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Melhor do Brasileiro 2016, Daronco festeja jogo de título e mira Copa 2018

Pelo segundo ano seguido, árbitro do RS foi o vencedor do Pesquisão UOL - Aizar Raldes/AFP
Pelo segundo ano seguido, árbitro do RS foi o vencedor do Pesquisão UOL Imagem: Aizar Raldes/AFP

Vanderlei Lima e Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

31/12/2016 06h00

O árbitro gaúcho Anderson Daronco foi eleito o melhor do Campeonato Brasileiro 2016 pelos próprio jogadores da competição. O resultado, divulgado pelo Pesquisão UOL, repete a posição conquistada por Daronco na competição em 2015, quando também foi escolhido o melhor.

Para o gaúcho, o resultado é motivo de grande orgulho. “Fico feliz por este reconhecimento por parte de quem está envolvido diretamente no espetáculo. É a certeza de estar fazendo um bom trabalho”, comentou Daronco, em entrevista ao UOL Esporte.

Satisfeito com seu desempenho ao longo do Brasileirão, Anderson Daronco evitou apontar um jogo em especial como seu melhor na competição. Mas admitiu ter ficado feliz por ter sido escolhido para apitar Palmeiras 1 x 0 Chapecoense, jogo que garantiu o título à equipe paulista.

“Isso, para mim, é algo que acaba marcando. A gente não tem mais final no Campeonato Brasileiro, então as vezes tu está designado no jogo de definição de campeão. Isso é muito positivo, sinal da confiança da comissão de arbitragem, e sinal de que o trabalho está dando certo também”, comentou.

Aos 35 anos, como não poderia deixar de ser, Daronco ainda mira uma Copa do Mundo no currículo - mas sem passar por cima do trabalho de outros árbitros. “O objetivo é ser a cereja do bolo de uma carreira que eu já considero muito proveitosa”, disse.

Confira a entrevista de Anderson Daronco:

UOL Esporte: Você continua atuando como professor de educação física?
Daronco:
Não tem como. Pela rotina de viagens, tem muitos treinamentos fora, e cada jogo consome três dias da gente. Principalmente eu que não moro na capital (do RS, Porto Alegre; ele é de Santa Maria). Eu tenho que viajar mais 300 km até o aeroporto; então, para um jogo na quarta-feira, eu saio na terça-feira cedo e chego na quinta-feira à tarde. Então, não tem como.

UOL Esporte: Em 2015, você disse que foi o “ano do mimimi” - muita reclamação de jogadores e dirigentes. Neste ano, 2016, a coisa melhorou?
Daronco:
É claro que vamos evoluindo. É claro que esta parte do choro, da reclamação ou tentativa de condicionamento, ela vai pelo nível de disputa de campeonato, principalmente no que diz respeito à quantidade de equipes que estão disputando. Conforme elas vão acontecendo, a gente teve, sim, episódios no último Campeonato Brasileiro - de conhecimento de todos - no que diz respeito ao “mimimi”. Mas, como eu disse, entende-se isso como parte do jogo. Embora a gente não goste disso, a gente sabe que isso é frequente e que a tendência é continuar, até pela própria cultura do futebol brasileiro.

Sempre existem algumas exceções neste sentido, mas está melhorando esta questão do respeito para com a arbitragem, e eles têm procurado, sim, colaborar. Creio que é por causa de um melhor trabalho da arbitragem, um processo de conscientização também de que é necessário o respeito para com a figura do árbitro. E isso já vem desde o ano passado, naquele sentido da cruzada pelo respeito. Isso foi o trabalho de conscientização por parte de jogadores, atletas, dirigentes, da própria imprensa e com a arbitragem atuando de maneira muito firme. A gente, procurando dar a sequência neste ano de 2016 também, eu creio que vai criando uma mentalidade e se educando neste sentido.

