Comovido com morte, Arnaldo diz que Hawilla falava de tudo, menos corrupção
Íntimo de José Hawilla, o ex-árbitro Arnaldo Cézar Coelho ficou bastante comovido com a morte do empresário na sexta-feira (25) por complicações de uma pneumonia. Dono de uma empresa que vendia direitos de transmissão de eventos esportivos e explorava placas publicitárias em estádios de futebol, Hawilla, que morreu aos 74 anos, construiu um pequeno império atuando nos bastidores do esporte.
Em seu enterro, o comentarista da TV Globo falou sobre sua relação com o amigo, que ele conheceu quando ainda apitava e com quem conversava sobre tudo, menos sobre o “Fifagate”, o escândalo de corrupção de que J. Hawilla foi réu confesso e delator.
“Ele foi um desportista nato e uma pessoa muito alto astral, mas nos últimos dias estava muito abatido. Eu telefonava a ele e a gente jogava conversa fora, falava sobre tudo, menos sobre essas denúncias. Eu nunca comentava porque minha missão era levar alegria a ele, que estava doente, falar de coisa boa. Sobre essas coisas, eu só lia nos jornais”, disse Arnaldo, que é um ano mais velho que Hawilla e o conhecia desde que tinha 25.
Logo que se conheceram, Hawilla ofereceu a chave de seu apartamento no icônico Copan, em São Paulo, para que Arnaldo se hospedasse quando ele estivesse na capital paulista. A amizade entre os dois se estreitou quando ambos trabalharam na Globo – Hawilla foi repórter e apresentador da emissora – e permaneceu depois que ele comprou a “TV Tem”, afiliada da emissora no interior paulista.
Segundo um funcionário da Globo que estava no cemitério, Hawilla era figura frequente nas reuniões anuais de acionistas da emissora, nas quais se discutiam os rumos dos negócios.
Mesmo doente, Hawilla continuava acompanhando tudo o que acontecia na TV. Em conversas recentes com amigos, vinha defendendo o comentarista Juninho Pernambucano, que há duas semanas deixou o posto no SporTV depois de ter criticado no ar o trabalho de jornalistas. “Futebol é polêmica”, dizia Hawilla, contrariado com a saída de Juninho.
Outros executivos e contratados da emissora também compareceram ao velório - o apresentador Fausto Silva, por exemplo, mandou uma coroa de flores. Em 2013, depois de ser preso pela polícia americana, Hawilla delataria um esquema de corrupção no qual a Globo e outras empresas de televisão estariam envolvidas.
Nele, a Traffic comprava direitos de transmissão de federações como a CBF e a Conmebol a preços menores que os de mercado e depois os revendia a preços maiores às televisões (entre elas a Globo). Da diferença tirava-se a propina paga aos cartolas que comandavam a fraude. Essas propinas garantiam que a Traffic tivesse preferência na compra dos direitos.
Hawilla colaborou com a Justiça grampeando interlocutores, entre cartolas e executivos. No mesmo período, sua saúde começou a deteriorar – ele enfrentava um câncer. Arnaldo Cézar Coelho disse que acompanhou as sessões de quimioterapia que o amigo fez em Miami. O empresário foi proibido de deixar os Estados Unidos entre 2013 e 2018, mas a colaboração lhe deu a chance de voltar ao Brasil em fevereiro.
“Para ele foi um alento vir para São Paulo”, disse o ex-árbitro. “Ultimamente, ele ficava elogiando São Paulo, dizendo que aqui agora tem árvore, que é uma cidade bonita. E eu dizia: ‘Tá ficando louco?’ [risos] Mas acho que ele estava feliz por estar perto da família. Uma das coisas que mais o machucou foi não ter estado no casamento da filha.”
Hawilla deixou uma esposa e três filhos: Stefano, seu sucessor nos negócios, Renata e Rafael, além de seis netos. Depois de se casar no civil, Renata fez uma cerimônia religiosa no último sábado (19). Hawilla estava internado, combatendo a pneumonia, mas saiu do hospital para levar a filha ao altar. Logo depois da cerimônia, voltou a se internar. Ele morreria menos de uma semana depois.
Durante o velório, a família preferiu não dar declarações à imprensa.
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