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"Operação Fla" do IML causa fila e angústia em famílias de outros mortos

Adriano Wilkson e Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro

10/02/2019 04h00

Dispostos a identificar todos os dez corpos das vítimas fatais do incêndio no CT Ninho do Urubu sem a necessidade do exame de DNA - mesmo diante de toda a dificuldade técnica que a situação exige -, os legistas do Instituto Médico Legal (IML-RJ) montaram uma verdadeira "operação Flamengo". A estratégia tem se mostrado eficiente no que se propôs, mas causou angústia nos familiares dos outros casos da cidade.

"Eles só dão prioridade ao Flamengo. Um absurdo!", reclamava uma parente de um dos mortos que aguardava identificação na secretaria onde se faz a primeira etapa do processo.

No mesmo dia (8) em que ocorreu a tragédia, por exemplo, cerca de outros 20 corpos deram entrada no IML, algo que chegou a formar uma fila de atendimento no saguão. Caso de Bianca Silva, moradora da comunidade da Mangueira, entrevistada na ocasião pelo UOL e que buscava notícias do seu filho.

Para surpresa da reportagem, neste sábado (9) pela manhã, a mãe continuava lá ainda sem ter obtido uma resposta do instituto.

Entre os mortos do tiroteio da comunidade Fallet Fogueteiro que ocorreu também na sexta (8), somente na parte da tarde deste sábado (9) eles passaram a ser identificados. No entanto, por volta das 22h, quando o UOL deixou o local, ainda havia parentes à espera de uma resposta.

IML aplicou "protocolo DVI" nas vítimas do Flamengo

Para atender as dez vítimas fatais do incêndio no CT Ninho do Urubu, os legistas do IML aplicaram o "protocolo DVI" (Disaster Victims Identification - Identificação de Vítimas de Desastres), criado pela Interpol. Ele consiste em ações padronizadas conhecidas mundialmente e que tem como finalidade definir responsabilidades, métodos de trabalho pré-estabelecidos e utilizar documentos em comum, com o objetivo de identificar os corpos de maneira mais ágil via arcadas dentárias.

Em 2016, peritos legistas e criminais da Polícia Civil tiveram um curso de 40 horas deste protocolo para a Olimpíada do Rio de Janeiro.

DNA não tem prazo de resultado

O processo de identificação de corpos consiste em três opções: a primeira é a digital. Caso não haja esta possibilidade, o exame é via arcada dentária. Não se conseguindo também desta forma, o procedimento passa a ser o DNA.

Por conta de todo o peso sentimental que uma identificação via dados genéticos causa e considerando também o tempo indeterminado para o resultado, os legistas têm trabalhado com afinco para que essa opção seja descartada. Por isso, pediram o auxílio ao Flamengo para que solicitem aos parentes das vítimas a maior quantidade de exames possíveis, algo que facilitará no processo de identificação.

Parentes de goleiro ajudaram na identificação

No caso do goleiro Crhistian Esmério (15 anos), por exemplo, as solicitações deram certo. Seus familiares levaram na manhã deste sábado (9) exames complementares aos que o clube já havia cedido e, no fim da tarde, seu corpo foi identificado.

À noite, um parente de Samuel Thomas Rosa (15 anos) fez o mesmo procedimento e aguarda o quanto antes a notícia da identificação para dar prosseguimento ainda ao duro processo do velório.

Além de Samuel, falta a identificação do corpo de Jorge Eduardo Santos (15 anos).

O caso

O incêndio aconteceu nas primeiras horas desta sexta-feira. Os bombeiros foram acionados às 5h17 (de Brasília). O fogo atingiu a ala mais velha do CT, que servia de alojamento para as categorias de base do clube e recebia jogadores de 14 a 17 anos de idade. O local seria desativado e demolido nas próximas semanas. Autoridades do Rio de Janeiro trabalham com um problema no sistema de ar-condicionado do alojamento como principal hipótese para o ocorrido.

O governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, decretou três dias de luto oficial após a tragédia.

As vítimas

Foram confirmados dez mortos e três feridos. As vítimas foram identificadas como Christian Esmerio Candido (15 anos), Vitor Isaías (15 anos), Jorge Eduardo, 15 anos, Pablo Henrique da Silva (15 anos), Bernardo Pisetta (14 anos), Arthur Vinicius (14 anos), Athila Paixão (14 anos), Gedson Santos (14 anos), Rykelmo Vianna (16 anos) e Samuel Thomas Rosa (15 anos).

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Os sobreviventes

Os bombeiros conseguiram resgatar três garotos: Cauan Emanuel Gomes Nunes, de 14 anos, Francisco Dyogo Bento Alves, 15, e Jhonata Cruz Ventura, 15.

As informações são de que Jonathan está em estado gravíssimo e será transferido para o Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Municipal Pedro II. O jovem tem de 30 a 35% do corpo queimado.

O local

mapa incendio ct flamengo  - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

O Ninho do Urubu fica localizado no bairro de Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e é utilizado para treinamentos do elenco profissional e das categorias de base. O CT passou por uma reforma que terminou em novembro de 2018, com a inauguração de um módulo moderno para os profissionais. A ala utilizada pelos garotos seria desativada e demolida nas próximas semanas.

De acordo com o comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e Secretário de Defesa Civil, Roberto Robadey, o alojamento em que estavam as vítimas da tragédia não tinha documentação.

"Não é exclusividade desse local. Mas as pessoas às vezes aprovam uma planta, aí quando vai ver resolve fazer puxadinho. Aumentar. A gente lamenta que as pessoas não possam fazer um planejamento adequado. É um ato final. Existe todo um procedimento. O fato de não ter a documentação implica até que não havia segurança. Muitas vezes até existe os dispositivos de segurança, mas ainda não teve uma regularização adotamos várias medidas para simplificar esse processo para agilizar", declarou Robadey em entrevista à rádio BandNews.