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Sete deputados escalados para fiscalizar Mané Garrincha estão na Lava Jato

Estádio Nacional de Brasília no dia da disputa do terceiro lugar da Copa entre Brasil e Holanda - Gustavo Franceschini/UOL
Estádio Nacional de Brasília no dia da disputa do terceiro lugar da Copa entre Brasil e Holanda Imagem: Gustavo Franceschini/UOL

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

24/05/2017 12h25

Dois ex-governadores do Distrito Federal e um assessor especial do presidente Michel Temer foram para cadeia nesta terça-feira. A Operação Panatenaico, da PF (Polícia Federal), apontou superfaturamento de até R$ 1,3 bilhão nas obras no estádio Mané Garrincha para Copa do Mundo.

Durante as obras, a Câmara dos Deputados escalou uma subcomissão de 16 parlamentares para fiscalizar as reformas nas arenas e a construção do chamado legado da Copa. Eles não viram nada de errado nas obras, incluindo o estádio de Brasília que levou dois ex-governadores à prisão. Mas a Lava Jato viu.

O erro é na atuação como parlamentar de quase metade dos membros da comissão - sete deputados foram citados nas delações premiadas (lista abaixo).

A lista contém políticos de partidos figurinhas carimbadas na apuração da Polícia Federal: PT, PMDB, PR e PP. Há deputados ligados a Eduardo Cunha (PMDB/RJ), Renan Calheiros (PMDB/AL) e o ex-líder na Câmara dos presidentes Lula e Dilma Rousseff.

O nome da comissão é longo e descreve as obrigações que os parlamentares assumiram: Subcomissão Permanente para Acompanhamento, Fiscalização e Controle dos Recursos Públicos destinados à Copa de 2014. Mas alguns deputados procurados pelo UOL Esporte disseram que não se lembram de integrarem a comissão.

É o caso de João Magalhães (PMDB/MG), que foi citado nas delações por corrupção passiva. “Não recordo da comissão. Não participei de nenhum evento, não recordo. Às vezes o líder (do partido) faz a indicação, coloca o nome e fica”, justificou.

Mais viagens que reuniões

O trabalho da subcomissão durou dois anos e contou com 22 encontros. O primeiro ocorreu em 16 de março de 2010 para organizar o roteiro e desde então o que mais houve foi viagens. No total, os deputados se deslocaram 14 vezes para as cidades-sede da Copa do Mundo.

Houve inclusive duas idas ao Rio de Janeiro num intervalo inferior a uma semana. Desta maneira, as viagens dominaram dois terços das atividades da comissão. Nelas, os parlamentares visitavam obras relacionados ao torneio. Os destinos mais comuns eram os estádios e os aeroportos.

Os oito encontros realizados em Brasília serviram para definir o cronograma, escolher o relator e preparar audiências públicas. Mas até o final dos trabalhos nenhuma audiência pública foi realizada. O site da Câmara dos Deputados também não menciona a entrega de nenhum relatório ou recomendações por parte da subcomissão.

Agora a Polícia Federal investiga o motivo dos estádios saírem mais caros que o orçamento ideal. O governo federal publicou a conta no final de 2014 e as arenas custaram R$ 8,4 bilhões.

A lista dos deputados delatados

O UOL Esporte procurou os sete deputados federais que constam nas delações da Lava Jato. Nas ocasiões em que os parlamentares não se manifestaram, houve pesquisa para informar ao leitor o que justificaram na época em que seus nomes foram citados pelos delatores. A seguir, a lista por ordem alfabética.

Anibal Gomes - PMDB/CE

Ele é citado como um parlamentar que atuava junto com o senador Renan Calheiros PMDB/AL na Petrobras. Anibal foi incluído na delação do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Na época da delação, o parlamentar negou as suspeitas e informou que pretende colaborar com as investigações.

Candido Vacarezza - PT/SP

Hoje sem mandato, foi citado por dividir R$ 5 milhões da Odebrecht com outro deputado. O ex-deputado também foi incluído na delação de Sergio Machado, o ex-presidente da Transpetro que gravou a famosa declaração de Romero Jucá de que "é preciso estancar a sangria". Durante entrevista em abril deste ano, Vaccarezza negou as acusações e garantiu que é ficha limpa.

Carlos Willian - PTC/MG

Outro parlamentar citado que não tem mais cargo. De acordo com o Ministério Público, ele atuou junto com Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e outros deputados para achacar o grupo Schahin e receber vantagem indevida. O UOL Esporte entrou em contato com o diretório do PTC em Minas Gerais e o partido comunicou que não desejava se manifestar.

João Magalhães - PMDB/MG

Outro suspeito de integrar a tropa de choque de Eduardo Cunha que exigiu recursos do grupo Schahin. Ele é o deputado que não se recorda de participar da subcomissão. 

Simão Sessim - PP/RJ

Deputado federal em 10º mandato, ele teve uma investigação arquivada pelo ministro Teori Zavascki. O inquérito se baseava nas delações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e na delação de Alberto Youssef. Mas o nome de Simão Sessim voltou a aparecer na delação da JBS. O parlamentar enviou nota negando.

"Não solicitei nem recebi diretamente contribuição da empresa. O Diretório Nacional do meu partido, PP, ele sim recebeu e fez disso registro legal junto à Justiça Eleitoral. O valor aportado ao PP foi distribuído entre os candidatos do partido para uso na campanha."

Solange Almeida - PMDB/RJ

Já não tem mandato, mas era vinculada a Eduardo Cunha quando exercia o cargo de deputada federal. O nome dela apareceu junto a um pedido de propina de US$ 5 milhões (R$ 16,3 milhões). Solange não foi encontrada, mas sua defesa negou qualquer crime durante entrevista dada ao jornal Estado de São Paulo neste mês.

Wellington Roberto - PR/PB

O nome do deputado surgiu numa planilha da delação da JBS recebendo R$ 1,1 milhão. Ele também ficou conhecido por defender Eduardo Cunha e disse que o ex-presidente da Câmara era temido por ser muito inteligente. Procurado, ele disse que retornaria as ligações, mas acabou não fazendo. Ao site Paraíba Online, o parlamentar disse que "querem sensacionalizar"