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Coletivos palmeirenses criticam Felipe Melo e o clube em "caso Bolsonaro"

Felipe Melo comemora após marcar pelo Palmeiras contra o Bahia - Cesar Greco/Agência Palmeiras
Felipe Melo comemora após marcar pelo Palmeiras contra o Bahia Imagem: Cesar Greco/Agência Palmeiras

Lucas Pastore

Do UOL, em São Paulo

18/09/2018 04h00

As declarações públicas de apoio de Felipe Melo a Jair Bolsonaro e a reação do Palmeiras após o ocorrido não repercutiram bem em coletivos de torcedores do clube. O UOL Esporte conversou com representantes do Palmeiras Antifascista e do Palmeiras Livre, que criticaram o volante e acharam que a nota emitida pela diretoria alviverde após o volante dedicar seu gol ao candidato à presidência pela PSL não teve a força necessária frente ao incidente.

Neste domingo, Felipe Melo marcou o gol do Palmeiras no empate por 1 a 1 com o Bahia, em Salvador, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. Após a partida, ainda no gramado e vestindo o uniforme do clube, disse que dedicava o lance a Bolsonaro, referindo-se a ele como "nosso futuro presidente".

A declaração foi estopim de críticas de quem acredita que Felipe Melo não deveria manifestar-se desse modo enquanto vestia a camisa do Palmeiras. Tanto o Palmeiras Antifascista quanto o Palmeiras Livre usaram suas contas em redes sociais para criticar a iniciativa - e também para condenar o apoio a Bolsonaro.

"Felipe Melo não pode ser mais jogador do Palmeiras. Sua visão de mundo não condiz com um clube que foi fundado por imigrantes, operários das Indústrias Matarazzo. Para seu candidato, seu ídolo, 'mito', o deputado nazista o qual dedicou o gol de hoje, os refugiados são a 'escória do mundo'. É racista, homofóbico, machista e destila ódio contra todos fora do padrão homem-branco-heterossexual. É um inimigo dos pobres, assim como esse jogador medíocre. Melo já se demonstrou um inimigo da classe trabalhadora chamando grevistas de vagabundos, já havia declarado voto e apoio ao deputado nazista, e agora usa o Palmeiras como plataforma para disseminar o fascismo", diz comunicado publicado pelo Palmeiras Antifascista no Facebook.

Nesta segunda-feira, após as críticas à manifestação de Bolsonaro, o Palmeiras divulgou uma nota oficial para afirmar que as declarações refletem posições "particulares" e para se dizer politicamente neutro.

"A Sociedade Esportiva Palmeiras vem a público esclarecer que o posicionamento político do atleta Felipe Melo reflete, única e exclusivamente, uma manifestação particular, e não da instituição. O Palmeiras respeita qualquer posição política de seus atletas, empregados e colaboradores e ratifica a sua neutralidade nas questões políticas, partidárias, de crenças, religiões e quaisquer outras formas de manifestações pessoais", diz o comunicado.

Parte das críticas dos coletivos se refere a trecho do estatuto do Palmeiras que proíbe "dentro da SEP (Sociedade Esportiva Palmeiras), qualquer manifestação de caráter político, religioso ou de discriminação". No entanto, segundo o alviverde, as regras se aplicam aos associados do clube e não têm relação com os jogadores profissionais.

Para os representantes dos coletivos ouvidos pelo UOL Esporte, a nota não tem a força que o momento pede. Além de condenarem as posições políticas de Bolsonaro, os grupos de torcedores do Palmeiras lamentam que Felipe Melo teve a oportunidade de associar a imagem do clube ao candidato. A argumentação é de que o volante extrapolou o direito a manifestação política e tomou posição partidária. De acordo com Roberto Romano, cientista político e professor da Unicamp, os coletivos encontram sustentação teórica na separação entre as duas coisas.

"Eu não colocaria tudo no mesmo balaio. Quando os jogadores negros da NFL se ajoelham, eles estão fazendo uma manifestação que é ao mesmo tempo política, social e ideológica. No caso do Felipe Melo, foi uma manifestação muito nitidamente partidária. Causa um prejuízo à pluralidade da torcida do Palmeiras, que certamente tem apoiadores de todos os candidatos", explicou, ao UOL Esporte.

Romano se refere ao movimento encabeçado por Colin Kaepernick, que em agosto de 2016 começou a se ajoelhar durante a execução do hino nacional dos Estados Unidos para protestar contra o racismo no país. Na época, Donald Trump, hoje presidente dos Estados Unidos, estava na reta final da candidatura e já lidava com acusações de misoginia e discriminação. Depois de eleito, ele se tornaria um dos maiores críticos do quarterback.

De forte relação com Felipe Melo, a Mancha Alviverde, maior torcida organizada ligada ao clube, não deve se manifestar sobre o apoio do jogador ao candidato.