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Na base, Mantuan conquistou Loss por atitude durante bate-boca no vestiário

Mantuan e Osmar Loss estiveram juntos na base do Corinthians e conquistaram títulos - Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Mantuan e Osmar Loss estiveram juntos na base do Corinthians e conquistaram títulos Imagem: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

29/05/2018 04h00

A cena de Mantuan deixando o gramado do Beira-Rio aos prantos causou impacto no último domingo, ao fim da partida Internacional e Corinthians. Titular de Osmar Loss, o jovem atleta cometeu um erro crasso nos minutos finais do duelo marcado pela derrota corintiana. Novato aos olhos do torcedor, o jovem é um velho conhecido do treinador, que tem motivos para confiar em uma retomada do pupilo.

Técnico da base do Corinthians por quatro anos, Loss viu o jogador mostrar uma nova faceta ao fim da temporada 2016. Reservado e observador até então, Mantuan se tornou um dos líderes do time sub-20 após uma discussão entre os atletas alvinegros no vestiário, durante a Copa RS, em dezembro daquele ano. No meio do bate-boca, ele subiu o tom, acalmou os colegas e convenceu o treinador, que lhe deu a braçadeira. Na condição de capitão, ele levantou a taça da Copa São Paulo 2017, pouco tempo depois.

Antes da final do torneio, em um Pacaembu lotado, Mantuan voltou a mostrar o novo perfil. Depois de preleção de Loss, ele mais uma vez se manifestou positivamente no vestiário diante dos companheiros [assista ao vídeo abaixo].

"Não reconheci meu filho ali, não era ele. Era diferente do que era antes. O Loss transformou meu filho em homem, transformou em jogador profissional. Quem deu a oportunidade foi o Carille, mas quem construiu foi o Loss", disse Alexandre em entrevista ao UOL Esporte.

Paciência virou lema

A final da Copa São Paulo 2017 era o ápice da trajetória de Mantuan como jogador da base do Corinthians. Para viver tudo aquilo, foi preciso paciência. Mantuan nasceu em 1997, mesmo ano de Guilherme Arana, Maycon e Malcom, trio que ascendeu ao profissional bem antes.

Para assimilar isso e seguir focado no time sub-20 foi difícil. Arana, por exemplo, passou a treinar entre os profissionais em 2014. Em 2015, foi emprestado ao Atlético-PR e voltou ao Corinthians após a saída de Fábio Santos. Aos 18 anos, o lateral esquerdo sagrou-se campeão brasileiro como reserva de Uendel, até explodir de vez em 2017. Malcom, por sua vez, já virou titular em 2015 e logo foi para a Europa, caminho seguido por Arana este ano.

Mantuan e Arana - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Guilherme Arana chegou ao Corinthians depois de uma indicação de Guilherme Mantuan
Imagem: Acervo pessoal

Segundo pessoas próximas às histórias dos quatro atletas, Mantuan sempre foi visto com a maior aposta até o sub-15. Habilidoso e camisa 10 do Corinthians até o sub-17, ele sofreu com a questão física e acabou ficando atrás dos amigos - Arana e Mantuan começaram a jogar juntos aos seis anos, em São Bernardo do Campo, juntaram as famílias e se tornaram grandes amigos nos anos seguintes.

"Ele foi o último a subir, ele viu tudo acontecer com eles. Todos eles cresceram antes. A gente até achou que ele poderia parar de jogar bola, porque estava desanimado. Sofreu muito aos 16 anos, era bem magrinho. Começou a crescer depois e teve de correr atrás do prejuízo", contou Alexandre.

A ascensão passou pela força de vontade. "Ele treinaria o dobro se fosse preciso", disse uma pessoa ligada ao Corinthians que presenciou de perto a trajetória de Mantuan pela base.

Mantuan 2 - Rodrigo Gazzanel/Ag. Corinthians - Rodrigo Gazzanel/Ag. Corinthians
Mantuan antes de se juntar definitivamente aos profissionais: título como capitão
Imagem: Rodrigo Gazzanel/Ag. Corinthians

Loss também foi fundamental. O atual treinador do Corinthians chegou ao clube em 2013, quando Mantuan ainda tinha 15 anos. Na mão do técnico, o jogador virou volante e ainda demorou para emplacar. Ele ficou fora da Copinha 2015 e ganhou poucas chances na edição na temporada seguinte. Loss, então, começou a explorar a versatilidade do atleta.

No Brasileiro sub-17 de 2016, o ex-camisa 10 foi testado pela primeira vez como lateral direito após o titular Samuel se lesionar. Na Copa RS, meses depois, foi aproveitado nas duas posições, até se firmar como camisa 8 na Copinha. Mantuan foi alçado ao time profissional ao lado de Pedrinho e Carlinhos, após escolha de Carille, mas encontrou muita concorrência no setor de meio-campo - à época, o time tinha mais oito volantes no elenco. No começo de 2018, o treinador decidiu utilizá-lo na lateral, preterindo o reserva Léo Príncipe.

Família de esportistas tem projeto social

Mantuan é o filho mais velho do casal Alexandre e Márcia, que já jogaram handebol profissionalmente no passado. Além deles, os dois filhos mais novos também são ligados ao esporte. Gustavo, 17 anos, é jogador das categorias de base do Corinthians e, depois de uma grave lesão no joelho, está perto de ser aproveitado na equipe sub-20. Giulia, 15 anos, é nadadora do clube e já começa a acumular vitórias.

O cenário fez a família se mudar do ABC paulista para o Tatuapé, bem perto da sede social do Corinthians. Também na zona leste da capital paulista, no bairro da Vila Prudente, a família mantém um projeto social destinado a crianças carentes da região. Intitulado de "Amor é Tudo", ele foi idealizado e colocado em prática por Mantuan em 2016.

A ideia inicial era dar aulas gratuitas de futebol aos domingos em uma quadra do bairro, aproveitando material esportivo acumulado durante os anos como jogador. Mantuan se manteve ativo enquanto pôde, mas, devido à rotina como jogador do Corinthians, viu a família e a namorada se aproximarem do projeto social, que também inclui aulas de outros esportes e oficinas.

Mantuan 3 - Instagram/Reprodução - Instagram/Reprodução
Mantuan comanda um projeto social na Vila Prudente, zona leste de São Paulo
Imagem: Instagram/Reprodução