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Por estádio mais barulhento, time inglês muda torcida mais antiga de lugar

Torcedores organizados do Crystal Palace ganharão setor maior atrás do gol - Catherine Ivill/Getty Images
Torcedores organizados do Crystal Palace ganharão setor maior atrás do gol Imagem: Catherine Ivill/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

07/10/2018 04h00

De um lado, torcedores mais antigos acostumados ao mesmo assento no estádio por mais de 20 anos precisarão mudar de lugar. Do outro, torcedores “organizados” ganharão um novo espaço para fazer barulho e transformar o local num “caldeirão”. Parece uma adaptação simples, mas o Crystal  Palace precisou de um esforço diplomático e meses de negociação para tentar recuperar a fama de “alçapão” para seu estádio, o Selhurst Park.

O setor em disputa é conhecido como Homesdale (nome da rua de seu acesso) e fica atrás de um dos gols. Lá, dividem espaço os "ultras" do Palace, uma espécie de torcida organizada do clube, denominada Homesdale Fanatics, e torcedores "tradicionais", com lugares cativos há décadas.

Os Fanatics ficam mais perto de uma das bandeiras de escanteio, no canto, enquanto os demais têm seus assentos marcados atrás do gol. Alguns deles têm a mesma cadeira há mais de 20 anos, numa tradição importante dentro do clube e valorizada pelos fãs.

Acontece que os Fanatics são considerados fundamentais para uma fama que orgulha a maior parte da torcida: a de que é difícil jogar na casa do Crystal Palace por conta da pressão de seus seguidores, que apoiam e fazem barulho durante todo o jogo. Os Fanatics preferem ver as partidas em pé e cantam alto, algo cada vez mais raro no futebol inglês.

Na última temporada, pensando em dar mais espaço a esses ultras e tornar o ambiente ainda mais inóspito para os times adversários, a diretoria do Crystal Palace decidiu propor uma mudança: os Fanatics seriam deslocados para trás do gol e ganhariam mais espaço.

O problema é que para isso acontecer os torcedores tradicionais, acostumados a seus lugares, precisavam ser deslocados. Estes últimos reclamaram e a diretoria recuou. Aí os Fanatics reagiram: no início da atual temporada, eles deixaram de se reunir onde estavam acostumados. Chegaram até a não ir a alguns jogos.

Resultado: o “caldeirão” esfriou. Até adversários falaram disso. Depois de vencer o Crystal Palace por 2 a 0 no Selhurst Park, o goleiro do Southampton, Alex McCarthy, disse que o estádio do rival estava “menos intimidador e muito mais quieto sem eles [ultras] lá”.

Foi então que outros torcedores do Crystal Palace se reuniram e procuraram a diretoria pedindo uma solução para que os Fanatics e seu barulho voltassem. Depois de muita conversa, a diretoria decidiu atender os ultras, que a partir da próxima temporada ficarão atrás do gol e terão mais espaço, podendo atrair mais torcedores com o mesmo perfil.

Já os torcedores da “velha guarda” perderam a queda de braço. Deixarão seus lugares no próximo campeonato. Os dirigentes prometem achar uma solução menos traumática para eles, tudo em nome da fama do Crystal Palace de ter “uma das melhores atmosferas entre os estádios do Campeonato Inglês”, como definiu o próprio clube.

“Vamos facilitar um maior e melhor ‘setor para cantar’ na próxima temporada, com os nossos torcedores mais barulhentos empurrando o time e fazendo do local uma grande ‘área de pressão’. Para isso, é inevitável que alguns de nossos mais valiosos torcedores sejam deslocados, mas trabalharemos duro para oferecer as melhores alternativas”, concluiu o Crystal Palace, emendando com um pedido. “Todos serão devidamente comunicados. Por favor, não liguem para nossas secretarias por enquanto”.