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Deputadas acusam Bolívia de atrasar investigações sobre tragédia da Chape

AP Photo/Luis Benavides
Imagem: AP Photo/Luis Benavides

Daniel Fasolin

Colaboração para o UOL, em Chapecó (SC)

20/06/2017 13h40

O governo da Bolívia está sendo acusado formalmente por duas deputadas bolivianas de tentar acobertar e atrasar as investigações sobre o acidente com o avião da empresa LaMia, que causou a morte de 71 pessoas, incluindo jogadores, comissão técnica e funcionários da Chapecoense, além de jornalistas e dirigentes esportivos, em novembro do ano passado.

As deputadas Érika Justiniano e Nórma Piérola acusam o procurador-geral da Bolívia, Ramiro Guerrero, de tentar "encobrir" as responsabilidades do governo boliviano no caso. A empresa LaMia é boliviana e, por isso, o país está também investigando o caso, além da Colômbia, local da tragédia.

Carta 1 - Reprodução/Daniel Fasolin - Reprodução/Daniel Fasolin
Carta entregue por deputadas da Bolívia
Imagem: Reprodução/Daniel Fasolin

"Somos conscientes que na Bolívia não existe mais a mínima possibilidade que o caso se esclareça e que os responsáveis por isso respondam na justiça. Podemos afirmar que o Ministério Publico da Bolívia tem uma atitude de "encobrimento" do caso", disse Érika, que é filiada ao PDC (Partido Democrata Cristão), mesmo partido de Nórma Piérola. As duas fazem oposição ao governo Evo Morales.

A deputada argumentou que o governo da Bolívia também está "punindo inocentes", que neste caso seria a funcionária Célia Castedo, funcionária da ASANAA (Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação Aérea). A acusação contra ela é relacionada a autorização do plano de voo daquela viagem. Ela está refugiada no Brasil. "Cremos firmemente que as famílias das vitimas merecem o desfecho deste acidente e saber da verdade. Estou aqui para ajudar os familiares, porque meu país não está fazendo o melhor que pode para concluir a investigação", explicou Érika.

Carta 2 - Reprodução/Daniel Fasolin - Reprodução/Daniel Fasolin
Carta de deputadas da Bolívia
Imagem: Reprodução/Daniel Fasolin

Érika reuniu-se com a diretoria da Chapecoense nesta manhã de terça-feira, em Chapecó, e também com familiares de vítimas do acidente. Após a reunião, as parlamentares e a Chapecoense decidiram que levarão o resultado da investigação para o Ministério Público de Chapecó e também acionarão a OAB sobre o caso para tentar agilizar o processo.

À tarde, a parlamentar entregou uma carta para as autoridades brasileiras, familiares das vítimas e também para a diretoria da Chapecoense para esclarecer a investigação. 

A parlamentar acusou o governo de investigar somente o piloto da LaMia, que também era sócio da empresa e morreu no acidente, o que facilitaria a não responsabilização de outros culpados. "Sabemos que o piloto não é a autoridade na aviação civil. Existem muitas pessoas e muitas instituições que tem que fazer o seu papel para que não aconteça esse tipo de coisa. Existe a parte do seguro que já dizia que o avião não poderia sobrevoar a Colômbia e alguém autorizou. Acho que em duas semanas podemos reunir os familiares e apresentar todas as nossas investigações".

Familiares reclamam de falta de informação

Após a  reunião, parte dos familiares das vítimas alegou que não vem tendo acesso à investigação na Bolívia, o que causa insegurança a eles. "Temos dificuldades de ter acesso aos documentos e também sobre o andamento dos inquéritos. Tudo que é feito para nos auxiliar vem em bom momento e o que ela está fazendo vai nos auxiliar em tudo. Estas informações são importantes para que nos possamos nos posicionar no futuro e receber o que as famílias têm direito e inclusive sobre o ressarcimento econômico da seguradora Bisa e do governo boliviano", afirmou Edemar De Marco, filho do Edir de Marco, dirigente da Chapecoense morto na tragédia.

Para Érika Justiniano, a questão do ressarcimento aos familiares das vítimas é um dos pontos principais que motivaram a investigação paralela. "Estamos investigando o tema da seguradora para que todas as famílias possam receber o que é justo e os principais responsáveis possam pagar por isso. Não se pode exigir nada da LaMia, a empresa está encerrada. Temos que ver o que o seguro tem a conceder e também verificar a responsabilidade do governo boliviano para que esse possa pagar aos familiares o que é de direito, tanto na parte humanitária, como na parte econômica", explicou.

Na semana passada, o UOL Esporte fez um levantamento com o governo colombiano, embaixada do Brasil na Colômbia e a empresa British Aerospace da Inglaterra, sobre o andamento das investigações, mas os órgãos ainda aguardam a entrega de laudos sobre o acidente.

Outro lado

O UOL Esporte entrou em contato com o Ministério Publico da Bolívia, que respondeu que as investigações estão sendo realizadas da "melhor maneira" e que os laudos serão entregues em breve. A assessoria do procurador-geral, Ramiro Guerrero, não quis comentar sobre o caso.

Ainda foi citado na carta, Milton Claros diretor da DGAC, responsável por regular as empresas aéreas na Bolívia, que é acusado de ter liberado o voo da empresa LaMia, sem a mesma ter autorização para voar no espaço aéreo boliviano. "Temos muitas pessoas responsáveis no governo boliviano por esta tragédia. Estou em Chapecó para dar nosso total apoio ao familiares e esperamos poder resolver o quanto antes isso. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para que a verdade venha a tona e que os familiares possam saber o que realmente aconteceu e quem são os verdadeiros culpados", disse Érika.