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Quase 7 a 1: Palmeiras de Luxa humilhou campeão alemão em jogo "esquecido"

Time do Palmeiras posa para foto oficial antes de jogo de 1996 - Eduardo Knapp/Folhapress - Eduardo Knapp/Folhapress
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

12/11/2016 06h00

22 de janeiro de 1996. A data remete a um jogo que acabou ‘esquecido’ na memória de muitos, mas não na de palmeirenses mais fanáticos e apreciadores de bom futebol que já tinham, na época, o esporte como uma paixão. Vanderlei Luxemburgo, que havia reassumido o time em novembro de 1995 na vaga de Carlos Alberto Silva, estava à frente de um trabalho ainda no começo, mas bastante promissor. Prova disso foi a goleada por 6 a 1 sobre o Borussia Dortmund em partida válida pela Copa Euro-América, disputada no Castelão, em Fortaleza, sob muito calor.

Rivaldo, Muller, Luizão, Cafu e Júnior eram alguns dos craques que ‘acabaram’ com o então campeão alemão (94/95) e futuramente da Liga dos Campeões, em 1997. O time faria história no Paulista do mesmo ano, com o ataque de mais de 100 gols, e ficaria marcado na memória não só dos torcedores alviverdes, mas também dos atletas que puderam fazer parte da equipe.

Luizão atuando pelo Palmeiras no Campeonato Paulista de 1996 - Jorge Araujo/Folha Imagem - Jorge Araujo/Folha Imagem
Imagem: Jorge Araujo/Folha Imagem
“Depois eu até cheguei a jogar com o Tretschok no Hertha Berlim, acho que foi ele quem marcou o gol do Borussia, e eles ficaram espantados com a gente. Eles meio que não acreditaram... O nosso time sendo montado e de cara enfrenta o campeão alemão, poxa, e carimba bem o título deles. A repercussão na época foi grande no Brasil todo, ali a gente mostrou para o que veio aquela equipe até a metade de 1996”, recorda Luizão, autor de um dos seis gols palmeirenses, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Além de Luizão, Rivaldo, três vezes, Cafu e Elivélton completaram a histórica goleada palmeirense que garantiu ao Palmeiras o título do torneio. Como foi disputado em um sistema de pontos corridos, o time de Luxa se tornou campeão após vencer o Borussia e empatar por 1 a 1 com o outro participante da competição, o Flamengo, somando assim quatro pontos. Os cariocas, que já haviam empatado com os alemães no outro jogo também por 1 a 1, ficaram com dois pontos, enquanto o Borussia Dortmund, com apenas um ponto, foi o lanterna.

Elivélton, responsável por fechar a conta no Castelão, recorda que quase não jogou a partida. “Eu estava chegando ao Palmeiras naquele ano e era um dos jogos de preparação, e eu estava cansado para caramba porque eu tinha treinado cedo e o preparador físico [Luíz Inarra] quase acabou com a minha raça. Teve esse torneio à noite e eu nem ia entrar no jogo, mas depois o Vanderlei me chamou e eu estreei no Palmeiras diante de um baita elenco daquele, e tive a felicidade de marcar o meu primeiro gol pelo Palmeiras”, recorda o ex-meia-atacante.

“Eu fiquei muito feliz de ter participado de uma equipe que foi vitoriosa e que entrou para a história, mais de 100 gols no Paulistão, e por ter perdido um jogo só, infelizmente, para o Guarani. O Cafu pegou a bola e eu já saí gritando para ele, e ele só colocou a bola para frente. Mesmo cansado, eu pego a bola no meio-campo e eu tenho a felicidade de marcar. Eu tentei a primeira vez, acho que bateu na perna do goleiro, e a bola sobrou para mim ainda. E aí já tinham dois ou três jogadores alemães. Eu enchi a perna depois e a bola entrou”, relembra.

