em 2019. Tudo caminhava bem após um investimento de cerca de R$ 42 milhões - R$ 26 milhões apenas no módulo profissional -, mas o incêndio que matou dez meninos das categorias de base interrompeu a meta, ao menos em um futuro próximo. Hoje, o milionário CT encara o pior cenário em 35 anos e o trabalho para se tornar modelo será bem mais difícil do que o imaginado.

A direção passada viajou em busca de influências para o módulo profissional. Visitou CTs de grandes clubes europeus e da seleção inglesa. O Chelsea virou a principal inspiração do Rubro-negro. No dia 30 de novembro de 2018, a administração Eduardo Bandeira de Mello inaugurou o módulo profissional, ainda que sem os campos e com uma série de ajustes a realizar, tanto que o elenco principal só passou a ocupar o local três dias antes da tragédia com os meninos.

O módulo profissional era o auge da estrutura rubro-negra. No mesmo terreno, o clube passava a ter dois CTs. Um para a base, também moderníssimo e que serviu ao principal elenco até o começo de 2019, e outro de primeira grandeza. A partir dali e com os arremates finais, o Flamengo alcançaria o patamar de referência em centro de treinamento no Brasil.

Acontece que uma série de fatos impediu isso. A começar pela inauguração antecipada do complexo no meio da campanha eleitoral do ano passado. O CT foi apresentado também como uma tentativa de atrair votos para Ricardo Lomba, que acabou derrotado por Rodolfo Landim nas urnas. Como não estava pronto para uso, a mudança definitiva da base foi atrasada.

Os meninos continuaram alojados nos módulos provisórios e dez perderam a vida no incêndio de 8 de fevereiro, quando as chamas tomaram em minutos os contêineres que serviam de alojamento. A mudança seria realizada dias depois e o local desativado. Não houve tempo. O Flamengo vive a maior tragédia em sua história de 123 anos.

Junto com a perda irreparável de possíveis futuros ídolos do clube e da dor causada nas famílias, o Rubro-negro viu a imagem arranhada pelas irregularidades divulgadas, multas não pagas e interdições do CT não atendidas. Ainda que a nova estrutura seja de dar inveja, principalmente aos rivais do Rio de Janeiro, o clube dificilmente será a referência que sonhava de forma rápida.

O Ninho do Urubu já passou por fases delicadíssimas, mas nada comparável ao momento atual. Comprado em 1984 pelo ex-presidente George Helal, o CT só passou a ser utilizado com regularidade pelo Flamengo em 2010, quando Vanderlei Luxemburgo foi contratado e iniciou ao lado da ex-mandatária Patricia Amorim a instalação dos módulos provisórios.

O clube, que chegou a ter apenas duas bicicletas na academia, e se via rodeado por lama entre os campos, se profissionalizou. Demorou anos para o CT ter os prédios erguidos. Até hoje, porém, não está pronto. Diversas obras ainda precisam ser realizadas. Mas, mesmo que seja concluído na atual administração, servir como referência é cenário delicado diante da enorme tragédia.