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Cristiane diz que não defende mais a seleção após demissão de Emily Lima

Do UOL, em São Paulo

27/09/2017 19h09

A atacante Cristiane, estrela da seleção brasileira feminina de futebol, anunciou nesta quarta-feira (27) que deixará de defender a equipe nacional após a demissão da treinadora Emily Lima. Dispensada do cargo na última sexta-feira (22), a técnica tinha o apoio das jogadoras apesar da má fase vivida, mas não o respaldo do coordenador Marco Aurélio Cunha.

A atacante de 32 anos defende atualmente o Changchun Yatai, da China, após uma passagem pelo PSG. Ela explicou sua decisão em uma série de vídeos publicados no Instagram.

"Acho que é a decisão mais difícil de toda a minha vida profissional. Pensei durante todos esses dias, não me manifestei até agora. Várias pessoas cobrando manifestações das atletas, que falasse, se posicionassem. Não disse nada até porque já tinha minha decisão tomada. Falei com família, amigos. Ouvi vários pedidos por parte deles para que eu pensasse, inclusive das meninas, atletas. Mas eu não vejo outra alternativa por conta dos acontecimentos, e por conta coisas que eu já não tenho mais forças para aguentar. Aguentei por 17 anos, mas não tenho mais", afirmou Cristiane. "Hoje se encerra meu ciclo na seleção brasileira."

Cristiane foi a principal parceira de Marta na seleção brasileira, a qual ela defende desde 2003. A atacante conquistou duas medalhas de prata olímpicas, em Atenas-2004 e Pequim-2008, e dois ouros do Pan-Americano, no Rio-2007 e Toronto-2015.

"Muito difícil saber que eu não vou jogar o meu último pan-americano, minha última copa américa, minha última olimpíada, copa do mundo. Era o que eu sempre quis, o que eu sempre quis. Colocar a medalha de ouro no peito, trazer o troféu de campeão mundial. E ajudar a desenvolver a modalidade de alguma maneira", declarou a atacante.

Cristiane relatou a frustração com a lesão que a deixou de fora dos Jogos Olímpicos, a qual fez com que ela pensasse em abandonar a seleção logo após o torneio. Um pedido de Emily Lima, no entanto, fez com que a atacante mudasse de ideia e voltasse a vestir a camisa amarela do Brasil.

“Simplesmente tiraram essa comissão em pouquíssimo tempo. Onde todas as atletas estavam gostando do trabalho. E sem ninguém entender. Todas as outras comissões tiveram muito tempo de trabalho, seguiram o ciclo todo de trabalho e essa não teve sequer essa oportunidade. Por que era mulher?”, questionou.

Cristiane explicou que sua aposentadoria da seleção não tinha relação com o retorno de Vadão, técnico que foi substituído por Emily após a Olimpíada e chamado para o lugar dela nesta semana. A atacante disse ter conversado com o treinador, que pediu que a atacante mudasse de ideia, sem sucesso.

Para a jogadora, o problema não era a comissão técnica, mas quem estava acima dela, em especial o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. Cristiane fez um apelo ao cartola. “Faça o senhor uma reunião com as atletas, o senhor e somente as atletas. Escute o que elas têm para pedir. Nós temos tantas ideias boas e positivas para que a modalidade possa andar e crescer ainda mais. Por isso que todos os outros países estão desenvolvendo”, pediu.

A atacante finalizou seu discurso com um pedido às atletas mais jovens, que mantenham a luta por mais respeito na modalidade dentro do Brasil, e agradeceu às jogadoras e profissionais com quem ela trabalhou em sua longa passagem pela seleção brasileira.