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Aos 34, Edno corta refrigerante e marca em Casillas na estreia em Portugal

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, em Lisboa (POR)

30/01/2018 04h00

Com poucos minutos em campo, em sua estreia, Edno viu falta ser cobrada da intermediária para a esquerda e cruzamento na área para que ele cabeceasse, sem chance, para o espanhol Iker Casillas, lenda do Real Madrid, e diminuísse na derrota por 2 a 1 do Moreirense, sua nova equipe, para o Porto, pela Taça de Portugal. Na comemoração, apenas correu com os dedos para o céu e agradeceu.

Aos 34 anos, o atacante não esperava mais por uma nova chance no futebol europeu. O convite partiu do técnico Sérgio Vieira, com quem trabalhou no Brasil. Ele tenta seguir à risca um conselho que ouviu do craque Evair, ex-Palmeiras e outros clubes.

“Nessa altura da vida, acreditava que voltaria para o exterior somente para passear com a família ou vir para um Emirados, China ou Japão, mas, para a Europa, muito difícil um time contratar na minha idade. Aos olhos humanos, seria impossível. Mas fui abençoado com esse desafio”, conta, em entrevista ao UOL Esporte.

“Sou um cara que sempre me cuido, tem um monte de exemplo, idade não quer dizer mais nada hoje em dia. O que importa é se condicionar e preparar bem. Antes, paravam com 30 e poucos anos, futebol mudou, ficou mais moderno e agora cada jogador tem fisioterapeuta e outros profissionais. Me miro no Zé Roberto, ainda tenho muita lenha para queimar”, prosseguiu.

“Quando ainda estava no Brasil, fui ao programa do Neto (Os Donos da Bola), falei um pouco com o Evair e ele me deu um conselho que carrego comigo: ‘cara, não se importe com o que os outros digam. 34, 35, 38 anos.... Vá até quando o seu físico aguentar, até onde puder, não dê importância ao que outros falam’, me disse. Senti nele a frustração de ter parado mais cedo do que de repente poderia ter ido. Portanto, eu vou dar seguimento na minha carreira até quando puder”, completou.

Ex-Corinthians, Botafogo e outros 23 times, Edno teve de correr contra o tempo para superar as burocracias e deixar a sua marca contra Casillas logo em seu início em Portugal.

Depois da proposta do Moreirense, rescindiu com o América-MG, se deu conta que o seu passaporte estava vencido, se virou para renová-lo, abortou os planos de férias com a família no Beto Carrero, parque no interior de Santa Catarina, e fez uma maratona por dentista e outros médicos para se apresentar na véspera do Réveillon, em 29 de dezembro.

Nada de Coca Cola mais

Edno desembarcou ao lado de Matheus Reis, emprestado pelo São Paulo, e tem a companhia de outros nomes conhecidos com Felipe Garcia, ex-Santos, e Bruno Ramires, ex-Cruzeiro. É o jogador mais velho do elenco, mas, como recomendado por Evair, não se importa com esse detalhe.

Para isso, mudou seus hábitos e, entre outras coisas, eliminou o refrigerante de seu dia a dia.

“Sempre treinei intenso toda a vida, mas meu biótipo não é o do Zé (Roberto), cada atleta tem um. Sempre fui um cara de muita massa muscular, tenho me cuidado, não comendo chocolate, bolacha, essas coisas que engordam. O refrigerante, por exemplo, já não bebo faz muito tempo, um ano e pouco. Só venho tomando água, água gaseificada com limão e sucos naturais. O cuidado é grande nessa parte da alimentação”, revela.

Com experiência europeia anterior no PSV, da Holanda, Plzen, da República Tcheca, e Wisla Krakow, da Polônia, Edno afirma estar realizando um objetivo no novo país.

“Estou cumprindo um sonho de vir jogar em Portugal, nunca tinha visitado, salvo em conexões, mas está sendo uma experiência muito boa, estou gostando muito. Quero dar sequência na carreira e poder permanecer no clube”, diz o veterano, cujo contrato de seis meses no Moreirense é renovável por mais uma temporada.

“34 anos na Europa definitivamente não é para qualquer atleta”, conclui.

Casillas há de concordar com isso.