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Ex-"amarelões", Portugal e Chile tentam se firmar no time dos vencedores

Eurocopa de 2016 foi o primeiro título importante conquistado pela seleção de Portugal - Matthias Hangst/Getty Images
Eurocopa de 2016 foi o primeiro título importante conquistado pela seleção de Portugal Imagem: Matthias Hangst/Getty Images

Leandro Miranda

Do UOL, em São Paulo

28/06/2017 04h00

Classificação e Jogos

Até 2015, o Chile era o time que praticava um futebol ofensivo, agradável e técnico, mas que na hora H, tremia – o pequeno que "jogava como nunca e perdia como sempre". Portugal, até o ano passado, vivia situação parecida: ótimos jogadores e organização coletiva, mas um degrau abaixo dos grandes no momento da decisão. Agora que essas seleções enfim conhecem o sabor de levantar um troféu importante, porém, nenhuma delas pretende sair desse caminho. Os dois times se enfrentam nesta quarta-feira (28), a partir das 15h (de Brasília), pela primeira semifinal da Copa das Confederações na Rússia, com transmissão do Placar UOL.

O Chile construído por Jorge Sampaoli e liderado por Alexis Sánchez e Arturo Vidal foi campeão da Copa América em 2015 e 2016 (este último título, já com Juan Antonio Pizzi no comando técnico), enquanto Portugal conquistou a última Eurocopa mesmo sem seu astro Cristiano Ronaldo na final.

"Conseguir seus primeiros títulos é algo inesquecível para os dois países", disse o volante chileno Marcelo Díaz, um dos pilares da seleção sul-americana. "Queremos um novo ouro para o Chile e não vamos parar até conseguir. Ainda temos muita fome e queremos alcançar a glória de novo".

Construções lentas até o sucesso

Chile - Xinhua/Pedro Mera - Xinhua/Pedro Mera
Título em casa da Copa América de 2015 foi ponto de virada para o Chile
Imagem: Xinhua/Pedro Mera

Até o troféu da Euro 2016, os principais resultados da seleção portuguesa no futebol mundial haviam sido o terceiro lugar na Copa do Mundo de 1966, na geração do grande Eusébio, e o vice na Euro 2004, quando o time perdeu a final em casa para a surpreendente e ultradefensiva Grécia. Já o Chile pré-bicampeonato somava um terceiro lugar na Copa de 1962, disputada em casa, e quatro longínquos vices na Copa América (1955, 1956, 1979 e 1987).

Para deixarem a fama de "amarelões" para trás, os times precisaram de paciência. O sucesso recente do Chile tem raízes em uma linha de trabalho que já dura uma década. Em 2007, Marcelo Bielsa assumiu a seleção, que havia ficado de fora das duas Copas anteriores, e montou uma equipe renovada, cuja base perdura até hoje, com atletas como Bravo, Jara, Isla, Beausejour, Medel, Vidal e Sánchez.

Com um grupo coeso e comprometido, começou a implantar as ideias de jogo que hoje marcam a identidade do futebol chileno: formações flexíveis, circulação de bola rápida, ritmo intenso e pressão na frente o tempo inteiro. Foi eliminado pelo Brasil nas oitavas de final da Copa de 2010, saiu no ano seguinte e, após uma passagem ruim de Claudio Borghi, seu trabalho foi retomado e aperfeiçoado por Jorge Sampaoli a partir de 2012.

Fã confesso de Bielsa, Sampaoli fez com que o time passasse a ser reconhecido como uma ameaça real às seleções tradicionais. O estilo envolvente e sufocante da época de Bielsa foi mantido, a base de jogadores foi incrementada com peças como Aránguiz e Vargas, e a grande virada veio com a conquista da Copa América de 2015 em casa, quando os chilenos foram de longe o melhor time da competição e superaram a Argentina de Messi na final. Em 2016, na Copa América Centenário, o bicampeonato confirmou que o Chile pertencia, agora, ao time dos melhores. Pizzi assumiu depois e mexeu pouco no que fizeram seus predecessores.

Se o Chile se baseou essencialmente em um crescimento coletivo e na manutenção de uma linha de trabalho, o sucesso recente de Portugal tem a ver muito mais com o crescimento da produção de jovens jogadores de bom nível. Em uma seleção que quase sempre contou com uma ou duas estrelas – antes, Luís Figo e Rui Costa, e agora, Cristiano Ronaldo –, mas pouco equilíbrio, a subida de nível dos "coadjuvantes" foi determinante.

Ao longo da última década, as equipes portuguesas passaram a usar melhor as categorias de base e a investir mais na formação de jogadores. A seleção sub-21 ficou três anos sem perder em jogos oficiais até ser eliminada pela Espanha na Eurocopa da categoria na semana passada. No time campeão da Euro 2016, jovens como Raphaël Guerreiro, João Mário, André Gomes e Renato Sanches foram fundamentais; agora, novos talentos como Bernardo Silva e André Silva fortalecem o time.

Se o Chile busca sempre o protagonismo com a bola e a pressão no adversário, Portugal encontrou com Fernando Santos um modelo de jogo que serve melhor seus jogadores, incluindo o astro Cristiano Ronaldo. Organização defensiva, marcação mais recuada, meio-campo que reage muito rápido à perda de bola, ataque veloz e sem referência fixa: uma equipe talhada para o contra-ataque, mas com qualidade técnica para trabalhar mais a bola se necessário.

A semifinal deve ser um duelo de estilos opostos, com o Chile tentando assumir o controle e Portugal esperando a hora certa para levar vantagem nos contragolpes e bolas paradas. Quem quer que avance à final, contra Alemanha ou México, estará dando mais uma prova que merece, sim, estar posicionado ao lado dos grandes, na elite do futebol mundial.