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Carpegiani critica falta de convicção do Coritiba e "mico Ronaldinho"

Robson Ventura/Folhapress
Imagem: Robson Ventura/Folhapress

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

28/02/2017 12h25

Passadas menos de 24h da demissão de Paulo Cézar Carpegiani do comando técnico do Coritiba, já a caminho de Balneário Camboriu-SC, o ex-treinador falou sobre a repentina saída do antigo emprego. Depois de relutar em renovar contrato no final de 2016 e ser convencido pela direção do clube, Carpegiani se disse surpreso, mas conformado.

“É o sistema do futebol brasileiro, né? A gente tem que estar preparado para esses inconvenientes", disse o treinador em entrevista ao UOL Esporte.

A eliminação para o ASA-AL na Copa do Brasil, em pleno Couto Pereira, foi o que deixou a situação insustentável. “Não foi a gota d’água, foi o copo inteiro que virou. Nós temos poucas competições, houve uma desilusão muito grande. Não vínhamos bem e éramos conscientes disso”, comentou, para também falar da montagem do elenco para 2017: “Tem uma série de inconvenientes. Você tem que ter convicção naquilo que quer. Eu renovei, cheguei a consciência que poderia seguir. Foi feito um levantamento de uma série de jogadores pra trazer. De 11 indicados, tem dois ou três que vieram. Na medida em que outros anteciparam a contratação ou não houve acerto, foram trazidos outros. Tem dois tipos de contratações: a que você pede e a que a direção resolve trazer o jogador, por que está no seu direito".

Carpegiani citou várias vezes as perdas de Rildo e Neto Berola como vilãs da má fase. “Viemos de uma pré-temporada com dificuldades de contratar, entramos numa série de jogos em que muitos jogadores machucaram, o Rildo voltando só agora. Não gosto de frisar nomes, um inclusive nem estreou ainda, poderia estrear no clássico agora”, disse, em referência possível ao meia Anderson. O técnico deixou clara a insatisfação com a saída: “Eu não queria sair, acho que tinha condições de fazer um bom trabalho. Saio num momento que tenho aproveitamento de 58% em 4 jogos, com um jogo a menos [no Paranaense]. Poderíamos estar na 2ª posição, estamos em 6º. Faz parte do sistema".

Ronaldinho

Sobre Ronaldinho, Carpegiani assumiu que "a negociação foi um momento conturbado" dentro do Coxa. “Foi uma loucura, um desgaste, você não imagina. Só quero dizer o seguinte: são coisas em futebol que são muito internas e que tem que serem tratadas assim, não deixar vazar. São coisas que mexem com o torcedor e muitas vezes você paga mico. Se pode ser evitado, tem que ser evitado". 

O treinador também fez uma revelação: nunca chegou a fazer planos com o meia. “Esperava resolver e depois pensar. A gente é muito... o meu filho é muito amigo dele e sempre duvidou que poderia concretizar isso".

Política 

O ex-treinador do Coxa evitou falar da política interna do clube, mas seguiu na linha da falta de convicção ao tentar compreender a própria saída. “Tem que ter coerência na atitude das pessoas por quem você está sendo comandado. Aí é convicção. O São Paulo, por exemplo: o Rogério Ceni está resgatando todos os meninos da base, estão no grupo principal. Aqui no Coritiba resolveu apostar um menino, o Daniel. Sem entrar nas capacitações dele, pode ser um ótimo menino e está se recuperando. O que eu quero dizer é que há uma discrepância na maneira de conduzir o futebol. Um menino para quem pensava em Ronaldinho. É abismal a diferença nesse meio, a filosofia, as convicções”, analisou, relembrando a tentativa de contratação de R10.

“Não quero saber de política, sobre como ela é feita”, seguiu Carpegiani, “Tem cinco pessoas que comandam o clube e nem sempre elas convergem. Eu não quero falar nomes, mas são as convicções que tornam o futebol forte ou não. Por aí você vê o tipo de pessoas a quem você está entregue. A dificuldade no diálogo na formação do futebol. Pode ocorrer qualquer coisa. Um mês e meio, sem condições de avaliações, sem sentar pra ver o que o tá acontecendo”, reclamou o ex-técnico.

Ele ainda negou que tenha influência geral em todas as contratações feitas pelo Coritiba. “Já houve esse tipo de declaração, de que ‘todos que o Carpegiani pediu, trouxemos’. Já disse que não", ressaltou.

Carpegiani não quis responsabilizar o gerente de futebol Alex Brasil por qualquer desavença. “Ele foi o cara encarregado de buscar os jogadores que a direção lhe incumbiu. Tem muitas coisas que são apostas. Ele participou da nossa reunião sobre os jogadores que queríamos. Nem sempre foi conseguido".