Atlético-PR chega aos 94 anos: os 5 desafios para se fixar entre os grandes
O Atlético Paranaense completa 94 anos de existência nesta segunda-feira (26) em um momento de questionamento. Entre o clube que busca ressaltar sua modernidade e a dificuldade em conseguir resultados que a comprovem nacionalmente, além das posições políticas adotadas pela sua principal liderança, o presidente do Conselho, Mario Petraglia, o Furacão tem cinco desafios para o futuro.
O UOL Esporte ouviu dirigentes, ex-jogadores e especialistas e enumerou alguns desafios e buscou apontamentos para que o Atlético una discurso e prática.
A conquista de grandes títulos
Campeão Brasileiro em 2001, o Atlético teve a chance de repetir o feito em 2004, quando acabou com o vice-campeonato, e bateu na trave também na Libertadores em 2005 e na Copa do Brasil em 2013. Ídolo daquela conquista, o atacante Alex Mineiro acha que o momento de que títulos nacionais sejam frequentes ainda vai chegar. “Eu vejo um Atlético caminhando, acho que o pessoal tá fazendo um trabalho para estruturar o clube e conquistar mais títulos lá na frente. Eu tive a oportunidade de fazer uma visita lá e o clube vem crescendo bastante. Falta agora só o investimento no futebol mesmo, em termos de contratações, para deslanchar e conseguir mais títulos nacionais. A estrutura tá perfeita para os jogadores”, contou.
Alex também vê que é preciso que a mentalidade do clube seja programada para que os jogadores queiram ser campeões de tudo o que o Atlético disputar. “É diferente em Palmeiras e Cruzeiro, são clubes já programados para conquistas. O Atlético busca nesse momento outras opções, não sei dizer exatamente, mas entre Palmeiras e Cruzeiro, são clubes já programados para conquistas de grandes torneios, há um investimento maior em termos de contratações, já pensado para a temporada seguinte em busca de títulos, principalmente da Libertadores.”
Presidente campeão brasileiro, o empresário Marcos Coelho pede o mesmo que Alex Mineiro: “O que nos fará vencer novamente um grande título é ter a mesma ousadia que nós tivemos até agora para construir o nosso patrimônio, no futebol. Apenas com inovação, ousadia de investimentos no futebol, nos fará ter novamente um elenco capaz de vencer grandes títulos. Mas segue um pequeno alerta: é preciso que o Atlético se distancie dos conflitos desnecessários. A imagem do Atlético às vezes fica um pouco chamuscada por que nós estamos no centro de alguns conflitos que não nos trazem nada como instituição, como o conflito permanente que o Atlético tem com parte da sua torcida e com parte da imprensa. Isso não é bom para a imagem do Atlético e não sendo bom, não nos traz nenhuma vantagem.”
Clube de massa: a ausência da torcida nos jogos
O ano de 2018 marca a pior ocupação média da história da Arena da Baixada. Inaugurada em 1999, a Arena chegou a ter ocupação média de 56% de seus lugares entre 2008 e 2009, anos em que o clube não teve um bom desempenho em campo, mas trabalhava com outra política de ingressos. Nesta temporada, a ocupação média é de 15% das 42.370 cadeiras disponíveis, com uma média de público de 6.516 pessoas por jogo.
O número mostra uma evasão média de quase 10 mil pessoas em relação à melhor média desde a reabertura do estádio, reformado para a Copa, em 2014: 16.831 e a ocupação de 40% dos lugares. A evasão encontra explicações em três pilares: a exigência da biometria para a entrada de torcedores no estádio, que restringiu o uso das cadeiras dos sócios – os que tinham mais de uma em seu nome – para apenas um cadastro. Hoje, o detentor da cadeira não pode mais levar um convidado aleatório nos jogos em que desejar. Há também um racha político muito claro entre a principal organizada do clube, Os Fanáticos, e a diretoria, o que tem afastado torcedores da Arena. E, a despeito da campanha invicta no Estadual, o Atlético manda a campo uma equipe toda secundária no Paranaense, o que diminui a atratividade do público.
Para o Paranaense, porém, o clube reduziu o preço dos ingressos, cobrando R$ 60 o ingresso cheio nos jogos do Estadual. Na Copa do Brasil, no Brasileiro e na Sul-Americana, o valor será de R$ 150. Em nota publicada recentemente, a diretoria defendeu sua política com o público e afirmou que “este problema não atinge apenas o Rubro-Negro paranaense. É um mal que assola o futebol brasileiro em geral, que há décadas convive com baixíssimas médias de público. A afirmação de que as baixas bilheterias registradas nos últimos meses são causadas pelas políticas adotadas pelo Clube quanto à biometria ou à torcida organizada é desmentida pelos números”, enumerando as médias de público, sem considerar a ocupação média da nova Arena.
