Getterson revela choro após decisão do SP e não poderá ajudar pai boia-fria
A maior vontade de Getterson na vida é olhar no olho do pai e falar que ele não precisa mais ser boia-fria. Poder dizer à mãe que ela não precisa mais ser cozinheira. Foi este momento que o atacante perdeu quando teve o contrato com o São Paulo revogado por causa de posts no Twitter em 2011 e 2012 exaltando o Corinthians.
O dinheiro do contrato que assinaria com o time do Morumbi seria suficiente para reformar a casa em que os dois moram, no interior do Paraná, e dar descanso para quem tem sobre os ombros uma existência de trabalho duro. Depois do desfecho da história, Getterson conta que foi difícil se controlar ao entrar num quarto do centro de treinamento do São Paulo e saber que precisava voltar para o J. Malucelli, clube de Curitiba. Ele ganha R$ 5 mil no clube do Paraná e viu ruir a chance de poder agraciar a família.
“Foi lá que não aguentei segurar as lágrimas. Estava no quarto sozinho e acabei chorando”, disse o jogador em entrevista ao UOL Esporte.
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O atleta não foi o único, a mulher também chorou. Desmoronava um sonho acalentado havia meses, desde o primeiro contato do São Paulo com o empresário de Getterson. O atleta não esconde que ficou abalado psicologicamente. Bastante religioso, rezou.
“Orei para Deus, pedi sabedoria para lidar com isso. Que Deus conforte meu coração, que ele pudesse suprir minhas necessidades, confortar minha família...”
Metade cheia do copo
Mas a história de Getterson também é de superação. Ele nasceu em Engenheiro Beltrão, cidade de 13,9 mil habitantes no interior do Paraná. A região de terras férteis abriga plantações de café e cereais, mas a família do atacante pertence ao elo mais fraco do agronegócio. O pai de Getterson é boia-fria. Este era o futuro desenhado para um menino que nunca usou uma chuteira enquanto morou na cidade natal.
“Não fosse o futebol, ia trabalhar no campo que nem o pai. Ia estudar até onde desse e trabalhar na roça. O futebol mudou minha vida”.
O tempo em Engenheiro Beltrão foi complicado. Getterson jamais teve uma camisa de clube de futebol e possuía somente um tênis bem capenga. Por este motivo, vivia descalço, inclusive para jogar bola. As privações apareciam também na hora das refeições, a proteína não era carne.
"Comia ovo. Não tinha ovo, só arroz e feijão. Às vezes só feijão".
A mudança nos rumos aconteceu em 2004. Foi uma choradeira na rodoviária de Engenheiro Beltrão quando a mãe de Getterson viu o caçula dos sete filhos partir para morar em Londrina aos 12 anos. O menino não deixou por menos, chorou muito.
A despedida dolorosa funcionou como combustível para buscar os sonhos que começavam no PSTC, clube da nova cidade. Ver os pais tristes deu um tom de missão à tentativa de vencer no futebol. Ainda que tenha chorado em silêncio na primeira semana de alojamento, logo Getterson se adaptou a dividir o quarto com três desconhecidos.
São Paulo não foi o primeiro grande que escapou
Os dias se resumiam a estudo e bola. Mesmo no final de semana ele jogava futebol no alojamento porque não havia dinheiro para outra forma de lazer. Esta foi a rotina de Getterson por três anos, até mudar para Porto Alegre. Ir para as categorias de base do Internacional encheu o moleque de confiança.
O time gostou do futebol do atacante e tentou a contratação. A empolgação virou frustração porque o PSTC não chegou a um acordo financeiro com o Inter. Ou seja, o São Paulo foi a segunda bola na trave.
Getterson subiu para o profissional no Coritiba, mas em dois anos de contrato pouco jogou. Ele seguiu para equipes do interior paranaense e finalmente marcou o primeiro gol. Foi contra o Paraná e de voleio, algo que o atleta se orgulha muito.
“Tenho o vídeo até hoje. Vi muito na época e até hoje vejo de vez em quando”.
A felicidade foi efêmera
A boa temporada no J. Malucelli chamou a atenção do São Paulo. Depois de meses de análises de vários mandachuvas, Getterson foi apresentado na manhã de quarta-feira. A alegria acabou no começo da noite por causa de posts enaltecendo o Corinthians no Twitter.
Getterson tentou explicar que foi em outra época e ele não era mais a mesma pessoa. Acrescentou que era fã de Ronaldo e a simpatia com o Corinthians era consequência desta admiração. Mas a palavra "bambis" em uma publicação não foi perdoada pela torcida são-paulina.
Na quinta-feira Getterson voou de volta para Curitiba. Descobriu que algumas lições que a vida ensina cobram um preço alto. O jogador deve tirar um dia para assentar a cabeça e passar um tempo com a mulher e o filho de seis anos. No sábado, retorna aos trabalhos no J. Malucelli.
Seus 25 anos permitem almejar um contrato com um grande do futebol e poder dizer as palavras dos sonhos aos pais.
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