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Brasileiro chamado de macaco diz que até filha de 4 anos sofreu racismo

Everton Luiz deixa o campo chorando - AFP PHOTO / STR ORG  - AFP PHOTO / STR ORG
Everton Luiz deixa o campo chorando
Imagem: AFP PHOTO / STR ORG

Adriano Wilkson e Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

20/02/2017 13h52

O volante brasileiro Everton Luiz, do Partizan de Belgrado, saiu de campo chorando após passar o jogo todo sendo chamado de macaco pela torcida adversária do Rad, rival da cidade. Ele se sentiu especialmente irritado porque nenhum dos jogadores rivais fez nada para deter as ofensas.

Everton já está na Sérvia há cerca de um ano. Meses antes do jogo de domingo, ele havia presenciado outra agressão racista quando uma garota local se aproximou de sua filha Luna, tocou seu cabelo e disse algo como "eca".

“Ela tem quatro anos, não entende muita coisa, mas ficou muito triste”, disse o jogador, um dos dois brasileiros do elenco do Partizan. “A mãe dela explicou o que tinha acontecido, aí ela se acalmou um pouco.”

Em entrevista ao UOL Esporte, Everton, de 28 anos, se mostrou ainda muito abalado pelo que aconteceu em campo domingo, no clássico local entre o Partizan e o Rad.

Na transmissão da partida, é possível ouvir os torcedores do Rad gritando “uh uh uh”. “Eles ficavam dizendo ‘monkey’ e imitando macacos. Isso foi no começo do jogo. Toda vez que me aproximava do gol para defender, ouvia os gritos mais alto”, disse Everton.

Goleiro Filip Kljajic consola o brasileiro Everton Luiz - AFP PHOTO / STR ORG  - AFP PHOTO / STR ORG
Goleiro Filip Kljajic consola o brasileiro Everton Luiz
Imagem: AFP PHOTO / STR ORG

Ao fim do jogo (vitória do Partizan por 1 a 0), o volante se aproximou dos agressores racistas e levantou o dedo para eles. Acabou levando um cartão amarelo por isso.

“Eu fiquei com muita raiva, e por isso acabei tomando aquela atitude. Quando acabou o jogo, o juiz foi o único que teve alguma atitude. Falou pra torcida parar e pra que os jogadores mandassem a torcida parar. Mas eles continuaram gritando. Os jogadores não tiveram atitude nenhuma. E ainda vieram para cima de mim, dizendo que o culpado era eu.”

Além das ofensas verbais, os torcedores do Rad levaram ao estádio uma faixa que, Everton depois ficou sabendo, mostrava xingamentos a ele. O volante, que passou pela Ponte Preta, pelo Palmeiras e é ídolo do CRB, de Maceió, disse não saber porque a torcida pegou tanto no seu pé especificamente.

Clube diz que Everton provocou torcida e fala em perseguição

Em nota oficial, o Rad afirmou que Everton provocou primeiro os torcedores do clube e se disse contra todas as formas de preconceito, citando outros jogadores do Partizan de outras etnias que não foram alvo de insultos da arquibancada. Os jogadores do clube também lançaram uma nota, na qual se disseram alvo de uma “campanha negativa da mídia”.

Os atletas do Rad admitiram os insultos racistas, porém: “Condenamos todas as formas de racismo e ódio nos estádios.”

O UOL Esporte entrou em contato com a assessoria de imprensa do Partizan. O clube lamentou o incidente e disse que o mais importante agora é manter Everton "seguro" e evitar que o atleta seja punido por causa do gesto que fez em direção aos torcedores adversários. A diretoria quer o jogador focado e longe de polêmicas antes do maior clássico do país, contra o Estrela Vermelha, no próximo dia 1º.

"Eles (torcedores do Estrela) talvez possam querer me provocar. Poderia acontecer alguma coisa, como uma expulsão. Agora, eu serei mais tranquilo. Se acontecer algo, tenho de ficar de cabeça mais fria", afirmou.

Everton diz gostar de morar na Sérvia e é ídolo no CRB

O volante vive em Belgrado com a esposa e seus dois filhos, Bernardo, de 2 anos, e Luna, de 4. Ele disse que domingo foi a primeira vez em que foi vítima de uma ofensa racista em campo e que tem uma boa convivência com os locais.

“Aqui é muito bom. Os torcedores gostam de mim e me respeitam. Recebi muitas mensagens de apoio depois do que aconteceu. Não penso em deixar de viver aqui, nem voltar para o Brasil no momento. Quero me recuperar disso, seguir em frente, pensar no campeonato, onde estamos numa boa posição.”

Em Alagoas, ele passou a ser idolatrado pela torcida do CRB depois de fazer um gol na final do Estadual de 2013 contra o rival CSA. Diretores do clube dizem que até hoje a torcida o quer de volta.