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MP quebra sigilo de namorada para investigar comissão a Aidar no SP

Cinira Maturana ao lado de Carlos Miguel Aidar e Ataíde Gil Guerreiro no CT da Barra Funda - André Lucas Almeida/Futura Press/Folhapress
Cinira Maturana ao lado de Carlos Miguel Aidar e Ataíde Gil Guerreiro no CT da Barra Funda Imagem: André Lucas Almeida/Futura Press/Folhapress

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

15/07/2016 15h07

Em procedimento para investigar supostos delitos de Carlos Miguel Aidar na presidência do São Paulo, Grupo Especial de Delitos Econômicos do Ministério Público de São Paulo (GEDEC) solicitou a quebra do sigilo financeira da TML Foco Consultoria, empresa de Cinira Maturana, namorada de Aidar durante seu período como presidente. Cinira tentou, sem sucesso, barrar a medida na Justiça.

A quebra acontece dentro do Procedimento Investigatório Criminal nº4/2016, do GEDEC. Ele investiga o pagamento de comissões indevidas a Carlos Miguel Aidar durante seu período na presidência do São Paulo – particularmente em negociações de atletas e de contratos de marketing ou patrocinadores.

Na Justiça, Cinira já entrou com duas ações (um mandado de segurança e um habeas corpus) tentando barrar a quebra de sigilo, mas teve duas liminares negadas. Ambas as decisões admite que há indícios de crime ou ilegalidades na atuação do presidente e da ex-namorada dentro do clube do Morumbi.

“De qualquer maneira, o que se assentou é que o sigilo bancário não é absoluto e haveria de ceder espaço à moralidade nas hipóteses em que as transações bancárias indiciassem ilicitude, como se observa no caso”, diz o juiz Marcelo Gordo em decisão à qual o UOL Esporte teve acesso.

Os processos correm em segredo de Justiça. Procurada pela reportagem, Cinira afirmou que não tinha conhecimento deles, e retornaria quando tivesse mais informações.

Lista de polêmicas e suspeitas é longa

Durante a gestão Aidar no São Paulo, Cinira teve seu nome envolvido ao lado do então presidente em diversas polêmicas. A principal delas foi a venda fracassada de Rodrigo Caio: a então namorada do presidente viajou à Espanha como representante do São Paulo para tratar da venda do zagueiro.

Além do próprio caso de Rodrigo Caio, Cinira teve o nome envolvido em relações polêmicas desde o início da gestão de Carlos Miguel Aidar. Ela mantinha um contrato com o clube pelo qual teria direito a 20% de comissionamento sobre qualquer negócio levado à diretoria são paulina. O acordo foi revelado em dezembro de 2014, e rescindido em janeiro do ano seguinte, após forte pressão interna e instabilidade política.

Com base no contrato, Cinira teria iniciado buscas por patrocinadores e fornecedores de material esportivo. Também no final de 2014, o São Paulo se envolveu em uma briga com a Puma: Aidar sustentou que sua namorada teria sido uma das responsáveis por intermediar as conversas com a empresa alemã, que negou o fato em nota oficial, afirmando que Cinira teria sido indicada por Aidar só após a conclusão das negociações. O caso virou ação judicial, que acabou arquivada por desistência.

O nome de Cinira voltou a aparecer ligado a negociações de patrocínio na gravação feita por Ataíde Gil Guerreiro que levou à renuncia de Aidar. No áudio, Ataíde menciona um contrato de comissão de R$ 6 milhões à namorada do presidente, pelo acordo com a fornecedora de material esportivo Under Armour. Aidar nega, mas admite que Cinira tentou intermediar e participar das negociações.

Acusações de desvio de dinheiro do São Paulo por parte de Cinira e Aidar também são alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo. A Folha de S.Paulo publicou no final de março trechos do depoimento do ex-CEO do clube do Morumbi, Alexandre Bourgeois, ao MP-SP.

Ao órgão, Bourgeois relatou que o presidente do São Paulo e sua então namorada exigiam o pagamento de comissão nas transferências de jogadores – um dos exemplos citado por ele próprio foi o de Rodrigo Caio. O executivo também afirmou que Cinira participou contratação de Iago Maidana, uma das transações mais polêmicas do futebol brasileiro no ano passado.

Mesmo afastada das atividades do São Paulo desde a renúncia de Aidar, em outubro, Cinira continua tendo seu nome envolvido em polêmicas ligadas ao futebol – na última delas, revelada pelo Blog do Perrone, uma escolinha de futebol afirma ter negociado com ela para utilizar o nome do clube, para depois descobrir que não constava da relação de escolas oficiais.