Driblador, pintor e maluco: goleiro dividiu opiniões e foi preso por roubo

Gênio para uns, palhaço para outros. Não havia meio-termo em relação a esse goleiro. A competência nas defesas era clara, mas muitas vezes ficavam em segundo plano diante do jeito maluco de jogar de Petar Borota, um goleiro sérvio (e pintor nas horas vagas) que dava show em campo, para alegria e desespero da torcida. Mas uma prisão depois da aposentadoria e uma doença misteriosa o fizeram morrer triste e praticamente sozinho.
Borota gostava de dar show. Tanto no Partizan Belgrado quanto no Chelsea, fazia questão de aprontar. Cortar cruzamentos com a cabeça e sair da área para driblar os adversários eram atos frequentes em seu jogo.
“Meu estilo de jogo não é nenhuma brincadeira. Não estou louco”, dizia ele. Mas era difícil convencer a torcida disso. No Partizan Belgrado, por exemplo, tornou-se titular na temporada 1977-78 e foi campeão nacional tendo sofrido apenas 19 gols em 34 jogos.
Na temporada seguinte, na primeira rodada da então Copa da Europa, Borota cometeu um erro gravíssimo diante do Dynamo Dresden. Depois de defender um cruzamento forte da direita, levantou-se com a bola na mão e decidiu colocá-la no gramado para sair jogando. Então, o rápido atacante Dorner se antecipou e empurrou a bola para o gol. O Partizan perdeu a partida e foi eliminado.
Dois meses depois, com o lance ainda fresco na memória dos torcedores, ele repetiu a falha, desta vez em clássico contra o Estrela Vermelha. O erro culminou no primeiro gol dos rivais, que venceram por 3 a 1. Há versão dizendo que um adversário o convenceu de que a partida estava parada e há versão de que um apito na arquibancada o confundira.
No entanto, as duas falhas quase sequenciais custaram sua permanência no clube, que o negociou com o Chelsea em 1979. Longe de ser uma potência na época, o time londrino brigava contra o rebaixamento (e caiu) no ano em que Borota chegou. Mesmo assim, a torcida o acolheu bem.
Uma boa estreia diante do poderoso Liverpool e seu estilo performático no gol cativaram os torcedores, acostumados a sofrer com um futebol sem graça e de pouca qualidade. Maluco em campo ou não, Borota tinha personalidade, tanto que chegou à seleção da extinta Iugoslávia. Fez só quatro jogos, mas era convocado com frequência.
Na Inglaterra, o goleiro deu sequência a suas loucuras. Ir à área do adversário para cabecear não acontecia só em momentos de desespero. Certa vez, saiu com ímpeto de sua área para afastar uma bola com os pés, mas em vez disso deu um toque de calcanhar. E argumentou por que fez isso: “para animar um pouco a torcida”.
Sua titularidade e sua carreira no Chelsea duraram até 1982, quando perdeu espaço para um jovem de 17 anos, já que o novo treinador não confiava nada na ousadia de Borota. Ele ainda perambulou pela Inglaterra e por Portugal, mas fez poucos jogos até se aposentar.
Aposentadoria misteriosa
Seu destino depois disso foi misterioso. Sabia-se apenas que continuava pintando, uma de suas paixões desde a adolescência. E foi por culpa de quadros que ele acabou preso. Em 1994, foi condenado a seis meses de prisão por roubar e contrabandear quadros de um pintor famoso. Ele diz que tudo não passou de um mal-entendido, mas a Justiça não se convenceu.
Depois de cumprir a pena, foi morar na Itália graças a ajuda de dois ex-companheiros. Uma doença grave, porém, fez com que ele se afastasse até dos poucos amigos e até da família. Petar Borota morreu em 2010, triste, segundo seus conhecidos. Sua imagem em campo, por outro lado, era exatamente oposta a isso.
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