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Árbitro brasileiro se transforma em "Doutor Gravatinha" em hospitais de BH

Lucas Figueiredo/CBF
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

08/09/2018 04h00

O árbitro Igor Benevenuto deixa o apito de lado e passa tinta branca na altura dos olhos e do queixo. Veste um chapéu redondo preto, um nariz vermelho e adiciona uma gravata colorida ao traje. Não importa se é borboleta ou aquelas mais tradicionais, o acessório não pode faltar na construção do Doutor Gravatinha, um profissional especializado em "besteirologia" que leva alegria a crianças internadas em hospitais de Belo Horizonte (MG).

Ao menos uma vez por mês desde o início do ano, os pacientes dos hospitais Belo Horizonte e ABC da Criança recebem a visita de Igor. O árbitro do Campeonato Brasileiro e de tantas outras competições nacionais faz parte do Guardiões do Riso, grupo ligado à Guarda Municipal de Belo Horizonte desde 2012, que tem como objetivo promover a humanização no ambiente hospitalar.

A inserção em grupos sociais era um objetivo desde que o árbitro conseguiu recursos para cursar a faculdade de enfermagem. Uma amiga, então, o apresentou ao Guardiões do Riso e Igor os seguiu no Instagram antes de se oferecer para ajudá-los.

Atuação de árbitro Igor Benevenuto foi motivo de reclamação do time do Vitória - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Além de Doutor Gravatinha, Igor Benevenuto é árbitro de futebol
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

A escolha do personagem é de responsabilidade de cada voluntário. Igor cogitou "Doutor Apito", mas a relação com o futebol poderia causar-lhe problema. Vai que o pai de alguma criança ficasse incomodado com a atuação do árbitro em um jogo do seu time.

"A gente sabe como são as paixões, não queria me vincular ao futebol. E sou apaixonado por gravatas, faço coleção e tenho mais de 300. O pessoal do futebol me conhece por isso e daí veio a ideia de 'Doutor Gravatinha'. Uso uma gravata borboleta colorida e dá tudo certo".

A ideia de se desvincular do futebol não deu muito certo no início. "Você não é aquele árbitro que apita futebol?", ouviu de um pai logo na primeira vez que se fantasiou e entrou em um quarto de hospital. "Agora uso um chapéu para tentar disfarçar mais ainda".

Antes de poder entrar fantasiado nos hospitais, Igor teve de passar por um rápido curso e acompanhar as visitas de voluntários mais experientes. O objetivo é fazer com que se chegue emocionalmente preparado para o que se pode encontrar em um local com pessoas lutando para melhorar sua saúde.

Igor Benevenuto (à esquerda) é árbitro de futebol - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Igor Benevuto (à esquerda), em ação do Guardiões do Riso
Imagem: Arquivo pessoal

"Meu jaleco ficou ensopado no primeiro dia em que fui fantasiado. Estava tão tenso e nervoso que fiquei travado. Só melhorei quando uma das voluntárias me chamou para interagir com as crianças. Aí fui me soltando".

Mas nem sempre as visitas ficam só nas brincadeiras. Por vezes, uma saída do script se faz necessária. "Lembro uma vez em que um menino estava chorando demais em uma das minhas visitas. Ele não queria ficar no hospital. Eu o abracei e falei que ele estava ali para o próprio bem, então ele começou a brincar e dizer que queria ficar. Consegui mudar o comportamento e a mentalidade dele. Isso me alegrou demais. Quando saí de perto, fui para o banheiro e comecei a chorar".

Para conseguir ser o Doutor Gravatinha, Igor precisa se dividir entre as partidas de futebol e o trabalho como assessor parlamentar na Câmara Municipal de Belo Horizonte.

"Normalmente vou aos hospitais umas cinco vezes por mês. Quando dá para eu ir, aviso com antecedência a responsável pelo programa e ela me coloca na equipe. Mas tem vezes que preciso adiar por causa da escala em algum jogo. Se eu pudesse, queria fazer todos os dias".