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Boleiro à moda antiga, Rodriguinho defende boa vida e diz que mira Copa-18

Jadson e Rodriguinho: meias dividem quarto, são amigos e jogam lado a lado - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Jadson e Rodriguinho: meias dividem quarto, são amigos e jogam lado a lado
Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Dassler Marques e Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

20/05/2017 04h00

Na última quinta-feira [18], antes de ser convocado por Tite para os amistosos da seleção brasileira, Rodriguinho já fazia fé em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. "É o alvo de todo jogador, tem que buscar sempre para evoluir e quem sabe chegar lá". Aos 29 anos e hoje em indiscutível posição de destaque no Corinthians, o meia potiguar de sorriso fácil, que fala o que pensa, é espécie de símbolo do que os atletas devem buscar. A palavra é evolução.

O desempenho convincente dos últimos um ano e sete meses, com 18 gols marcados e mais 13 assistências, contrasta com um jogador que não convencia a torcida ao chegar, na temporada 2014. O salto de qualidade, justamente pela citada evolução, é o que talvez explique a onda de memes entre corintianos, que espalham pela internet montagens que brincam com a importância adquirida por Rodriguinho. "É legal de ver agora, na fase boa, mas quando tá complicado é difícil", conta.

Com esse estilo franco, Rodriguinho surpreende por assumir publicamente o que outros jogadores tratam como tabu, justamente para evitar polêmicas em um meio tão conservador como o futebol. Ele já foi casado e pouco fala sobre a vida pessoal, mas hoje é solteiro e diz abertamente que gosta de curtir a vida, inclusive beber, quando possível. Tite, que ajudou a mudar sua história no Corinthians em 2015, já mostrou que não há problemas. O meia é, mais do que nunca, um aspirante à Copa do Mundo de 2018. Sem abrir mão do que gosta. 

Confira a entrevista com Rodriguinho na íntegra:

É do tipo que fala o que pensa

Eu realmente tento me expressar da melhor forma possível. A gente vai aprendendo com o tempo, com tantas entrevistas, a se soltar. Sou brincalhão, sou extrovertido, gosto de levar a vida numa boa e tento levar para lá também. Fica uma relação tão distante [jogadores e jornalistas] entre a gente, por exemplo, e uma brincadeira para quebrar o gelo se torna mais bacana e te deixa mais relaxado para se expressar de uma forma mais natural.

Andrés disse que ele gostava de cerveja

Realmente, eu fiquei pensando o que iria falar. Até comentava com a Day e o Denis [assessores], ‘gente, não sei o que falar, vou levar numa boa’. Tentei meio que driblar a crise que tentava se instalar de forma irreverente, mas com responsabilidade. Existe muito clichê no futebol, são sempre as mesmas perguntas, e a gente fica sempre na mesma linha. Às vezes acabo quebrando um pouco isso para me divertir, divertir os outros também, acho bem legal.

Quando garoto, abusou da noite em Natal

Eu era bem mais novo, então não media muito minhas atitudes. Era da cidade, então muitas pessoas me conheciam, tinha muitos amigos. Como todo jovem...não é nem falta de orientação, mas você não é daquele meio, não sabe como é que te observam em qualquer lugar que esteja, fica no foco das coisas.


É uma fama complicada, de falar ‘não sei quem gosta da noite’...gostar todo mundo gosta, né? [risos]. Só que os casados não podem ir, e os solteiros que vão é que gostam. Eu sou solteiro, me divirto quando posso, na folga, e acho super natural. Acho difícil as pessoas entenderem, tem aquela coisa, é atleta e tem de se cuidar, mas eu acho que na sua folga tem o direito de fazer as coisas que gosta e se sente feliz ao fazer.

Os jogadores normalmente casam rápido

Você sai de perto da família muito cedo, bate um pouco da solidão, vai a lugares onde não conhece ninguém e é difícil aguentar sozinho. Muitos [jogadores] têm aquela mesma namorada desde mais novo, acaba se casando e tendo filho cedo. É natural no meio. Quase todo mundo é casado.

