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Seleção fecha ciclo com Richarlison em alta e Marquinhos "insubstituível"

Kieran Galvin/EFE
Imagem: Kieran Galvin/EFE

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de Milton Keynes (Inglaterra)

21/11/2018 04h00

O futebol pode não ser ainda aquele sonhado – e o próprio Tite que não poderia ser com o número elevado de mudanças a cada partida –, mas os números jogam todos eles a favor da seleção brasileira em seu novo ciclo. Na primeira parte de trabalho estabelecida para a Copa do Mundo de 2022, foram seis vitórias em seis jogos, 12 gols marcados e nenhum sofrido.

Para retomar a confiança que havia antes da Rússia e voltar a atrair para o seu lado o torcedor que hoje se encontra ressabiado, falta ainda uma atuação convincente. Ela não veio em nenhum das vitórias magras por 1 a 0 contra Camarões e Uruguai, em Milton Keynes  e Londres, respectivamente. Ficará, então, para março, quando o grupo volta se reunir para enfrentar possivelmente adversários europeus e se apresentar mais encorpado para a Copa América, principal objetivo para 2019.

Neymar machucado - Andrew Boyers/Reuters - Andrew Boyers/Reuters
Imagem: Andrew Boyers/Reuters
‘Sozinho’, Neymar vira cada vez mais ‘10’

Os atletas faziam o movimento quase que de forma automática: dominavam a bola, ajeitavam o corpo e passavam para a esquerda. O destino era sempre o mesmo: Neymar. Foi assim, por exemplo, no pontapé inicial em sua curta participação contra os camaroneses, antes de sentir uma lesão na virilha e deixar o campo. E havia sido essa também a dinâmica contra os uruguaios.

Cada vez mais atuando como um camisa 10, flutuando em campo e repetindo o que tem feito pelo PSG, o craque de 26 anos chamou a responsabilidade e se encarregou do papel de coordenar os ataques do Brasil. Ao final da partida, chegou-se a sugerir um suposto excesso de individualismo por parte dele, mas a realidade é que, sem Philippe Coutinho, cortado, ele se viu ‘sozinho’ em campo e restrito às combinações com Filipe Luis e Renato Augusto em Londres.

O dueto com Roberto Firmino ainda não decolou, sobretudo, porque o atacante de Liverpool recua mais em campo e não fica como referência na frente, a exemplo do que Gabriel Jesus, hoje reserva, costuma fazer. Uma alternativa seria ter Douglas Costa entrando na área como elemento surpresa, porém, não tem essa característica. Richarlison se mostrou uma escolha mais acertada para abrir caminho do lado oposto.

Substituir Casemiro virou um drama 

Arthur na seleção - Pedro Martins/MoWa Press - Pedro Martins/MoWa Press
Imagem: Pedro Martins/MoWa Press
Um dos pilares de Tite para 2022, Casemiro foi a baixa mais sentida pelo técnico nos amistosos. Sem o destaque do Real Madrid, ele escalou Walace como titular pela primeira vez contra os uruguaios e viu um volante forte na marcação, mas sem a mesma qualidade na saída de bola. O resultado disso foram as chances criadas pela dupla Cavani e Suárez em consequência de falhas nos passes.

Para enfrentar Camarões, o comandante da seleção resolveu testar, então, Arthur, que atuou sempre um pouco mais à frente, como segundo volante, nos amistosos anteriores. Não soa provável, ainda assim, que ele vá prescindir do ex-gremista na função que vinha desempenhando e se encaixou tão bem na equipe. O veterano Fernandinho deverá voltar na convocação de março e retomar mais uma vez esse espaço, adiando, assim, a resolução desse buraco no elenco.

Seleção brasileira posada contra Camarões - Glyn KIRK/AFP - Glyn KIRK/AFP
Imagem: Glyn KIRK/AFP
Ninguém passa por Marquinhos

Apenas um atleta disputou todos os minutos depois da Copa do Mundo pela seleção. Nada de Neymar. Ou mesmo Alisson. O principal homem de confiança de Tite neste início de ciclo tem sido Marquinhos, que se mostrou imbatível na defesa e foi decisivo para que ela sustentasse a sua impressionante invencibilidade no período. A briga é hoje entre Miranda e Thiago Silva para decidir quem atua ao seu lado.

A sua moral anda tão elevada que, para o encontro com Camarões, a comissão técnica se viu forçada a recorreu a Pablo para acompanhá-lo porque o ex-corintiano se sente mais à vontade na esquerda do que Dedé. Outro fator positivo que pesa a seu favor é a possibilidade de deslocá-lo, se necessário, para o meio-campo ou para a lateral direita, como ocorreu contra El Salvador. É claro que, em sua atual forma, ele só deixará a linha de trás em caso de extrema necessidade.

Paquetá deve voltar em próxima lista

Paquetá seleção - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF
Em mais de uma ocasião, mesmo sem ser perguntado a respeito, Tite ressaltou a importância de Lucas Paquetá dentro do grupo atualmente. Para o treinador, o destaque do Flamengo é o substituto imediato de Coutinho. É o único que, na ausência do meia do Barcelona, consegue fazer a sua função, carregando a bola para frente e infiltrando na área adversária. Paulinho se reinventou e também desempenha papel semelhante, mas não tem mais o mesmo espaço de outrora.

Sem Paquetá, a seleção enfrentou dificuldades em seu setor de criação e se ressentiu de sua ausência em ambos duelos. Até aqui, ele esteve presente somente na primeira lista pós-Copa do Mundo para os jogos contra Estados Unidos e El Salvador. Por causa do calendário brasileiro, acabou perdendo as duas últimas.

Em entrevista coletiva, Tite relativizou, ainda assim, o problema e disse que tenta compensar a falta de trabalho no dia a dia de outra forma. Ele ressaltou o número de treinos do Fla conferidos no Ninho do Urubu, os compromissos rubro-negros acompanhados in loco e a conversa com o técnico Dorival Jr. e outros profissionais que trabalham ao seu lado desde a base.

Richarlison conquistou a todos e veio para ficar

Outro nome que surge quase naturalmente quando Tite analisa a fase da seleção é o de Richarlison. O atacante de 21 anos é destaque hoje por seu futebol, sua versatilidade na frente e também pelas entradas em diagonal sempre perigosa. Mas é especialmente por sua postura fora de campo que ele virou um exemplo citado de forma recorrente pela comissão técnica.

A princípio, ele não fazia parte da lista para os primeiros amistosos, porém, acabou sendo chamado para substituir Pedro, do Fluminense, e não saiu mais. Nos últimos dias, o episódio foi contado por Tite mais de uma vez. Em cada uma delas, o treinador fez questão de ressaltar que não há nada de “depreciativo” em ter cavado uma vaga assim. O jovem jogador do Everton teve o seu empenho premiado com o gol contra Camarões.