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O futuro de Bruno no campo: time mineiro tem contrato, mas não paga salário

Representantes de Bruno esperam resolver em breve a vida profissional do goleiro - Reprodução/TV Globo
Representantes de Bruno esperam resolver em breve a vida profissional do goleiro Imagem: Reprodução/TV Globo

Bruno Freitas e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

01/03/2017 04h00

Em liberdade condicional, Bruno quer retomar a vida no futebol, a despeito da resistência que encontre do meio, após o período de sete anos na prisão. No entanto, o ex-goleiro do Flamengo precisa resolver questões burocráticas antes de acertar com um novo clube. Nos próximos dias, os representantes de sua carreira deverão ouvir equipes interessadas. Antes disso, porém, precisam debater a validade do vínculo com o Montes Claros Futebol Clube.

Bruno deixou a prisão na última sexta-feira, graças a uma liminar deferida pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, que permite que o jogador recorra em liberdade da condenação por sequestro, morte e ocultação do cadáver da modelo Eliza Samudio (mãe de um filho do goleiro).

Condenado a 22 anos e 3 meses de prisão, o antigo atleta do Flamengo deixou a Apac (Associação de Proteção e Assistência a Condenados), na cidade mineira de Santa Luzia. A expectativa é de que, aos 32 anos, Bruno tente retornar ao futebol nas próximas semanas.

"Tem algumas propostas, que assim que ele saiu vários clubes (procuraram). Tem clubes de Série A, clube de Série B, tem um clube grande. Inclusive, dia 6 de março eu estou indo neste clube grande para saber realmente. Porque uma pessoa falou para mim que não tinha interesse, e outra falou que tinha. Então a gente vai estar sentando para ver isso", afirmou Lúcio Mauro, um dos empresários de Bruno, em contato com a reportagem do UOL

Dilema 1: vínculo com o Montes Claros ainda vale?
Goleiro Bruno aparece no Boletim Informativo Diário da CBF como jogador do Montes Claros - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

O Boletim Informativo Diário (BID) da CBF indica que Bruno Fernandes das Dores de Souza tem contrato em vigência com o Montes Claros. O acordo entre o clube e o jogador teve início oficialmente em 2014 e expira em 27 de fevereiro de 2019. Por isso, os mineiros aguardam o contato do estafe do goleiro para negociar sua eventual liberação para outra equipe, mediante ao pagamento de multa rescisória. 

No entanto, apesar da relação em contrato, o clube de divisões inferiores de Minas Gerais jamais pagou salário em juízo a Bruno. Desta forma, legalmente, basta que o goleiro acione a Justiça trabalhista para ficar livre para decidir sua vida profissional. Mesmo neste cenário, o Montes Claros espera por uma resolução amigável, que envolva dinheiro.  

"Se ele tiver alguma gratidão com a gente, tudo bem. Eu fui o primeiro a procurar o Bruno e, na época, eu apanhei muito com isso, fui criticado. Mas, como presidente de clube, eu sei que três meses sem salários bastam para o jogador poder entrar na Justiça e ganhar o passe livre. Ele está registrado no Montes Claros, mas o meu objetivo nunca foi ganhar dinheiro com o Bruno, simplesmente eu queria ver ele fora da prisão. Então, se ele tiver bom senso, não precisa entrar na Justiça contra a gente. É somente os empresários dele ligarem para mim e vamos conversar para se ter uma pequena compensação", disse Ville Mocellin, presidente Montes Claros FC, em entrevista ao UOL.

O atual estafe de Bruno não participou do acordo com o Montes Claros em 2014 (eles passaram a trabalhar com o atleta no ano seguinte). Hoje, os representantes do jogador acreditam que o clube mineiro não será empecilho no desenrolar da situação profissional do goleiro.

"Eu não estou dando confiança a esta situação, porque esse cara aí só pode ser maluco. Como ele fala que tem um contrato com o jogador se ele não pagou um real de salário para o Bruno? E a nossa lei, você sabe, sem salários o jogador está livre", declarou o empresário Lúcio Mauro.

"Esse contrato, na verdade, foi feito lá atrás para ver se liberava o Bruno a trabalhar, e o juiz negou", acrescentou o agente do goleiro.

Dilema 2: Bruno pode trabalhar fora de Minas Gerais?
24.fev.2017 - Ao lado do advogado Lúcio Adolfo e da esposa, o goleiro Bruno Fernandes deixa o Centro de Reintegração Social da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac), em Santa Luzia, após conseguir um habeas corpus - FLÁVIO TAVARES/HOJE EM DIA/ESTADÃO CONTEÚDO - FLÁVIO TAVARES/HOJE EM DIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: FLÁVIO TAVARES/HOJE EM DIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Logo que o Carnaval acabar, o estafe de Bruno, junto com Lucio Adolfo, advogado do atleta, acionará a Justiça mineira para tirar a limpo as reais condições da liberdade condicional. A dúvida do momento é saber se o goleiro tem condições legais de trabalhar fora de Minas Gerais, Estado onde foi condenado. O ex-flamenguista espera uma definição, mas projeta um retorno breve aos campos.

"Ele falou que volta ao futebol se tiver um clube grande interessado. Ele vai cair para dentro, garante que de 30 a 90 dias estará pronto para jogar. Ele está muito preparado para encarar tudo, torcida, entendeu? E quando ele cair dentro do campo, as coisas vão mudar, seja em time pequeno ou time grande", disse Lúcio Mauro, que representa os interesses esportivos de Bruno ao lado de Luciano Guedes.  

O goleiro Bruno não atua em uma partida oficial desde 5 de junho de 2010. Na oportunidade, o jogador fez sua última aparição com a camisa do Flamengo na derrota para o Goiás por 2 a 1 no Maracanã, em compromisso válido pelo Campeonato Brasileiro daquele ano. Meses antes, o atleta ajudou o clube carioca a vencer a edição de 2009 da Série A.

"Hoje, para a gente, não é interessante entrar em confusão. Hoje nós temos que reconstruir a imagem do Bruno. Conto com vocês da imprensa. Ele errou? Errou, mas pagou pelo erro dele, pagou até mais do que qualquer um cidadão brasileiro pagaria", afirmou o agente do goleiro.

"Nós temos os pés no chão. Sabemos que possivelmente seria difícil um clube grande encarar e peitar. Só tem dois presidentes de clubes aqui no Brasil que peitariam tudo e todos. Eurico Miranda e o Alexandre Kalil (...) mas quero deixar claro que nem Vasco e nem Galo procuraram o Bruno. Só citei o exemplo de duas pessoas que, na minha opinião, peitariam tudo e todos", concluiu o empresário do jogador.