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Conselho do Santos questiona contratos e já teme caos financeiro no clube

Uma das principais preocupações recai sobre o número de contratos PJs assinados - Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC
Uma das principais preocupações recai sobre o número de contratos PJs assinados Imagem: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

05/06/2018 13h29

O Santos que entra pressionado para o clássico contra o Corinthians, nesta quarta-feira, às 21h (de Brasília), na Arena Corinthians, enfrenta problemas ainda maiores nos bastidores. Além de uma nova suspeita envolvendo o ex-coordenador das categorias de base do clube, Ricardo Crivelli, o Lica, o Conselho clube questiona uma série de contratos e teme que a atual administração possa provocar uma espécie de caos financeiro.

Em relatório endereçado ao Comitê Gestor, grupo responsável por gerir o clube, o Conselho Fiscal aponta para a possibilidade de um déficit de até R$ 129,2 milhões no ano, além do risco de atraso de salários e uma grande crise caso não hajam mudanças. A reunião ocorrerá um dia após enfrentar o rival, nesta quinta-feira (7).

Uma das principais preocupações recai sobre o número de contratos assinados. Em três meses, o relatório aponta que foram 157, impulsionado  pela opção da diretoria pela contratação de PJs (pessoas jurídicas, empresas que prestam serviços ao clube) substituindo o uso de CLT (funcionários registrados na Consolidação das Leis Trabalhistas). Os custos chegam a aproximadamente R$ 400 mil.

O Conselho Fiscal ainda afirmou que deu uma série de recomendações que não foram seguidas pela nova gestão na nova plataforma de contratações. Os PJs ocupam, por exemplo, diversos cargos de gerências de departamentos do clube.

O Conselho aponta, por exemplo, que várias delas foram constituídas depois do início do trabalho de alguns profissionais, ainda sem contrato. De acordo com o relatório, a maior parte foram assinados exclusivamente pelo presidente Peres o que tornam os acordos “juridicamente inexistentes”.

Há possíveis casos pitorescos levantados como uma empresa editora de livros responsável por prestar assessoria em projetos para a presidência. Em um dos itens, questiona-se um contrato assinado em 14 de fevereiro de 2018 com uma empresa que, até a conclusão do relatório, em 28 de maio, oficialmente sequer existia.

No documento, os conselheiros também citam o pagamento de R$ 655 mil de salários a jogadores cedidos por empréstimo a outros clubes. São 12 atletas, ao todo, mas somente quatro deles têm seus vencimentos inteiramente pagos pelos novas equipes. Os nomes não são citados, mas a lista é encabeçada pelo volante Leandro Donizete, cedido ao América-MG, e do zagueiro Cleber Reis, atualmente no Paraná.

Em um dos casos, o grupo de conselheiros afirma que o clube arca com R$ 170 mil de um salário de R$ 250 mil, ou seja, fatia considerável do montante. No final do relatório, pedem para que empréstimos só sejam fechados em caso os interessados assumam o pagamento integral dos salários.

Outro gasto questionado é o pagamento de comissões a intermediários para as renovações dos contratos do volante Yuri, do meia Diogo Vitor, flagrado no exame antidoping, e do lateral direito Victor Ferraz. O Conselho diz que havia recomendado a diretoria a não realizar mais esse tipo de pagamento exceto por “justificativa plausível”.

O relatório cita que o clube reduziu em 11,4% o número de funcionários e em 8% o valor da folha mensal, saindo de 448 para 402.

A conclusão, no entanto, diz que a folha salarial apenas com o futebol supera R$ 9,5 milhões e que a redução não foi suficiente. Os conselheiros pedem por um “planejamento orçamentário com medidas emergenciais” e recomenda, “em caráter de urgência”, a proibição de novos funcionários administrativos ou PJs até o fim do ano.

Em março, a diretoria assinou uma carta de intenção com a TV Globo para um novo acordo nos direitos de transmissão em TV aberta, entre 2019 e 2024. O clube recebeu R$ 18 milhões líquidos de forma antecipada como bônus. A diretoria também já realizou empréstimos bancários, de R$ 6 milhões e R$ 25 milhões, para “pagamentos de compromissos com fornecedores, rescisões e direitos de imagem atrasados”.

A reunião terá a presença do presidente Peres, que antecipou o retorno de Londres, na Inglaterra, onde chefiava a delegação da seleção brasileira na preparação para a Copa do Mundo.