Argentina supera sufoco em sua terra natal e vira heroína do Santos
Na beira do campo, Sole Jaimes abre o sorriso e beija o troféu de campeã brasileira pelo Santos. Mas nem dá para curtir o momento e logo ela é interrompida por um batalhão de fotógrafos e jornalistas. A argentina é de longe a jogadora mais requisitada e até perdeu uma parte da volta olímpica com pedidos de fotos e entrevistas. Mas ela nem se importa, só quer comemorar a conquista do Brasileirão.
De quebra, a estrela do time se consagrou como a artilheira do torneio com 18 gols em 19 partidas e ainda deixou sua marca nos dois jogos da decisão. A realidade é bem diferente de quando ela olha para trás e vê o quanto a vida mudou após anos de dificuldade no futebol argentino e de uma vida sofrida na infância.
Soles nasceu em uma família com poucos recursos financeiros e, no início da carreira, saiu da pequena cidade onde morava, Entre Ríos, para tentar a sorte em um clube grande de Buenos Aires. Foi atrás de uma peneira no River Plate, mas deu com a cara na porta. Só conseguiu uma vaga no Boca Juniors depois de ouvir os conselhos do irmão que pediu para que ela ficasse em sua casa e começou a telefonar insistentemente para o clube de La Bombonera.
“Foi difícil porque a minha família não conseguia me ajudar economicamente. Foi bastante difícil porque os times lá não dão um lugar para você ficar como aqui que você faz a peneira e pode ficar. Graças a Deus, eu tenho um irmão em Buenos Aires e ele falou: ‘fica em casa’ e eu fiquei mais. Foi difícil também porque não tem estrutura, minha família não podia dizer: ‘vai que a gente te ajuda’. Passei momentos difíceis”, diz ela que afirma sentir orgulho das suas raízes.
“Nunca na minha vida recebi um presente, a minha primeira chuteira eu ganhei quando tinha quase 15 anos. Mas eu não me queixo de nada disso. Fui feliz e se pudesse escolher, escolheria essa infância que eu não tive nada, era só bola”.
Sole chegou a atuar com sucesso pelas duas maiores equipes da Argentina. Mas a estrutura do futebol argentino era ainda pior do que no Brasil. Lá, ela recebia um salário bem menor do que no Santos e sua única regalia era fornecimento de material esportivo. A atacante chegou no Brasil em 2014 quando foi contratada pelo Foz Cataratas, do Paraná, e atuou ainda pelo São Paulo.
Mas a artilheira só encontrou sua felicidade mesmo no Santos. Hoje, ela se mostra encantada e enche a boca para falar da estrutura e da dedicação do presidente Modesto Roma Júnior. Nem passa pela sua cabeça a ideia de deixar o clube. Seu único pensamento é comemorar o título brasileiro, tirar férias na Argentina e voltar logo para a disputa do Campeonato Paulista.
“Meu futuro é seguir aqui porque eu também tenho o Paulista para jogar, não tenho a cabeça em outra coisa. Não tenho palavras para agradecer este homem (presidente). Não vou parar de agradecer nunca porque foi quem me trouxe para cá e me deu uma estrutura que eu não tive nem no São Paulo, em Foz e nos times em que estive. Então não penso em sair, hoje estou pensando em Santos. Quando voltarmos, teremos alguns dias de férias, vou para a Argentina e volto para treinar com o time para conseguir, se Deus quiser, o Paulista”.
Enquanto fala, Sole mostra que já entende bem o português e mistura o sotaque portenho com o santista. Aos poucos, denuncia que está se tornando um pouco brasileira. Já tem muitas amigas no elenco e sabe até os versos ‘Novinha vai no chão’, do funk que embalou a conquista das Sereias da Vila.
Mas o que mais a fez sentir em casa é a amizade que criou com o garoto Alexandre, de 9 anos. O menino é criado pela tia Aline Xavier, que é supervisora do futebol feminino do Santos. Como ela trabalha muito, as atletas acabam ajudando nos cuidados com o pequeno.
Sole e Alex criaram uma relação muito bonita e, muitas vezes, é ela quem vai buscá-lo na escola ou fica com ele durante a tarde. O garoto sonha em se tornar goleiro do clube no futuro e já encara os testes de defender as bolas da artilheira. No meio das brincadeiras, acabou virando o ‘sobrinho’ adotado de Sole.
“Não é meu sobrinho de sangue, mas é de coração. Ele é sobrinho de uma das meninas, fica todo o tempo comigo, eu adotei ele, ele virou a minha família. A gente fica quase todos os dias, eu pego ele no colégio, chamo para treinar. Eu gosto muito dele, ele gosta de mim e eu gosto de muito de criança, tenho um sobrinho da idade dele na Argentina. Eu tenho uma cachorrinha também. Não tenho a minha família, mas tenho eles”, conta.
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