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O urso, o jacaré e o 'Galo Doido'. Como Roger quer equilibrar o Atlético-MG

Roger aposta no posicionamento para deixar o Atlético-MG mais equilibrado em 2017 - Bruno Cantini/Clube Atlético Mineiro
Roger aposta no posicionamento para deixar o Atlético-MG mais equilibrado em 2017 Imagem: Bruno Cantini/Clube Atlético Mineiro

Victor Martins

Do UOL, em Belo Horizonte

20/01/2017 04h00

A principal característica do Atlético-MG nos últimos anos foi a forma intensa de jogar no ataque. Estilo de jogo apelidado de ‘Galo Doido’, por partir para cima dos adversários como se não fosse preciso defender. Em 2016 foram 124 gols marcados, nenhum outro clube brasileiro marcou tantas vezes como o Atlético. Isso é uma coisa que o técnico Roger Machado quer manter para 2017. “Não quero perder isso não”.

Se o desempenho ofensivo é destaque positivo, os números defensivos do Atlético são preocupantes. Nas duas últimas edições do Campeonato Brasileiro a equipe alvinegra não teve fôlego para brigar pelo título com Corinthians, em 2015, e Palmeiras, em 2016, justamente por sofrer muitos gols. Foram 53 no ano passado e 47 na temporada anterior.

“O campeão do ano passado foi o Palmeiras e os números deles nos mostraram que o equilíbrio que deu o título. O nosso time, ofensivamente, teve números muito semelhantes ao do Palmeiras. O desequilíbrio se deu na forma de defender”, disse Roger Machado, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Mas o estilo de jogo ‘Galo Doido’ não surgiu em 2016 ou 2015. Um pouco antes, ainda com Cuca no comando técnico que o Atlético passou a jogar assim. A campanha vitoriosa na Copa Libertadores da América em 2013 foi um exemplo, assim como a Copa do Brasil de 2014, já com Levir Culpi. Viradas épicas, após grandes derrotas nos jogos de ida, fora de Belo Horizonte.

Alterar uma forma de jogar após tanto tempo não vai ser fácil. Mas é isso que Roger Machado tem treinado na Cidade do Galo nesses primeiros dias de 2017. Se parte da torcida cobra pela chegada de reforços, especialmente para o setor defensivo, Roger quer mesmo é ter um time mais bem posicionado, portanto, com zagueiros bem protegidos. Tanto que o treinador do Atlético compara a disputa entre um atacante e um defensor com uma luta entre um urso e um jacaré.

“Quando se defende, não podemos pensar apenas nos zagueiros ou nos volantes. É um processo coletivo. Zagueiro bom é zagueiro protegido. Sempre costumo fazer uma pergunta para eles. Na briga do urso com o jacaré, quem é que ganha?”, perguntou Roger, que em seguida explicou a resposta.

“Depende de onde vai acontecer. Se for na água eu aposto no jacaré. Agora, se for fora da água, eu aposto no urso. Na maioria das vezes, o que eu pretendo é: fica fora da área, urso. Fica protegido. Não que ele não vá se expor algumas vezes fora do seu setor, mas que isso seja um número inverso. Agora, se eu tiver a cobertura de um lateral ou de um volante, ele vai estar onde é mais importante, que é no centro do campo e perto da área. Isso para mim já vai gerar um equilíbrio defensivo”.

Um lateral fica e menos cruzamentos na área rival

Após quase duas semanas de muitos treinos táticos e técnicos, sempre em campo reduzido, o técnico Roger Machado comandou a primeira atividade coletiva, usando todo o gramado, nessa quinta-feira. Sempre parando o treino e orientando bastante os jogadores, já foi possível ver uma equipe privilegiando a troca de passes e poucos cruzamentos. E assim vai ser o Atlético a partir de agora, de acordo com Roger.

Um time melhor posicionado, proximidade para trocar passes e menos cruzamentos, diminuindo a chance de contra-ataques das equipes rivais.

“O futebol brasileiro se caracteriza muitas vezes com o apoio constante dos dois laterais ao mesmo tempo. Quando você joga em amplitude com os dois laterais, isso dá uma vantagem para você, porque os jogadores de beirada não vão ter espaço aberto e vão vir para dentro, junto com o centroavante, para esperar a bola para a definição da jogada. Por isso que no nosso futebol nós temos muitos cruzamentos. O que que eu proponho? Ao invés de ter amplitude com os dois laterais, vamos ter amplitude com os jogadores de beirada. E isso só já vai trazer um dos laterais para uma posição mais conservadora, já vai dar um equilíbrio mais defensivo. Ao invés de dois zagueiros, terei um lateral do lado da jogada apoiando o ataque e o outro segurando, para atacar por dentro ou se a bola virar, para se tornar um jogador de lado automaticamente. Assim, o outro lateral volta. Isso já gerar um equilíbrio, um equilíbrio pouco mais saudável para os zagueiros”.

‘Galo Doido’ segue, mas com a bola no chão

O Atlético não vai deixar de pressionar os adversários. Jogar no Independência ou no Mineirão, quase sempre é uma dificuldade para os rivais que visitam o clube alvinegro. Forma ofensiva de jogar que Roger quer manter em 2017. “Ela é base do nosso jogo”. Mas soltar a bola e dar um chutão para Leonardo Silva disputar a bola é algo que vai acabar. Assim como ver bolas jogadas no alto para que o centroavante brigue com os zagueiros. Foi assim com Jô, Lucas Pratto e Fred.

Embora os dois últimos centroavantes sigam na Cidade do Galo, o Atlético vai ser um time de muita troca de passes, com a bola no chão.

“Eu quero essa verticalidade. Tão logo que o time passar a primeira linha do adversário, temos de ter essa profundidade. A posse de bola tem de ter um sentido. Um jogo de posse só pela posse não tem objetivo. A posse tem de gerar um desequilíbrio no adversário, para que no primeiro momento eu ataque em profundidade. Essa verticalidade eu não posso perder. Tenho que manter. Agora, eu só preciso encontrar um melhor momento para atacar. Não posso perder essa característica, ela é base do nosso jogo. Só quero ter o equilíbrio um pouco mais defensivo quando a gente não tem a bola. E um equilíbrio defensivo na retomada. Temos feito bastante trabalhos de comportamento pós-perda, para você reagir rapidamente e poder manter essa característica ofensiva. Não quero perder isso, não”.