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Ele teve chance de treinar na Série B, mas ficou na Ásia e virou ídolo

Tarcísio Pugliese, técnico brasileiro que está à frente do Felcra - Arquivo Pessoal
Tarcísio Pugliese, técnico brasileiro que está à frente do Felcra Imagem: Arquivo Pessoal

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

28/07/2018 11h00

Tarcísio Pugliese pode não ser um rosto conhecido no futebol brasileiro. Com passagens por clubes de menor expressão, como Luverdense, Oeste, Icasa e Ituano, o treinador teve a chance de assumir o São Bento na Série B do Brasileirão, mas foi obrigado a recusar para ficar na Malásia, onde se tornou ídolo do Felcra FC.

Aos 38 anos, iniciou a carreira como técnico há 12, mas se encontrou no futebol asiático, onde está desde o início do ano.

A mudança para o Felcra FC foi com um objetivo: levar o time à elite do esporte local. A meta foi cumprida com sucesso há cerca de um mês. A equipe jogará, a partir da próxima temporada, a Primeira Divisão do torneio.

Durante a passagem pelo futebol local, ele recebeu uma procura do São Bento, mas o contrato o obrigou a ficar.

"Eu tive uma proposta, um mês atrás, para assumir o São Bento na Série B do Brasileiro. Fiquei com muita vontade de ir, até por gostar muito do presidente do São Bento. O Márcio é um cara muito sério e correto. O time é forte e tem condição de brigar pelo acesso. Mas, infelizmente, não pude ir. O time não me liberou e eu acabei ficando aqui", disse Tarcísio Pugliese ao UOL Esporte.

Em entrevista com a reportagem, ele falou sobre a vida no país que não tem tanta fama no futebol, elogiou a cultura local e se mostrou propenso a uma volta ao Brasil. Confira, abaixo, o bate-papo:

ADAPTAÇÃO
"A diferença cultural é muito grande, não é fácil a adaptação. A língua facilita para mim, porque todo mundo fala inglês. Não é a língua oficial, mas todo mundo fala. Eu falo bem o inglês, o que facilita para mim bastante. A religião, a alimentação, a questão cultural, é tudo muito diferente. Não é fácil a adaptação. Sinto falta de muita coisa do Brasil, principalmente da família e dos amigos, mas sinto falta de outras coisas. Aqui é muito legal, porque é um país muito bacana e há outros países aqui perto. Culturalmente, é um lugar bastante rico. Muito próximo de Singapura, Tailândia, Indonésia. Tive a oportunidade de conhecer todos esses países. Tem sido muito legal para mim. É claro que não é fácil a adaptação, alimentação, distância dos amigos, mas o que pesa para mim realmente é a distância do meu filho".

CONVIVÊNCIA COM BRASILEIROS
"Estou sozinho aqui, mas tem mais três jogadores brasileiros. Tem um jogador da Indonésia, mas acabei vindo sozinho. Quando acertei aqui, eu traria um auxiliar, mas eles exigem que você tenha o curso da CBF. E meu auxiliar não tinha a licença, eu acabei não conseguindo trazê-lo".

"A gente mora no mesmo prédio. A gente optou por morar no mesmo prédio e conseguiu exatamente para ficar um pouco mais próximo. Sempre tive relação muito boa com os atletas que trabalho. Acho que é normal termos um contato, mesmo sendo técnico e eles sendo atletas. Não concordo com quem pensa diferente, porque posso trazer respeito ou comando. Eu tenho relação boa com eles. Dentro do campo, eu sou treinador e eles são atletas. Isso é normal. Fora do campo, temos uma relação normal. A gente, vez ou outra, sai para comer pizza, bater um papo. A gente conversa bastante antes e depois dos treinos. Um deles está sem a família, então esse é o atleta que uma vez ou outra a gente acaba conversando um pouquinho mais. A gente sai para jantar, bate um papo. Os três jogadores são Casagrande, que estava no Boa, o Léo Carioca, zagueiro que está sem a família, e o Endrick, de muito potencial, muito bom jogador e menino novo que teve poucas chances aí no Brasil. Ele estava aí no Bahia, foi muito novo para a Romênia, mas é novinho, de 22, 23 anos".

POR QUE A MALÁSIA
"Sempre tive o objetivo, o sonho de trabalhar fora do país. Há muito tempo vinha tentando um espaço fora do país, por querer conhecer outra cultura, por querer desenvolver um trabalho em outros países. E realmente eu estou muito feliz aqui. O que pesa muito é a distância da família. Gosto de trabalhar aqui. E como disse, a gente tem uma imagem da Malásia diferente do que realmente é. Conheço Nova Iórque, sou de São Paulo... E te digo que Kuala Lumpur é uma cidade como Nova Iórque e São Paulo, com muitas opções, com shoppings imensos, restaurantes bons. A gente tem uma imagem que não é real. Quando vim para a Malásia, não tinha essa imagem. Independentemente disso, eu sempre tive o sonho de trabalhar fora do país e aceitei vir para cá. O Valdir Souza, que é o empresário que me trouxe essa proposta, me apresentou a oferta e eu imediatamente aceitei".

SONHO DE VOLTA AO BRASIL
"Gostaria de voltar como treinador, mas a leitura que o Mauricio teve faz três, quatro anos que tenho falado para muita gente. Cheguei a pensar nessa situação, não me oporia. Mas essa situação tem gerado duas coisas que não são positivas. Há um número absurdo de treinadores, porque o cara às vezes fica 15 jogos e sai. E quão estruturado está esse cara para ser treinador? O segundo problema é que jamais gostaria de trabalhar com alguém que não confiasse em mim. Até que ponto você pode confiar no cara que é o seu auxiliar? Eu não sei se ficaria confortável. Não iria me opor, porque não tenho vaidade em relação a isso e porque é uma chance de atingir o meu objetivo. É o que o Mauricio fez, o Tiago fez. O que me incomoda é saber a confiança que as pessoas teriam nessa situação".