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Lateral do Botafogo foi pedreiro e pedalou 60km por dia para virar jogador

Gilson largou futebol para ajudar em casa e virou pedreiro. Mas por pouco tempo - Vitor Silva/SSPress/Botafogo
Gilson largou futebol para ajudar em casa e virou pedreiro. Mas por pouco tempo Imagem: Vitor Silva/SSPress/Botafogo

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/07/2017 04h00

Hoje ele é um dos homens de confiança de Jair ventura no Botafogo. Mesmo sem ser titular, Gilson desempenha papel importante no atual elenco. Prova disso é que ele lidera o ranking de assistência na temporada, com cinco, ao lado de João Paulo e Guilherme. Para ocupar esse status, no entanto, ele teve que virar muito cimento. Literalmente.

As histórias são do começo da carreira, quando Gilson sofria com dificuldades financeiras e ainda não recebia ajuda de custo do clube que o formou, o Cene, de Mato Grosso do Sul. A família precisava de ajuda e ele largou o futebol para ajudar o pai, pedreiro. Além desse emprego, trabalhou também como pintor e entregador de sacolas em um supermercado da cidade. Para a felicidade de Gilson, a situação foi apenas temporária.

“Tinha de trabalhar para ajudar em casa e virei ajudante de pedreiro. Meu pai era o responsável e eu ajudava ele. Mas logo depois os avós por parte de mãe nos ajudaram e eu pude voltar a focar no meu sonho de ser jogador de futebol. Eles sabiam que era meu sonho, minha paixão. Graças a eles e a Deus voltei a jogar e minha carreira deslanchou”, disse o lateral esquerdo do Botafogo.

A necessidade de trabalhar com apenas 15 anos não foi a única dificuldade enfrentada por Gilson. Após retomar o sonho de jogar futebol, o lateral esquerdo teve de se virar como pôde para ir aos treinamentos da equipe. Ele morava distante do campo e nem sempre tinha dinheiro para a passagem. A solução? Andar de bicicleta, cerca de 60km por dia, quando ficava sem condução.

“Morava longe de onde treinava. O início foi bem complicado, como a maioria dos jogadores. Morava bem distante e as vezes não tinha dinheiro da condução, muitas vezes tive de ir aos treinos de bicicleta. Eram uns 30km para chegar no treino. E sabe como é lateral, né? Corre para caramba. E depois ainda tinha a maratona do retorno”, lembra Gilson.

“Voltar para casa após o treino era complicadíssimo. Tomava um banho, dava uma respirada, mas quando pensava que tinha de retornar dava até aquele desânimo. Mas graças a Deus e familiares, não me deixaram desistir”, completou o lateral esquerdo.

Gilson em momento de descontração no treinamento do Botafogo - Vitor Silva/SSPress/Botafogo - Vitor Silva/SSPress/Botafogo
Imagem: Vitor Silva/SSPress/Botafogo

As dificuldades vividas fizeram de Gilson uma pessoa que viveu os dois lados da moeda. Se no início de carreira teve de retirar algumas pedras do caminho, hoje a situação é diferente. Antes de chegar ao Botafogo, o jogador passou por outros grandes clubes como Grêmio e Cruzeiro.

“Com certeza faz a gente uma pessoa melhor. As dificuldades fazem você crescer. Sabe o quanto é difícil conquistar as coisas. Isso faz você dar muito valor quando alcança seus objetivos. Me fez evoluir até como profissional”, afirmou.

Apesar de reserva, Gilson é um dos jogadores que mais atuou na temporada. Ele tem a confiança de Jair para jogar tanto na lateral esquerda, sua posição de origem, como no meio de campo, de extremo. Ele já soma 22 jogos na temporada, contra 34 de Victor Luis. Em assistências, o reserva tem desempenho melhor que o titular: cinco contra zero. No Carioca foi líder da equipe em desarmes. Números que corroboram a confiança do treinador.

“Feliz de poder ajudar de alguma forma. Jair me utiliza mais na frente ou na minha posição também. Tenho realizado bons jogos. Sempre com objetivo de melhorar e ajudar os companheiros”, completou.

Gilson ainda tem um desejo para realizar. Chegou ao Botafogo nesta temporada, mas se identificou com espírito de guerreiro que o clube tem demonstrado nas competições. Para o lateral esquerdo, o Alvinegro merece ser coroado com um título.

“Estamos em três competições importantíssimas. Bem na Libertadores, onde ganhamos fora de casa. Estamos perto do G-6 no Brasileiro. E na Copa do Brasil perdemos a primeira partida [1 a 0], mas temos total condições de reverter em casa diante do Atlético-MG. Estamos confiantes que podemos chegar às semifinais da competição. Time se dedica muito e estamos focados em conquistar título para o Botafogo”, finalizou.