Time já emprestou todo seu elenco e técnico em busca de acesso. E falhou
Emprestar de uma só vez todo seu elenco e comissão técnica para um time de divisão inferior parece algo impensável, mas aconteceu no futebol argentino. E não faz tanto tempo assim. No fim da década de 1980, o tradicional Racing, de Avellaneda, cedeu sua equipe inteira porque precisava de dinheiro e queria manter seus jogadores em atividade.
Depois de conquistar o acesso à elite no fim de 1985, o Racing ficaria seis meses sem disputar o campeonato, pausa imposta pela federação argentina para adaptar seu calendário ao europeu. Assim, o clube precisava pagar os salários de seus jogadores e as demais contas e não conseguiria isso apenas com amistosos.
Foi então que em março de 1986, durante uma excursão para disputar algumas partidas no interior, o presidente do Racing recebeu uma proposta do Argentino de Mendoza: por US$ 100 mil, o clube de Avellaneda emprestaria todo seu elenco e comissão técnica para a disputa do equivalente à terceira divisão.
Surpreendentemente, a oferta foi aceita. Assim, de abril a junho de 1986, o Racing atuou como Argentino de Mendoza em busca do acesso à segunda divisão, justamente de onde havia acabado de sair.
A dinâmica era curiosa. Os jogadores treinavam de segunda a quinta-feira em Buenos Aires. Na sexta, viajavam para Mendoza e se concentravam. No domingo, depois das partidas, retornavam à capital.
A aposta, ousada, parecia um tiro certeiro entre os dirigentes do Argentino de Mendoza. Na prática, no entanto, houve consequências não tão positivas. As demais equipes do campeonato se posicionaram fortemente contra a iniciativa. E isso se refletia em campo. A agressividade dos adversários muitas vezes se transformava em violência, a ponto de jogadores do Racing saírem machucados.
As torcidas também se revoltaram, incluindo parte dos fãs do próprio Argentino, alimentando uma rivalidade entre times do interior e da capital argentina. Por isso, nos últimos jogos do campeonato, alguns atletas do Racing se recusaram a entrar em campo, e a equipe de Mendoza precisou usar os poucos jogadores que realmente eram seus.
O pior de tudo foi que o resultado não saiu como esperado. Turbinado pelo Racing, o Argentino de Mendoza terminou na quinta colocação e ficou a uma posição do desejado acesso.
“A verdade é que na época não paramos para refletir como era uma situação estranha. Mas ou fazíamos isso ou ficávamos cinco meses treinando, sem jogar e sem receber. Além disso, chegamos com mais ritmo no próximo campeonato”, recordou ao “La Nación” Néstor Fabbri, contratado pelo Racing, mas cuja estreia foi pelo Argentino. Culpa do aluguel em massa.
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