Time transforma campo em heliponto e se estrutura para ajudar Brumadinho
A Rua Itaguá, na altura do número 1.000, enfrenta a dura realidade de uma das maiores tragédias da história do Brasil. O endereço recebe os jogos do Brumadinho Futebol Clube, mas desde a última sexta-feira (25) se transformou em uma base de apoio. O gramado virou um heliponto, enquanto a quadra poliesportiva do município concentra doações. Tudo para ajudar na busca pelos mais de 200 desaparecidos após o rompimento da barragem da Vale e a enxurrada de lama e rejeitos da mineradora que atingiu a cidade.
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Ao invés da bola, o campo do time amador vira pista de pouso. O espaço cedido pelo clube se tornou um dos pontos para facilitar o transporte de equipamentos e profissionais que atuam na busca das vítimas. O trabalho de quem cuida do Brumadinho FC agora se concentra em dar solidariedade às famílias das vítimas, bombeiros e voluntários envolvidos na operação - até o fechamento desta matéria, o número de mortos ultrapassava 80.
"Temos este grande espaço e temos recebido muita gente nestas idas e vindas. Graças a Deus o campo não foi atingido e permite esta ajuda. É muito triste, mas estamos nesta para ajudar cada vez mais. Estamos inteiramente à disposição", afirmou o Roberto Márcio, 46 anos, presidente do Brumadinho FC há cinco meses.
A ajuda do clube fundado em 1929 é pessoal. O próprio dirigente, com a voz embargada na conversa pelo telefone com a reportagem, revelou o desaparecimento de um atleta na tragédia.
Robert Ruan Oliveira Teodoro, 19 anos, atua pelo juvenil da equipe, que disputa competições de base em Minas Gerais, e divide a paixão pelo esporte com o trabalho para a Vale por intermédio de uma empresa terceirizada.
"Ainda não acharam ele, ainda não...É o Robert, era do nosso juniores. É muito triste, muito triste", lamenta o presidente do Brumadinho, que soube do rompimento da barragem em um momento sensível para ele e a própria família.
"Estava no velório da minha prima, aí aconteceu esta tragédia. Agora a gente só quer ajudar, vamos levando, vamos levando. Como falei, estamos à disposição do que quiserem. Pessoal tem sido muito solidário, é torcer", complementou o dirigente e hoje voluntário na busca pelos desaparecidos.
Além do campo, a estrutura utilizada pelo Brumadinho tem uma quadra poliesportiva, localizada próximo de onde o time amador e as categorias de base disputam seus jogos. Este espaço coberto serve como base para doações, que são "muitas" segundo Roberto Márcio.
O último jogo da equipe adulta de Brumadinho ocorreu no início do mês, válido pela Copa Itatiaia de futebol amador.
Entre os jovens, as categorias sub-12, sub-14 e sub-16 disputam a 5ª Copa de Futebol do Alto Paranaíba, torneio que reúne os meninos na cidade de São Gotardo, localizada a quatro horas de distância do município vitimado pelo rompimento da barragem. É inevitável não encontrar os pequenos atletas com a cabeça em Brumadinho e em tudo o que envolve a tragédia.
"Olha, tivemos as notícias um dia depois que chegamos. No início foi bem complicado. Ligamos para os pais e fomos entendendo a situação; na verdade, não sabemos muita coisa, porque ainda não voltamos para a cidade. Mas, por exemplo, um atleta nosso perdeu um primo e outros dois perderam um tio", contou Wandercley Eller, 38 anos, coordenador da base e que acompanha os meninos no torneio.
Três destes adolescentes, dois deles irmãos gêmeos, perderam parentes. Enquanto o clube que eles representam se movimenta para ajudar na cidade, os meninos sustentam a tradição quase nonagenária do Brumadinho em campo. O trio permaneceu ao lado dos amigos, rezou pelas vítimas em uma igreja de São Gotardo e se orgulha do legado deixado por um time que tem se mostrado mais do que apenas um clube de futebol.
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