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Cobiçada por Dani Alves e ignorada por Neymar, braçadeira é arma de Tite

Daniel Alves foi um dos escolhidos por Tite para carregar a braçadeira na seleção - Pedro Martins/Mowa Press
Daniel Alves foi um dos escolhidos por Tite para carregar a braçadeira na seleção Imagem: Pedro Martins/Mowa Press

Dassler Marques e João Henrique Marques

Do UOL, em São Paulo e em Barcelona

21/03/2017 04h00

A braçadeira de capitão ainda mexe com alguns atletas, mas não tem mesmo mais dono na seleção brasileira. Nesta nova rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo, contra Uruguai, na quinta-feira (23), e Paraguai, na terça seguinte (28), Tite novamente colocará em prática o rodízio daquele que é um dos maiores símbolos de prestígio entre os atletas. Mas, no Brasil, passa de braço em braço. É uma das armas do treinador na gestão do grupo. 

Acostumado a essa posição em diferentes momentos da seleção brasileira, o lateral Daniel Alves é um dos jogadores que internamente já manifestaram agrado com a possibilidade de liderar a equipe com a braçadeira. No próprio Barcelona, seu ex-clube, ele acenou publicamente que via com entusiasmo a chance de ser herdeiro, posição que ficou com Lionel Messi. No Brasil, ocorre esporadicamente. 

Outro membro do elenco dirigido por Tite e afetivamente muito ligado à braçadeira é Thiago Silva, que liderou o Brasil na Copa do Mundo 2014. Motivo de polêmica no início da era Dunga, quando Thiago se queixou de perder a faixa para Neymar, a posição de capitão é um dos itens que comprovam o prestígio do zagueiro no Paris Saint-Germain. O objetivo secundário dele, além de voltar à seleção, o que se concretizou, sempre foi também recuperar o posto. Por ora, ele fica na reserva de Marquinhos e Miranda. 

Entre os principais postulantes, Neymar, curiosamente, é quem tem abordagem oposta à braçadeira. Eleito por Dunga depois da Copa 2014, o atacante deu mostras de incômodo com o excesso de cobranças adicionais que a faixa representou para ele. Antes da Olimpíada, o então treinador Rogério Micale cogitou mudar o capitão, mas preferiu manter o jogador. Já depois dos Jogos, Neymar pediu pessoalmente a Tite para que a responsabilidade fosse transferida. Dunga também teve em Miranda um exemplo de líder, já mais marcado pela discrição

Como Tite criou o rodízio de capitães há cinco anos e por que usou na seleção

Liedson - Leandro Moraes/UOL - Leandro Moraes/UOL
Liedson foi o primeiro eleito para o rodízio de capitães que nunca mais parou no Corinthians
Imagem: Leandro Moraes/UOL

A divisão de atribuições, seja dentro da comissão técnica ou entre os jogadores, sempre foi um dos princípios de trabalho de Tite no Corinthians. Não por acaso, suas equipes de maior sucesso na carreira não tinham um protagonista com grande destaque sobre os demais. Dois atletas com esse perfil estão entre os raros com quem o treinador teve problemas de relacionamento: D'Alessandro, no Internacional, e Ronaldinho, no Grêmio. 

Dentro da seleção, o treinador aproveitou o vácuo pela desistência de Neymar e pela ausência inicial de Thiago Silva para rodar a função. Na avaliação de Tite, o rodízio ajuda no processo de criação de várias lideranças, e evita ainda que a braçadeira coloque pressão sobre algum atleta ou cause qualquer tipo de ciúmes. Em seus sete jogos no cargo, o treinador já designou a faixa a 'veteranos' como Miranda e Dani Alves, a líderes naturais como Renato Augusto ou mesmo a menos badalados e reservas como Fernandinho e Filipe Luís. 

Ainda que estivesse de olho na possibilidade, Daniel Alves mostrou ter absorvido bem o conceito do técnico ao receber a braçadeira diante da Colômbia, em setembro, no segundo jogo da era Tite. "Eu sempre estou pronto para as situações. Meu comprometimento não depende de ser capitão. Capitão não é aquele que leva a braçadeira, mas aquele que aponta coisas. Tenho uma história na seleção que gera respeito nos companheiros, que é mútuo", comentou. 

Foi na segunda passagem pelo Corinthians que Tite transformou a braçadeira em objeto sem único dono. O zagueiro William, em 2010, era o capitão. No ano seguinte, a posição foi repassada a Ronaldo e, após sua aposentadoria, para Chicão. Porém, ao perder a posição de titular na equipe e ter desentendimentos internos, ele foi sucedido por Alessandro na função.

Entre tantas idas e vindas, no início de 2012, Tite se viu sem um capitão e resolveu fazer uma votação entre os próprios atletas antes de um jogo do Paulistão. Liedson, naquela partida, foi o eleito, e então a comissão técnica percebeu que poderia estimular líderes, premiar jogadores em momentos específicos e deixar qualquer vaidade de lado, como havia ocorrido no caso de Chicão. Uma curiosidade: Ralf, que ergueria a taça de campeão brasileiro em 2015, disse naquele momento que não se sentiria confortável com a braçadeira. Exatamente como Neymar, que desde o ouro olímpico não vestiu mais a faixa. 

Esclarecimento

Por meio de sua assessoria de imprensa, Daniel Alves afirma que não tem vaidade em ser capitão da seleção.