Prova disso é que cada vez mais a gente tem tido jogos com excelente tempo de bola em jogo. Isso não é por acaso que acontece. Então, quanto menos reclamações, protestos em relação ao árbitro, mais se joga futebol e o jogo fica mais gostoso pra quem está assistindo. No ano passado, mediante a implantação da cruzada pelo respeito pela figura do árbitro no caso de suas decisões no campo de jogo, nós tivemos um excelente número de jogos com o tempo acima daquilo que a Fifa estipula como ideal. Neste campeonato, então, foi muito acima daquilo que se esperava neste sentido. Creio que a arbitragem vai continuar trabalhando neste sentido. Então, é um trabalho que é em conjunto da própria arbitragem, com os jogadores, com dirigentes - tudo para que a gente tenha cada vez mais um jogo limpo e um jogo mais prazeroso de ser assistido por todos aqueles que amam o futebol.

Daronco, árbitro da CBF - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Para Daronco, menor número de reclamações resultou em mais tempo de bola rolando
Imagem: Reprodução/Facebook

UOL Esporte: Pelo segundo ano consecutivo, você é o melhor árbitro do Campeonato Brasileiro pela pesquisa UOL. Qual é o balanço que você faz?
Daronco:
Eu fui eleito por eles, pelos jogadores. Fico feliz por este reconhecimento por parte de quem está envolvido diretamente no espetáculo. É a certeza de estar fazendo um bom trabalho – se lembram do meu nome também com respeito, é sinal que tem respeito também da minha parte em relação a eles, jogadores. Creio que isso é muito importante. Daqui a pouco, se não houvesse essa lembrança, aí poderia ter alguma coisa errada na minha conduta. Mas isso só reforça a conduta que eu venho tendo, e ter esse reconhecimento no meio de tantos outros árbitros é algo que me deixa bem orgulhoso, de verdade. Eu considero a nossa arbitragem muito boa.

UOL Esporte: Os jogadores brincam com você a questão de ser chamado de “árbitro fortão”?
Daronco:
Ah, às vezes tem - no informal, no bate-papo. Mas eu sempre julgo que o que vai fazer o sucesso do árbitro é a qualidade técnica, seu grau de acerto. Isso não significa que eu acertei sempre – é claro que cometi equívocos, vou continuar cometendo, e torço para que no meu trabalho isso seja amenizados. A tendência é sempre trabalhar neste sentido.

UOL Esporte: Depois de trabalhar no jogo, você assiste em casa à partida em que trabalhou, por exemplo?
Daronco:
Eu, particularmente, sempre assisto os jogos em que eu trabalho. Mas procuro dar um tempinho para eu poder fazer uma melhor análise da minha atuação. Eu não posso estar com o jogo, com as minhas decisões frescas na mente, entendeu? Penso que é melhor deixar passar um pouco ali, alguns dias, ou, de repente, um outro jogo ainda. Porque tu consegue esquecer bem e aí focar realmente naquilo que tu tem que melhorar, ver certinho aquilo que tu fez de positivo, o que não foi tão positivo, para que possa ser melhorado – e, é claro, às vezes a gente também tem, conforme a atuação, um feedback da comissão de arbitragem, de instrutores. Existe este acompanhamento.

UOL Esporte: Qual foi o jogo do Brasileiro de 2016 em que você trabalhou mais “redondo” na sua opinião? Aquele em que, na sua análise, você tirou um 10?
Daronco:
Tiveram alguns, mas é difícil citar aqui um jogo positivo ou algum jogo que tenha marcado pelo aspecto negativo. Citar pelo lado positivo, sempre fica alguma coisa ou outra, alguma tomada de decisão que às vezes não é legal e tu poderia ter feito diferente, mas que não veio impactar no jogo. Então, isso acaba não aparecendo, mas para quem é da arbitragem, a gente entende. Então, são vários (jogos). Eu tive a oportunidade de apitar 22 jogos na Série A e posso dizer que em 90% foi tudo OK. Claro que, se for analisar certinho um aqui, poderia ter melhor conduta em um ponto, outro em outra…

Eu não gosto realmente de pontuar esse ou aquele jogo. Só fico feliz novamente de ter trabalhado no jogo considerado final do campeonato: Palmeiras 1x0 Chapecoense. Isso, para mim, é algo que acaba marcando. A gente não tem mais final no Campeonato Brasileiro, então às vezes tu está designado no jogo de definição de campeão. Isso é muito positivo, sinal da confiança da comissão de arbitragem, e sinal de que o trabalho está dando certo também. Então, foi muito bom ter trabalhado neste jogo.

