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Ricardo Boechat: torcedor do Fla, jornalista é definido como "peladeiro"

Karla Torralba

Do UOL, em São Paulo

12/02/2019 04h00

O tom crítico nos comentários era a marca registrada de Ricardo Boechat, que morreu nesta segunda (11) em acidente de helicóptero, no rádio e na TV Bandeirantes. O âncora se dedicava 100% a tudo que fazia, daí sua fama no futebol: flamenguista, é definido como peladeiro daqueles que não gostam de perder nem em dividida por quem o conhecia. 

Um deles é o repórter do SBT Antônio Petrin, que contou com a ajuda de Boechat para sair do jornalismo esportivo e passar a cobrir a editoria de geral na Bandeirantes. "O Boechat gostava muito de futebol. A gente alugava uma quadra e quando as pessoas tinham dificuldade de fazer o racha das despesas, ele completava ou até bancava sozinho", contou.

Boechat 7 a 1  - Reprodução - Reprodução
Boechat e Petrin, no 7 a 1, em 2014
Imagem: Reprodução
"Eu não era dos mais frequentadores, mas ele era atacante e muito encrenqueiro", relembrou com carinho. "Ele levava a sério o futebol. Já tinha 60 anos, jogava com repórteres mais novos, pessoas que tinha metade da idade dela, gostava da diversão". 

Petrin postou em seu Facebook uma imagem ao lado de Boechat no dia do 7 a 1, em 2014. Naquela Copa, o repórter cobriu a Alemanha e sentou ao lado do renomado âncora para assistir ao jogo. "A foto foi antes da partida começar. Eu acompanhei Alemanha na Copa do Mundo, até a final no Maracanã. Nosso caminho se cruzou em Belo Horizonte, reencontrei todo mundo da Band e a gente sentou junto na numerada. Vai ser a imagem que vou ficar dele, um profissional excepcional", disse Petrin ao UOL.

Hoje no SporTV, o apresentador e repórter Tiago Maranhão jogava com Boechat nas divertidas peladas da Bandeirantes. "A gente jogava bola juntos. Ele ia, adorava futebol, falava bastante, chamava atenção porque sempre foi muito carismático. Era uma pelada semanal da turma do esporte. Faziam uma roda ao redor dele para ouvir as histórias. Eu me senti mais próximo dele depois, como ouvinte. Na redação, eu tinha uma relação quase que de estagiário com o diretor do jornal. Uma cara de gosto simples mesmo numa posição destacada", relatou. 

"Peladeiro do clube dos 30 e flamenguista. O que eu mais admirava nele era a forma de criticar, o jeito Boechat de fazer as críticas, independente do assunto que fosse", disse o comentarista Júnior, no SporTV. 

Amigo Milton Neves lembra o jogador que Boechat pediu e ele não achou

Famoso pela sessão "Que fim levou", Milton Neves conversava quase diariamente com Boechat. Entre uma discussão e outra, as brincadeiras. O apresentador esportivo relembra um pedido do amigo que não conseguiu cumprir: achar Berico.

Berico foi atacante do Flamengo nos anos 60 e Boechat perguntou a Milton: "Cadê o Berico?".  

"Ele era torcedor do Flamengo, fã do Berico, um jogador que jogou no Guarani e chegou no Flamengo com fama de Pelé. Ele guardou o Berico. Falava: cadê o Berico? Berico não jogou nada, mas ele queria saber onde estava o Berico. Eu fiquei devendo para ele, não achei o Berico que jogou no Flamengo nos anos 60", contou Milton.

O último elogio de Boechat

Na última semana, Milton Neves foi elogiado pelo respeitado jornalista por causa de Neymar. Após várias reclamações pela postura crítica de Milton com relação ao atacante do PSG, Boechat deu o braço a torcer: "Boechat não elogiava ninguém, metia o pau em todo mundo. Agora que está terminando o julgamento do Neymar da transferência fedorenta do Santos para a Catalunha. Eu falava todo dia que a transferência não tinha sido o valor real e o Boechat falou: 'você quer saber? Você foi o único a bater firme e forte nisso, confesso que fiquei irritado do quanto você falava todos os dias de manhã.' É o maior jornalista do Brasil em qualquer mídia. A gente brincava muito, na maioria das vezes, a gente já discutiu também. Ele me batizou de Pitonisa", recorda. 

Boechat e Mauro Beting - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Mauro Beting faz texto em homenagem a Boechat
Imagem: Reprodução/Instagram
Mauro Beting relembra jeito "atrapalhado"

No esporte, Ricardo Boechat participou da cobertura das Copas do Mundo de 2010 e 2014. O blogueiro do UOL Mauro Beting contou uma história inusitada: "Na Copa 2010, logo na estreia do Brasil nos menos 600 graus de Johanesburgo, os únicos dos mais de 100 profissionais do grupo Bandeirantes que tinham perdido as luvas eram eu e ele. Fomos juntos ao Ellis Park depois de passar por dois shoppings procurando as luvas que não achamos. No meio da Copa, cheguei na redação e falei: 'chupa, Boechat! Perdi o cartão de débito no caixa eletrônico hoje de manhã!'. Ele respondeu: 'chupa, Mauro Beting. Eu perdi ontem à noite!'", escreveu em sua conta no Instagram.

"Ele era assim. Um apaixonado romântico por tudo e pela Veruska dele. Mas ainda assim um atrapalhado que só às 23h30 do dia dos Namorados no Brasil foi lembrado da data quando eu o cutuquei. E como mandar as flores online para a mulher, e naquela madrugada gelada da África do Sul, e pelo celular dentro do carro? Deu certo. Mas às custas de telefonemas de escusas e de juras. Sempre com a verve certa, os verbos corretos, e o que há de melhor. O humor. Um exemplo. Um amigo. Uma pessoa muito importante agora e sempre. Pra sempre", relatou Mauro.

Boechat América-MG - Divulgação/América-MG - Divulgação/América-MG
Boechat com a camisa do América-MG
Imagem: Divulgação/América-MG
O carinho com os clubes 

Flamenguista, Boechat também tinha carinho por outros clubes como Portuguesa e América-MG. A Lusa lamentou a morte com uma foto do jornalista uniformizado.

"A Associação Portuguesa de Desportos, enlutada, lamenta o falecimento do jornalista e torcedor Ricardo Boechat, vítima de acidente de helicóptero ocorrido hoje nas imediações do Rodoanel. Aos amigos e familiares o nosso apoio", disse o clube nas redes sociais.

O carinho se estende ao América, clube que fez homenagem ao jornalista em 2015. Boechat ganhou na época um cartão para que sempre pudesse ver jogos do time quando estivesse em Minas Gerais. "O América Mineiro está de luto com a partida do Boechat. Sua voz, suas análises e críticas vão fazer muita falta ao Brasil. Nós, que torcemos e amamos o América, sentimos muito também pela torcida e pela relação de carinho que ele tinha com nosso clube. Como presidente Coelho, tive a honra de lhe fazer uma homenagem e entregá-lo um cartão de sócio torcedor. Sei que de onde estiver, estará olhando pelo Brasil e torcendo pelo América Mineiro", comentou o ex-presidente do América-MG Alencar da Silveira Jr.