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Aliança Nacional LGBTI+ repudia grito homofóbico de atleticanos e pede ação

Do UOL, em São Paulo

17/09/2018 18h15

A Aliança Nacional LGBTI+ divulgou uma nota de repúdio aos gritos homofóbicos ouvidos no clássico mineiro de domingo (16), quando a torcida do Atlético-MG citou o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) para provocar os torcedores do Cruzeiro.

O grupo afirmou que a torcida do Galo “conseguiu atingir o grau máximo de discurso preconceituoso”.

“Os espaços que existem na sociedade são para o direito a convivência de todos e todas, não apenas de um determinado segmento. De fato, os campos de futebol já foram tratados como locais exclusivos da presença masculina, negando a inclusão de mulheres e demais minorias. Hoje, isto não é mais aceito, se percebe que os estádios de futebol estão se tornando um espeço de respeito e dignidade para toda a família”, diz o comunicado.

A Aliança Nacional LGBTI+ ainda falou em “preconceito enraizado” das pessoas. “O fato ocorrido, não apenas expressa o preconceito enraizado na mentalidade de grande parcela de brasileiros, mas demonstra a influência de um discurso de formadores de opinião e ditos representantes do povo.”

O grupo também pede que o Atlético-MG “se manifeste de forma coerente e a altura da gravidade do fato ocorrido, para fins de rechaçar tais atitudes homofóbicas e promover o enfrentamento de toda e quaisquer formas de LGBTIfobia, além de contribuir de forma clara para a inclusão de minorias e a defesa dos direitos humanos”.

Ainda no domingo, a diretoria alvinegra se manifestou sobre o caso e repudiou o teor do cântico entoado por parte da torcida que compareceu ao estádio.

"O CAM (Clube Atlético Mineiro) lamenta profundamente as manifestações homofóbicas de parte dos torcedores, no jogo deste domingo, no Mineirão. Reiteramos nosso repúdio a quaisquer gestos de preconceito ou de incitação à violência. A maior torcida de Minas é composta por pessoas de todas as classes sociais, raças e gêneros, não cabendo qualquer tipo de discriminação. Isso não faz parte da nossa gloriosa história", escreveu o clube.

Nesta segunda-feira, a Procuradoria-Geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) garante que "o fato não passará em branco". O órgão ainda estuda imagens e aguarda o recebimento da súmula da partida, apitada por Rafael Traci (PR), para fazer uma possível denúncia sobre o caso.

Por fim, a Aliança Nacional LGBTI+ pede que a Fifa, a CBF e a Federação Mineira de Futebol façam campanhas para promover o respeito à orientação sexual e à identidade de gênero.

Veja a nota da Aliança Nacional LGBTI+:

A Aliança Nacional LGBTI+ vem manifestar seu total repúdio quanto às manifestações ocorridas durante o jogo de futebol entre Cruzeiro Esporte Clube  e Clube Atlético Mineiro,  no dia 16 de setembro de 2018, no Estádio Independência em Belo Horizonte - MG

A torcida do Clube Atlético Mineiro, na ocasião, conseguiu atingir o grau máximo de discurso preconceituoso. Ao que se deduz, os gritos foram encorajados por eleitores de um candidato à Presidência da República. Amparada nestes fatos, a mesma ofende a torcida adversária com os seguintes dizeres: “Ô Cruzeirense, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar v...” (sic).

Os espaços que existem na sociedade são para o direito a convivência de todos e todas, não apenas de um determinado segmento. De fato, os campos de futebol já foram tratados como locais exclusivos da presença masculina, negando a inclusão de mulheres e demais minorias. Hoje, isto não é mais aceito, se percebe que os estádios de futebol estão se tornando um espeço de respeito e dignidade para toda a família.

O fato ocorrido, não apenas expressa o preconceito enraizado na mentalidade de grande parcela de brasileiros, mas demonstra a influência de um discurso de formadores de opinião e ditos representantes do povo.

É importante lembrar que inúmeros países espalhados pelo mundo, punem a homossexualidade com prisão e até mesmo pena de morte. Neste contexto, é inadmissível vermos ainda hoje, em um país das mais variadas expressões afetivas, que um grupo de forma direta ou indireta, defenda ou compactue com a “morte” de algum semelhante.

É de extrema importância que a temática da LGBTIfobia seja debatida amplamente para que tais fatos não ocorram mais, e nossas futuras gerações possam crescer mais conscientizadas e assim conquistarmos um futuro melhor e mais inclusivo.

Pede-se diante de tais fatos, que a diretoria do Clube Atlético Mineiro se manifeste de forma coerente e a altura da gravidade do fato ocorrido, para fins de rechaçar tais atitudes homofóbicas e promover o enfrentamento de toda e quaisquer formas de LGBTIfobia, além contribuir de forma clara para a inclusão de minoriase a defesa dos direitos humanos.

Tratar tais fatos de forma genérica como foram tratados não contribui para a formação de uma nação igualitária, além de acabar por induzir os demais a pensarem que tal atitude é aprovada pela instituição.

Pedimos que a Federação Internacional de Futebol, a Confederação Brasileira de Futebol e a Federação Mineira de Futebol façam campanhas com os clubes brasileiros de futebol voltadas para a promoção do respeito à orientação sexual e à identidade de gênero. A Aliança Nacional LGBTI+ se coloca à disposição como parceira nesta empreitada.

Pedimos também às autoridades competentes que tomem as medidas cabíveis para coibir este tipo de manifestação LGBTIfóbica.

O que não podemos admitir, é que diante de um pleito eleitoral que se aproxima, qualquer um queria adotar postura que divirja com texto da Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

Como não recordar também, do texto de um dos livros respeitados por grandes líderes religiosos. Na bíblia, no livro de João, a sociedade é chamada a pensar sobre o amor ao próximo, mas o ódio a alguns. Como poderia falar que ama Deus, mas deseja a morte de alguém?

Precisamos, nos manifestar. E nós, como uma entidade nacional pluripartidária, laica, que atua em defesa e na promoção da cidadania da população LGBTI, repudia veementemente as declarações da torcida do Atlético Mineiro.