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Associação de familiares da Chape pede esclarecimento à Anac sobre empresa

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

19/12/2017 22h03

O UOL Esporte apurou que a AFAV-C, Associação dos Familiares e Vítimas do Voo da Chapecoense, entrou com um ofício na Anac nesta terça-feira (19) para exigir dados da AeroMartel, empresa que representou a LaMia no Brasil. A empresa pertence ao ex-presidente da Anac, Coronel Eduardo Artur Rodrigues da Silva, que também teve uma passagem-relâmpago pela direção de operações dos Correios.

Segundo os familiares das vítimas do voo da Chapecoense, a descoberta pode mudar o rumo das disputas judiciais por seguro e a responsabilização pelas mortes das 71 pessoas em novembro de 2016, no acidente com a companhia boliviana no morro Cerro Gordo, próximo a Medellín, Colômbia.

O Coronel e sua sócia, Tatiana Rêgo Silva, representaram a LaMia nos pedidos para que a agência pudesse operar no Brasil, negados pela Anac. Uma das questões mais relevantes é a apresentação da apólice do seguro para as vítimas, motivo de disputa judicial internacional. A AFAV-C quer descobrir as ligações reais da empresa brasileira com a LaMia e quais os documentos ofertados à Anac para o pedido de operações em território brasileiro.

“Existem coisas que não estão claras em toda essa história. A LaMia deveria vir para o Brasil e buscar os jogadores e levar para lá. A Anac não deixou, dizendo que ela não teria permissão para isso. Aí vem a BOA (Boliviana de Aviação) que faz o primeiro trecho até Santa Cruz de La Sierra. Queremos fechar o circuito de responsabilidades”, disse o advogado Fernando Lottemberg, que citou um novo elemento: a companhia que fez o primeiro trecho era uma representante da LaMia num acordo aéreo costurado pela AeroMartel.

“Queremos saber como tudo se deu. Quem contratou quem, quais as razões da negativa. A gente quer primeiro a informação. Não vamos ser precipitados, mas é importante saber dele qual o papel dele, se é simplesmente um agenciador ou tem alguma responsabilidade”, explicou Lottemberg sobre o envolvimento do Coronel Eduardo Silva, que, segundo a AFAV-C, foi procurado antes da exigência legal feita via Anac e “não foi muito cooperativo”. “É uma cadeia de responsabilidades. A gente está pensando em quem pode ser o responsável por indenizar as famílias das vítimas. Tudo é nebuloso. Você tem a pessoa que autorizou a decolar, o dono da empresa, o piloto... se a LaMia tem uma representação aqui, pode ser também responsável.”

Problemas éticos derrubaram o Coronel dos Correios

O Coronel Eduardo Artur Rodrigues da Silva foi demitido da direção de operações dos Correios em 2010 após apenas dois meses de ser empossado, por conta de um conflito de interesses. Acionista de uma empresa de transportes de cargas aéreas, o Coronel assumiu uma pasta que administrava um acordo de R$ 60 milhões em serviços com a própria empresa da qual detinha ações. Acabou afastado do cargo, mas seguiu no ramo aeronáutico.

A reportagem entrou em contato com o Coronel e a diretoria jurídica da Aero Martel para falar sobre a ligação da empresa com a LaMia, e a empresa respondeu: "Em resposta a sua indagação, informamos que a Martel foi contratada pela Lamia para solicitar autorização de voos internacionais perante a Anac, nos termos da legislação vigente (IMA-58-44). Ressaltamos que não temos nenhuma outra informação acerca da empresa, além das contidas na documentação apesentada às autoridades aeronáuticas do Brasil. Como todo o país, estamos consternados com o ocorrido", completou.