A imagem nacional do Atlético
O clube projeta chegar a conquista do Mundial de Clubes até 2024, quando completará 100 anos. Até lá, um desafio é ser reconhecido pelo restante do País como um dos grandes do Brasil, furando a bolha do que se convencionou chamar de “G12” – os quatro clubes grandes de São Paulo e do Rio mais os dois de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Desde a criação do novo ranking da CBF em 2012, o Atlético esteve à frente de pelo menos um dos 12 em todas as temporadas desde 2014. Foi o 10º em 2014 e em 15, 12º em 16, 11º em 17 e 9º em 2018 – o ranking abre a temporada para definir vagas na Copa do Brasil. No período, entretanto, não conquistou nenhum título nacional e apenas um estadual, em 2016, mas esteve por duas vezes (2014 e 2017) na Copa Libertadores da América.
Para o comentarista Mauro Cézar Pereira, da ESPN Brasil, o que falta para o reconhecimento nacional é fazer valer sua condição de clube de massa. “Estrutura e organização, finanças sob controle. O clube já obteve respeito geral por tais características. Falta abrir as portas para sua gente. O Atlético tem origem popular e sempre foi forte com o apoio da torcida. É inimaginável o Furacão campeão brasileiro em 2001 sem o grito dos rubro-negros. Mas o clube está contaminado pela onda elitizadora que atinge o futebol brasileiro. E precisa encontrar a cura para esse mal, só assim será mais forte é reconhecido como grande.”
A renovação das lideranças
É quase impossível desassociar o nome do Atlético de seu principal dirigente, Mario Celso Petraglia. Para o consultor Amir Somoggi, especialista em administração e marketing, “O Atlético é um clube muito diferenciado em relação ao que temos no Brasil. Tem 1% da torcida brasileira e torcedores mais ativos do que a maioria. A estrutura é muito sólida. Por outro lado, há uma interdependência da gestão Petraglia, que é o homem que transformou um clube médio em uma potência, mesmo que não o seja em termos de mídia, mas é uma potência em produção. Mas tudo na vida tem uma perenidade. E o clube não se preparou, aos 94 anos, para caminhar sem ele? Como ainda depende tanto da imagem e da presença dele, que é fundamental para o sucessos do clube?”, ponderou.
Somoggi vai além: “Isso é muito ruim, não por ser ele (Petraglia), mas por que em qualquer circunstância é ruim, como se o Corinthians fosse só o Andrés Sanchez, ou o Santos fosse o Marcelo Teixeira. Um desafio para o futuro é montar uma estrutura empresarial que conte com profissionais melhor preparados no mercado. O marketing do clube é fraco, está tudo muito ligado às decisões do Petraglia, nem sempre com a cabeça, muitas vezes com o fígado. É como se o Barcelona dependesse só de uma pessoa. Eu gosto do Petraglia, mas ele já é um senhor e uma hora vai abandonar o clube.”
O consultor também enxerga outro desafio: “A coisa mais legal do Atlético é ser um modelo bem sucedido em relação ao eixo Rio-São Paulo e na minha opinião ele sobra em relação a muitos destes clubes do ponto de vista gerencial. Um outro desafio é quebrar essa barreira dos clubes que são de fora de Rio e São Paulo em imagem. É um clube muito mais eficiente hoje que o Botafogo, por exemplo.”
Qual a nova identidade do clube?
O Atlético vive um conflito de identidade junto à sua torcida. Outrora conhecido por ser um clube de massa, com arquibancadas lotadas e torcida vibrante mesmo sem grandes conquistas, o clube vê hoje um racha entre seus seguidores, com uma média baixa de público – nenhum jogo em 2018 passou dos 10 mil pagantes na Arena – e constantes reclamações sobre as restrições impostas pela diretoria.
Para Julio Gomes, blogueiro do UOL Esporte, a receita para ser grande é simples: “Para o Atlético se colocar no grupo de principais clubes do país, ele precisa de uma dessas duas coisas (de preferência, as duas juntas). Ganhar coisas grandes. Vários Brasileiros, Libertadores, Mundiais. Ou então criar um modelo de jogo, uma identidade de futebol, coisa que todos os clubes "grandes" perderam ao longo dos anos. Se este modelo for atrativo e colecionar fãs pelo Brasil, o status pode mudar. Isso, logicamente, leva tempo.”
Carneiro Neto, jornalista e narrador esportivo paranaense, e que foi a principal voz durante anos em jogos do Furacão, enxerga um distanciamento entre os anseios da torcida e os planos da diretoria: “O Atlético vive uma quadra interessante em sua longa história. A diretoria construiu muito, entre um CT espetacular e duas arenas em apenas 15 anos, e se distanciou da torcida. Hoje não existe o esperado calendário de shows no palco da Arena e nem a tradicional festa da torcida nos jogos. O número de sócios caiu pela metade e tecnicamente o time continua fraco diante da estrutura do clube. A divisão política também é negativa e claramente observa-se fadiga de material na atual diretoria e falta de liderança na oposição.”
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