"Pacotão" de jogadores sauditas causa gafe e polêmica no futebol espanhol
A semana no futebol espanhol começou com uma notícia, no mínimo, surpreendente. No domingo (21), de uma só vez, sete clubes de primeira e segunda divisão anunciaram - ao mesmo tempo - as contratações por empréstimo de nove jogadores da Arábia Saudita.
O grupo tem desde atletas da seleção até juvenis, e a chegada do "pacotão" colocou uma pergunta na cabeça de torcedores e da imprensa: o que levou tantos clubes a contratarem tantos sauditas, ao mesmo tempo?
A resposta é simples: dinheiro. As contratações fazem parte de um acordo da Liga Profissional de Futebol com o governo da Arábia Saudita, por meio do Ministério dos Esportes e da federação saudita de futebol. Um convênio que tem como objetivo dar experiência aos jogadores do país do Oriente Médio, que neste ano volta a disputar uma Copa do Mundo após 12 anos de ausência.
Em troca de abrir suas portas, os clubes espanhóis receberão prêmios que podem chegar a 1 milhão de euros (R$ 3,9 milhões na cotação do dia). Os salários dos jogadores serão inteiramente pagos pelo governo do país do Oriente Médio.
O acordo entre a Liga e o governo árabe foi assinado em outubro passado. A proposta de receber jogadores foi apresentada aos 42 clubes das duas principais divisões do país, incluindo Barcelona e Real Madrid. Destes, sete - Leganés, Villarreal e Levante da primeira divisão; Numancia, Rayo Vallecano, Sporting de Gijón e Valladolid da segunda - aceitaram a proposta.
Nos meses seguintes, os times foram convidados a viajar à Arábia Saudita para assistir a jogos e analisar atletas. Uma parte foi a Portugal, na concentração da seleção saudita antes de um amistoso contra os lusitanos, no mês de novembro. Depois de um breve período de observação, as equipes teriam de repassar à Liga os nomes que mais agradavam. A Liga enviaria a lista ao governo saudita, que faria o restante do trabalho, possibilitando a chegada dos jogadores.
Reclamações e gafe
Na prática, a coisa foi bem diferente. A diretoria do Leganés, por exemplo, já reclamou que os jogadores que chegaram não haviam passado pelo crivo do clube. O Sporting de Gijón, por sua vez, cometeu uma gafe: anunciou em seu Twitter a contratação de Alshabab Abdullah, misturando os nomes do jogador Adbullah Al Hamdan ao de seu ex-clube, o Alshabab Riyadh.
A notícia surpreendeu porque o acordo entre a Liga e os sauditas não havia sido anunciado em nenhum momento. As reações foram imediatas. Em nota oficial, a Associação de Jogadores da Espanha (AFE) criticou duramente a Liga: "Esse acordo impede a formação de jogadores nas categorias de base e seu desenvolvimento. Esse modelo de negócio prioriza o aspecto econômico em detrimento do esportivo, sacrificando a essência do esporte".
Até mesmo a Real Federação Espanhola de Futebol - entidade máxima do esporte no país - está incomodada. Os advogados da federação cogitam a possibilidade de entrar com um processo na Fifa. A alegação seria de que a Liga tem como papel apenas organizar os campeonatos de primeira e segunda divisão, sem se envolver com outras questões.
A Liga, por sua vez, alega que, com o acordo "ampliará a audiência no mercado asiático". Esportivamente, o argumento é que de os jogadores que chegam aos times espanhóis são de alto nível - três deles devem disputar a Copa do Mundo da Rússia: Fahad Al Muwallad, do Levante; Salem Al Dawsari, do Villarreal; e Yahia Al Shehri, do Leganés.
Para além das questões econômicas e esportivas, existe ainda um debate político sobre a parceria da Liga com os sauditas. Nos últimos meses, o governo espanhol tem sido alvo de críticas da imprensa e de ONGs por suas relações comerciais com a Arábia Saudita, especialmente a exportação de armas ao país. Nos últimos quatro anos, o volume aumentou 30 vezes.
A relação política entre os dois países ficou ainda mais em evidência - e ainda mais sensível - após os atentados em Barcelona e Cambrils, em 17 de agosto do ano passado, que mataram 16 pessoas e deixaram 152 feridos. A Arábia Saudita é acusada pela Anistia Internacional de cometer graves violações no direito internacional no Iêmen, além de serem acusados de financiar o Estado Islâmico.
Quem são:
Primeira Divisão
Villarreal:
Salem Al Dawsari (atacante, 26 anos) - 17 jogos e 2 gols pela seleção
Jabor Issa (meia, 20 anos)
Leganés:
Yahia Al Shehri (meia-atacante, 27 anos) - 33 jogos e 5 gols pela seleção
Marwan Othmnan (atacante, 19 anos)
Levante:
Fahad Al Muwallad (atacante, 23 anos) - 24 jogos e 5 gols pela seleção
Segunda Divisão
Numancia:
Ali Al Namer (meio-campista, 26 anos)
Rayo Vallecano:
Abdulmajeed Al Sualihim (meio-campista, 23 anos)
Sporting:
Abdullah Al Hamdan (atacante, 18 anos)
Valladolid:
Nooh Al Mousa (meio-campista, 24 anos)
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