Entenda como a saída do Reino Unido da União Europeia pode afetar o futebol
A aprovação popular à saída do Reino Unido da União Europeia indica um processo que parece irreversível e terá efeitos nos esportes, principalmente no futebol. Com base em um estudo divulgado em março pela rede de televisão "BBC" e em questões levantadas pela imprensa britânica, o UOL aponta algumas mudanças e debates que podem ocorrer no futebol britânico quando concluída a ruptura, o que deve durar até dois anos.
Principal mudança
Pensando nos campeonatos locais, o principal impacto da saída seria uma mudança na configuração das equipes em caso de impossibilidade de adaptação. Se o Reino Unido deixar o bloco comunitário, pouco mais de 400 jogadores que atuam em alguma das divisões do Campeonato Inglês e das ligas de Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte deixariam de atender aos requisitos para jogar no Reino Unido.
Os jogadores que possuem um passaporte europeu podem hoje jogar livremente no Reino Unido, mas aqueles que não dispõem precisam de uma licença de trabalho outorgada pelo Ministério do Interior britânico. Especialmente na Premier League o efeito seria grande.
Impacto na Premier League
A Premier League exige uma licença de trabalho a todos os jogadores extracomunitários, que é concedida se o jogador tiver disputado uma porcentagem de partidas internacionais de sua seleção nos dois últimos anos, e esta tem que estar entre as 50 melhores do mundo. Ela varia de 30% para seleções top-10 no ranking da Fifa até 75% nas piores. Caso esse requisito não possa ser cumprido, é necessário provar que o jogador tem uma qualidade excepcional.
Segundo o estudo, mais de 100 jogadores da Premier League poderiam ser afetados, e equipes como Aston Villa, Newcastle e Watford perderiam até 11 membros dos elencos da temporada de 2015/2016.
Como consequência, é esperado também um desaquecimento no mercado de transferências, pois diminuiria as opções de contratação de jogadores. Não à toa, o diretor-executivo da Premier League, Richard Scudamore, é contrário à saída.
Efeito colateral poderia fortalecer seleção
Apesar de uma posição quase unânime de pessoas envolvidas com o futebol britânico que o primeiro impacto seria negativo, há defensores de que a longo prazo a mudança seria benéfica principalmente para o futebol inglês. Os clubes precisariam ficar mais focados na formação de atletas.
Nesta tese, a maior beneficiada seria a seleção inglesa. Uma das explicações para os constantes fracassos do English Team – nunca ganhou uma Eurocopa e tem uma Copa do Mundo conquistada em 1966 – é o grande número de jogadores estrangeiros atuando na Premier Legue, o que inibiria o desenvolvimento local
Possível adaptação
Caso concluída a saída, existe também a forte possibilidade de adaptações de legislações específicas para diminuir o impacto nos diversos campos. O professor Raymond Boyle, da Universidade de Glasgow (Escócia), acredita que, se o Reino Unido deixar a UE, a legislação sobre as permissões de trabalho voltará a ser estudada e pode ser modificada, como acontece com países como Noruega e Suíça.
"Me surpreenderia muito se a legislação não for replanejada. Países como Suíça e Noruega têm na atualidade regras à parte", declarou Boyle.
Jogadores ingleses pela Europa
Outro efeito esperado é uma possível desvalorização de jogadores britânicos em outras ligas pela Europa. Sem passaporte europeu, eles teriam que se somar a sul-americanos, africanos e atletas de outras nacionalidades na disputa pelas três vagas destinada a extracomunitários.
Na prática, Gareth Bale já é motivo de preocupação para o Real Madrid. O clube pensa em uma longa de renovação de contrato, mas segundo o AS reavaliará o tempo que será oferecido por temer ficar preso a um jogador extracomunitário, o que limitaria suas ações no mercado.
Contratação de jovens
Outro aspecto importante será o impacto na contratação de jovens jogadores. Uma lei da Fifa libera a transferência de jogadores entre 16 e 18 anos apenas em território europeu e sob certas condições. Com o Reino Unido fora da União Europeia, os clubes teriam dificuldades em contratar revelações. Atualmente, mais de 70 jogadores nesta faixa etária jogam na Premier League.
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