Natal, o lugar de Rodriguinho no mundo

Sou apaixonado. Muitos amigos, minha família toda lá. É um lugar muito bonito e pretendo morar quando encerrar a carreira. Tem muitas praias bonitas, lugares para passear, sou apaixonadíssimo e não trocaria por nenhum lugar. Todo mundo tem de ter seu cantinho para estar perto das pessoas que gosta.

O sonho que se realizou

Desde pequeno, eu sonhava que entrava no estádio, tinha muita gente, jogava e aquela sensação muito boa. Me apaixonei de cara, sempre fui louco por bola, desde pequeno. Aos sete anos, minha mãe me colocou em escolinha de futsal na AABB, depois na escola, depois no campo, e sempre muito futsal. As coisas aconteceram de forma bem natural na minha vida.

No início, os pais não apoiavam muito o futebol

No começo foi mais complicado, né? (risos). Meu pai nunca gostou muito de futebol, começou a acompanhar mais depois que comecei a jogar. E minha mãe não gostava muito porque eu deixava de estudar para jogar bola, né? Ela como professora pegava muito no meu pé para estudar, ‘larga a bola’. Quando as coisas se encaminharam melhor, começou a apoiar, a gostar, agora eles vivem isso.

Rodriguinho bolas - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

O que estranhou nos Emirados Árabes

Eles têm costumes muito diferentes dos nossos, de rezar seis vezes por dia, por exemplo. O Ramadã, que é um mês inteiro sem se alimentar durante o dia e só come, se não me engano, de oito da noite até as seis da manhã, e passa o dia todo só bebendo água. É uma coisa que choca um pouco. Os restaurantes ficam todos fechados. Para os estrangeiros lá, fica uma situação bem difícil. De cultural, o casamento com várias mulheres...é normal encontrar em shopping um cara com cinco mulher e os filhos, é interessante...não pode beber, mas tem uns árabes que vou te falar, dão um jeitinho pra tudo (risos).

NR.: Atuou entre 2014 e 2015 no El Sharjah, dos Emirados. 

Privacidade da Internet

[sobre ter Instagram 'bloqueado'] Só para amigos (risos). Não gosto muito de expor a minha vida, então já tem tanta gente observando, vamos ficar ‘tranquilinho’. Tenho só o Instagram, não uso Twitter, o Facebook eu cancelei. Só Instagram e para as pessoas que realmente me conhecem, sabem da minha vida, querem participar de alguma forma para você ter contato com as pessoas próximas. Estou longe de muitos amigos em Natal, ou que estão fora, para você ter um convívio, para a pessoa saber um pouco da sua vida. Acho muito estranho essa coisa de rede social, de expor a vida para pessoas que não conhecem e não vejo necessidade alguma disso. Tanta pessoa opinando na sua vida...

Os memes divertem, mas podem magoar

Assim, é legal de ver agora, na fase boa, mas quando está complicado é difícil de ver. O Romero já sofreu bastante. As pessoas não se incomodam o quanto isso vai te afetar. Qualquer declaração é difícil. Aqui [no Corinthians] ou o cara é bom ou é horrível.

Não vingou na chegada

Na verdade, quando cheguei, o time tinha sido campeão de tudo, tinham muitos jogadores de qualidade, e não era fácil chegar e jogar. Conversando uma vez com o meu irmão, ele me fez a mesma pergunta e expliquei. É difícil você chegar a um clube grande, não é conhecido, eu vinha da Série B. Chegar e jogar? No lugar de quem? Não é simples. Aos poucos fui me adaptando, saí e voltei, fui cavando meu espaço, fui melhorando, mas é muito complicado de chegar e arrebentar.

NR.: O Corinthians pagou mais de R$ 4 milhões por Rodriguinho em 2013. Ele era do América-MG

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Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Invasão dos torcedores ao CT

Eu lembro quase tudo, viu? [risos]. Foi um dia complicado, depois da derrota por 5 a 1 para o Santos, em que eu inclusive joguei. A gente ia jogar domingo com a Ponte e no sábado de manhã eles vieram aí. Foi um momento bem tenso, tinham foco em alguns jogadores e gritavam o nome. Estávamos saindo do vestiário para treinar e escutamos invadindo, alguns estavam no departamento médico, outros no vestiário. Demos sorte porque o segurança, Wilson, conseguiu fechar a porta do vestiário e ficamos lá dentro. Acabou não acontecendo o pior. Alguns outros foram para o hotel, fisioterapia, foi um dia bem tenso porque a tensão foi bem grande. Eu não estava no foco, eram outros jogadores, mas não foi um fator determinante para eu sair.

