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Amistosos abalam relação Globo-CBF. Mas ainda não é o fim do "casamento"

Marco Polo del Nero, presidente da CBF, está estimulando renegociação com a Globo - Marcelo Sayão/EFE
Marco Polo del Nero, presidente da CBF, está estimulando renegociação com a Globo Imagem: Marcelo Sayão/EFE

Pedro Ivo Almeida e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

30/05/2017 04h00

Parceiras há décadas, CBF e TV Globo não chegaram a um acordo para as transmissões dos amistosos da seleção brasileira em junho – contra Argentina e Austrália, nos dias 9 e 13, em Melbourne. Sem o acerto entre as partes, os jogos serão transmitidos pela TV Brasil e em plataformas digitais (Facebook) da confederação. O novo cenário abala a relação da entidade com a maior emissora do país, mas não chega a ser uma ruptura.

Em janeiro, no jogo entre Brasil e Colômbia em homenagem às vítimas do voo da Chapecoense, CBF e Globo já haviam discordado sobre o direito exclusivo para tal transmissão e não fecharam um acordo. A confederação liberou o sinal a todas as emissoras e fez o primeiro “teste” em seu Facebook.

Era o primeiro passo de uma possível “independência” nas transmissões. Desta vez, novo impasse. De acordo com a versão oficial, não houve acordo em relação a valores, em notas sem ataques ou discordâncias.

Segundo pessoas de ambos os lados ouvidas pela reportagem, o fato de a Globo não transmitir um jogo da seleção em data Fifa após anos não chega a simbolizar uma ruptura no “casamento”. Profissionais da emissora e da CBF reforçaram que o diálogo pelos direitos de transmissões ainda é bom. A emissora, inclusive, já pensa nas transmissões dos amistosos que o time de Tite fará até a Copa do Mundo de 2018, na Rússia – serão no mínimo mais seis até lá.

Ainda assim, o futuro após o Mundial está aberto. Desejando uma receita maior, a CBF aperta a Globo e tenta fazer a emissora abrir os cofres ao sinalizar com um “bid” – espécie de leilão – pelos direitos do próximo ciclo, de 2018 a 2022.

A entidade comandada por Marco Polo Del Nero acredita que, em um novo momento de plataformas digitais alternativas, é possível faturar mais. A ideia é vender anúncios no Facebook, inclusive para os próprios patrocinadores da entidade, que podem gerar R$ 500 mil por cota para os cofres. Ou seja, dá para cobrir o valor pago pela Globo se a comercialização for bem-sucedida.

E quem atua juntamente com a entidade para explorar essas receitas é Marcelo Campos Pinto, ex-dirigente todo-poderoso da Globo que saiu após os escândalos de corrupção do Fifa Gate, como mostrou o Blog do Juca Kfouri. Ele também tem uma relação muito próxima com o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, envolvido em acusações de desvios da entidade. Não está claro qual o efeito de sua participação no negócio e no futuro da relação com a emissora.

Mas, para os dirigentes da Confederação, é preciso ter muita certeza sobre as receitas geradas no futuro para se comprar uma briga com um parceiro do tamanho da Globo. Para os dois lados, a seleção brasileira representa um milionário faturamento nos moldes atuais.

A incerteza também ronda os patrocinadores da CBF. Ainda que acreditem numa mudança de modelo de transmissão, alguns procuraram a confederação com certo tom de preocupação em não ver sua marca exposta na TV aberta com maior alcance nacional.

Com a seleção brasileira já classificada para a Copa do Mundo da Rússia, os jogos contra Argentina e Austrália se tornaram sinônimos de testes não apenas para Tite, mas também para os negócios de CBF, Globo e outras emissoras e plataformas.