Müller beija Sandro, autor do gol do Palmeiras sobre a Portuguesa, no Campeonato Paulista de 1996 - Folhapress - Folhapress
Imagem: Folhapress
O Palmeiras foi para o intervalo com dois gols de vantagem. Na etapa final, logo aos 8min, Tretschok diminuiu e recolocou o Borussia no jogo. Mas a partir dos 24min, com Rivaldo, o Palmeiras deslanchou e massacrou o time alemão, surpreendendo até os jogadores alviverdes. “A gente esperava um jogo muito parelho, claro que surpreendeu por ser tão elástico. Deu-nos a vantagem de jogar contra o Flamengo por um empate, tanto que o empate contra nos deu o título. E o comentário era que a gente dali imaginava-se que seria um ano de muitas glórias, porque surpreendeu muita gente aquele placar, tratando-se de uma grande equipe. Mas pegou a gente de surpresa também, a gente estava em início de temporada e deu pra ver que seria um bom ano para gente, este placar mostrou a cara do que o time ia ser”, recorda o ex-zagueiro Sandro Blum, que assim como Elivélton mal havia chegado ao elenco.

“Para mim, naquele ano de 96, dos 102 gols no Paulista, o jogo mais marcante foi os 6 a 1 contra o Borussia Dortmund. Foi a minha estreia no Palmeiras, eu havia chegado e estava em meio à pré-temporada, e nos primeiros jogos do Torneio Início, torneio de abertura do Paulistão, eu não era titular, só que naquela viagem à Fortaleza, na preleção do hotel, o Vanderlei comunicou que eu sairia jogando. Não digo que foi surpresa, a gente estava aguardando essa oportunidade...”, lembra o parceiro de Cléber na zaga palmeirense.

“Foi a minha estreia, muito importante pra mim. A equipe se portou muito bem e dali para frente seria a minha titularidade. Marcou também porque o adversário vinha muito bem, a equipe era campeã alemã, um dos fortes da Europa, e muitos diziam que eles estavam no meio da temporada e a gente estava começando - o Vanderlei estava montando o Palmeiras - e que poderia ser muito difícil para gente”, acrescenta Sandro Blum.

De acordo com o ex-zagueiro, o clube alemão chegou até a propor uma revanche, que acabou não acontecendo. “Eles queriam que a gente fosse pra a Alemanha para ter a revanche, mas por causa de calendário essa revanche nunca aconteceu. Para gente foi ótimo, mas para eles foi um golpe duro, foi duro de aguentar levar de seis, e por isso os comentários que eles queriam levar este jogo de volta para a Alemanha para ver se a gente ia conseguir repetir ou não. Eu tinha feito alguns jogos até então pelo Juventude, mas nada contra algum clube da Europa, então pra mim marcou por causa disso”, revela o ex-palmeirense.

Calor ajudou o Palmeiras?

Realizado em 22 de janeiro, o jogo, apesar de ter ocorrido no período da noite, aconteceu debaixo de muito calor. Os próprios palmeirenses até admitem que este foi um fator que acabou ajudando os jogadores alviverdes ao longo da partida, já que os alemães deixaram seu país em pleno inverno europeu.

“O calor era muito forte. Naquela época, na Alemanha, em janeiro, é muito frio. Eles estão começando a pré-temporada, tem uma parada na Alemanha... Você volta a treinar dia primeiro e 2 de janeiro, eles têm 15 dias de paralisação, e depois você volta a treinar para a competição quando retorna. Então isso contribuiu, e a viagem também”, admite Luizão.

“Tiveram dois fatores importantes: um, o calor, e dois, terem pegado o Palmeiras que tinha um baita elenco e que estava em fase de preparação, e a turma queria mostrar serviço. Então eles deram azar de ter pegado um Palmeiras bem preparado e com todo mundo mostrando serviço, querendo jogar, isso foi o ponto determinante para o placar elástico”, disse Elivélton.

FICHA TÉCNICA

Palmeiras: Velloso; Gustavo, Sandro (Cláudio), Cléber (Tonhão) e Júnior; Galeano, Cafu, Osio (Elivélton) e Rivaldo; Müller e Luizão (Wágner) Técnico: Vanderlei Luxemburgo
Borussia Dortmund: Debert; Schimdt, Matthias Sammer e Krustok; Reuter, Freund, Andreas Möller (Olt), Reinhardt (Volters) e Itterlich; Riedle (Herrlinch) e Chapuisat (Tretschok) Técnico: Ottmar Hitzfeld

Local: Castelão, em Fortaleza (CE)
Árbitro: Marcos Brasil

Gols: 
1º tempo: Luizão e Rivaldo
2º tempo: Tretschok, Rivaldo, Cafu, Rivaldo e Elivélton