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Torcedores da Chape encaram jejum, vigília por corpos e 40 h sem dormir

Bruno Freitas e Luiza Oliveira

Do UOL, em Chapecó*

30/11/2016 00h39

A dor da tragédia assola a cidade de Chapecó. E os torcedores da Chapecoense vêm enfrentando uma verdadeira maratona para prestarem suas homenagens aos ídolos que deram tantas alegrias. Eles iniciaram nesta terça-feira uma vigília na Arena Condá para esperar a chegada dos corpos da delegação que morreram horas antes em um acidente aéreo nos arredores de Medellín (Colômbia).

Parte da torcida já começou um acampamento na Arena Condá enquanto os corpos das vítimas não retornam ao Brasil. Autorizados pela Chapecoense, cerca de 35 deles se instalaram no estacionamento do estádio do clube catarinense.

Quem está lá não arreda pé. “A gente não pensa em sair daqui. É muito amor ao clube. Com certeza eles estão vendo a gente lá de cima”, afirmou Américo Ribeiro, um dos acampados.

A opinião era semelhante à de Thainara da Silva. “Eu participo diretamente da torcida. Não tem como não se comover, a gente organizava a festa e agora vamos organizar a festa para quem? Fim de semana era sempre a mesma coisa. É uma forma de homenagem porque a gente nunca vai abandonar o time. E não vai ser agora. Não vamos arredar o pé daqui”, disse a estudante de 18 anos.

Os jovens estão encarando uma noite fria em Chapecó com previsão de os termômetros marcarem até 13º C durante a madrugada. Por isso, contaram com a ajuda de amigos para levarem colchonetes e cobertores. Uma corrente de solidariedade também ajudou na alimentação. Hoje à tarde, eles tiveram pão com mortadela e prepararam um cachorro quente durante a noite. 

A saga, no entanto, começou muito antes. Assim que souberam da notícia logo cedo, torcedores já começaram a se mobilizar para ir ao estádio. O estudante Fernando Albert, de 17 anos, soube das notícias pela manhã e já saiu de casa. “Comecei a juntar a gurizada e viemos para cá. Só vamos sair quando os corpos chegarem. Não tem tempo ruim. A gente fica até eles chegarem”, anunciou.

Há ainda quem esteja há muitas horas sem dormir. O estudante David Henrique da Rosa já ficou 40 h de olhos abertos e promete ainda mais. Ele havia acordado na segunda-feira às 9 h da manha e não tinha se deitado ainda quando começaram a serem divulgadas as primeiras notícias do acidente. O jovem começou a mobilizar os grupos de Whatsapp dos torcedores e a buscar informações pela internet durante a madrugada. 

Virou a noite e ainda estava ligado quando seu pai acordou por volta de 6h para tomar café e trabalhar. Ainda nas primeiras horas ele foi para o estádio e desde então não saiu mais. Jura que ficará de prontidão até os corpos chegarem. "Eu comecei a ver as notícias e achei que era mentira. Achei que pudesse ser só um pouco forçado. Mas depois as informações foram se confirmando. Eu estou muito mal, é impossível dormir".
 
Se David pode desfrutar de ao menos um cachorro quente, outros torcedores encaram um jejum pesado. A estudante Joana Riedo foi ao estádio para prestar sua homenagem e estava aos prantos sendo consolada por amigos durante todo o tempo. Ela também não dormiu durante a noite e não conseguiu se alimentar durante todo o período. Já estava de jejum havia mais de 15 horas. "É uma dor tão grande que eu não sinto fome. Não dá para acreditar".
 
Os torcedores viveram uma verdadeira saga. Eles se reuniram logo cedo no estádio e, no fim da tarde, participaram de uma missa na catedral da cidade. Por volta de 19 h, voltaram para a Arena Condá, onde fizeram uma manifestação para a abertura do portão. O que se viu foi uma linda homenagem dos torcedores entrando no estádio com cantos em homenagem aos atletas.  
 
A Chape viajava para enfrentar o Atlético Nacional nas finais da Copa Sul-Americana 2016. Entretanto, o avião que levava a delegação – além de jornalistas – caiu pouco antes de pousar. Ao todo, morreram 71 pessoas.
 
Os corpos das vítimas do acidente ainda estão na Colômbia. A tendência é que retornem ao Brasil entre os dias 1 e 2 de dezembro, após uma identificação inicial.
 
*Atualizada às 4 h