Agora, não significa que tenha sido um jogo de atuação nota 10 minha. Não é neste sentido. Então, é difícil eleger um jogo. De repente, eu elejo um, e se for procurar, sempre tem alguma coisa. Eu não gosto de pontuar um jogo - até será uma falta de respeito da minha parte em relação às outras equipes e aos outros jogos, entendeu? É difícil tomar gosto por um só jogo.

Palmeiras x Chapecoense, Brasileiro 2016 - Nelson Almeida/AFP - Nelson Almeida/AFP
Daronco atuou em Palmeiras 1 x 0 Chapecoense, jogo que deu título ao time paulista
Imagem: Nelson Almeida/AFP

UOL Esporte: Qual o seu sonho como árbitro?
Daronco:
Claro que o sonho de todo árbitro é uma Copa do Mundo. Quando a gente começa a apitar, a gente vai estabelecendo metas a curto prazo e a longo prazo, e creio que, a longo prazo, todo árbitro se enxerga apitando uma Copa do Mundo.

Claro que isso é um processo muito difícil - é uma competição que acontece de quatro em quatro anos e só vai um (árbitro), e realmente é uma peneira muito grande. Mas com certeza isso é o meu sonho. Não significa também, se eu não atingir esse sonho, que a minha carreira como árbitro não vai ter sido feliz, digamos. Pelo contrário: o objetivo é ser a cereja do bolo de uma carreira que eu já considero muito proveitosa - principalmente dados os aspectos aí de quando eu comecei aqui no Rio Grande do Sul, no interior, apitando jogos de futebol amador.

Aí, ter a possibilidade de um dia apitar a primeira divisão do Campeonato Gaúcho já era algo que eu esperava que nunca ia acontecer. Depois, (ser) indicado para o quadro nacional dos árbitros da CBF, você pensa: “poxa, vou trabalhar no Campeonato Brasileiro”… Tu tinha um sonho de apitar no Maracanã, no Mineirão, e tu acaba conseguindo. Então, são várias pequenas metas, etapas que vão se concretizando. Daqui a pouco, é trabalhar em uma partida internacional, trabalhar em um jogo de eliminatórias de Copa do Mundo, um jogo de Libertadores da América, trabalhar no Sul-Americano Sub-20… Poxa, isso me deixa muito honrado.

Então, são etapas que a gente vai cumprindo, e com certeza, quando eu terminar a minha carreira, eu vou ter histórias para contar. É isso que fica da carreira do árbitro: eu ter deixado algum legado algo respeitoso em relação a sua carreira. Essa própria eleição pelos atletas duas vezes seguidas, pelo UOL, isso é legal. Eu tenho histórias para contar para as pessoas, para os meus netos, filhos… Enfim, é algo que realmente enche de orgulho.”

UOL Esporte: Indo do jeito que está o seu trabalho, você acredita que estará na Copa em 2018 na Rússia? Dois foram pré-selecionados - o Wilton Sampaio e o Sandro Meira Ricci…
Daronco:
 Ah, é difícil. Lógico que eu desejo, mas também eu tenho que respeitar que existem outros colegas que também tem o mesmo desejo. Tem outros colegas que estão trabalhando neste sentido há mais tempo que eu. Então, se for analisar, muitos tem merecimento nisso. Já existe um processo aberto em relação à Copa do Mundo, e o meu trabalho é deixar uma pulga atrás da orelha das pessoas que são responsáveis por isso.

Mas é como eu disse: entendendo que já existe um processo neste sentido, existem outros árbitros que já vêm sendo trabalhados até há mais tempo do que eu. Então, eu tenho que respeitar isso. É o sonho de todos, e, assim como eu gosto que respeitem o meu, eu também respeito o sonho dos meus colegas, porque é o mesmo que o meu.

Não significa que, se eu fizer boas temporadas no Campeonato Brasileiro, vai me credenciar a isso - não, tem todo um processo de ganho de confiança, tanto a nível sul-americano e a nível mundial também. Eu comecei com 18 anos na arbitragem, eu comecei em 99. São 17 anos de arbitragem, hoje estou com 35 anos de idade.

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