NR.: Logo depois do episódio em que dezenas de torcedores invadiram o CT, em 2014, Rodriguinho foi emprestado ao Grêmio. Ficou poucos meses e saiu de novo, para os Emirados. 

Voltou em 2015, mas não saiu da reserva naquele ano

No futebol a gente tem de esperar o momento. Se o time está ganhando do jeito que está, tem que sentar e aplaudir os caras. Tem de esperar o momento, não tinha o que falar. Acho que perdemos três partidas e no começo do campeonato [Brasileiro 2015]. Depois que o time engrenou, estava redondinho, todo mundo indo muito bem, tem que esperar e ficar quieto. Você se prepara para estar no mesmo nível e aproveitar a oportunidade quando chegar. Eu estava preparando para agarrar minha chance.


É...é outra pergunta complicada, porque eu posso me envolver em coisa que não devo (risos). Ele esperou o momento dele, conseguiu, fez o que tem que fazer. Estudou, se aperfeiçoou, aprendeu e demonstrou o trabalho no momento em que teve a oportunidade. Se os chefes acharam melhor trazer outro, porque o momento era complicado naquela hora, foi decisão deles, mas ele provou que estava capacitado para isso agora.

Colega de quarto e de campo de Jadson

A amizade que temos aqui é muito bacana, com o grupo todo. Lógico que você tem mais afinidade com um ou outro, o Cássio é outro grande amigo meu. Jogar com o Jadson é fácil, um cara muito inteligente, tem estilo parecido com o meu que é de toque e tabela, a gente consegue se entender muito bem. Isso ajuda pra caramba. Todo mundo está jogando muito bem, então facilita para a gente.

Como prefere atuar

A gente vai evoluindo e as coisas vão acontecendo. No América eu jogava mais perto do gol, praticamente como estou agora, mas nunca fui jogador de sair driblando dois ou três. Gosto de tabela, de chute de fora, de passe, vou aperfeiçoando o cabeceio. Não sou um velocista de sair driblando, cada um tem que aproveitar o que tem de bom. 

O prazer em estar no Corinthians

O que posso falar do Corinthians é que a gente é muito bem recebido, muito bem tratado, e as pessoas fazem de tudo para proporcionar o melhor que podem para você render dentro de campo. É o que precisa. Desde que cheguei aqui, me senti muito bem acolhido pelas pessoas, me apaixonei de uma forma grande pelas pessoas. Tenho um carinho imenso, amo estar aqui.

O auge só aos 29

A idade vai chegando, a gente vai pensando na vida, nas coisas, vai crescendo como atleta também. Tem jogadores que evoluem mais rápido que outros. O Neymar, por exemplo, está no auge desde novo e vai convivendo com as coisas. A gente vai amadurecendo e isso vai nos tornando melhor.

Copa da Rússia é um sonho

Esperança tem de ter, tem de sempre estar almejando coisas grandes, é um sonho de todo jogador. O momento está muito bom, espero que dê tudo certo. Não é fácil, a concorrência é muito grande. Copa é o alvo de todo jogador, nós precisamos sempre buscar coisas grandes para evoluir e quem sabe chegar lá.


[risos] Acho que vou me candidatar [ao ser perguntado se tinha preferência). Coloca o Tite de presidente, estão colocando o meme dele presidente, acho que vai dar certo [risos].

Os escândalos na política

Realmente fica muito feio para o nosso país, é uma pena o que está acontecendo e a gente vê que quanto mais procuram, pior fica a situação. Todo mundo está envolvido em escândalos, em propina, fica muito feio. Fica difícil depois para reconquistar a confiança das pessoas, é complicado.