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Árbitro pode ser denunciado por apoio a Bolsonaro em postagem e desabafa

Marcelo de Lima Henrique criticou os incentivadores de "boiolices" - GETTY
Marcelo de Lima Henrique criticou os incentivadores de 'boiolices' Imagem: GETTY

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

26/04/2016 16h27

O árbitro Marcelo de Lima Henrique corre o risco de ser denunciado no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por conta de uma postagem no Facebook em que elogia o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e reforça o ‘não apoio a boiolices’.

O post de Marcelo de Lima Henrique aconteceu após a votação da Câmara para abertura (ou não) do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, realizada no dia 17 de abril.

Durante a votação, Bolsonaro resolveu homenagear o coronel Carlos Brilhante Ustra, conhecido torturador na época da ditadura militar. Tal gesto irritou o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que minutos depois deu uma cusparada em Bolsonaro.

E foi exatamente sobre este episódio que Marcelo de Lima Henrique escreveu nas redes sociais, o que pode prejudicá-lo caso venha a ser condenado.

“Votei e votarei no Jair Bolsonaro para qualquer cargo. PSOL, PT, PC do B nunca terão meu voto. Prefiro votar em louco do que em ladrão, incentivador de boiolices (homossexualidade é uma coisa e eu respeito as pessoas. Boiolice é outra parada para ficar claro estou editando este post), maconheiro e inimigos da família. Cada um com seu cada um. Não sou politicamente correto, não apoio boiolices (homossexualismo é outra coisa e eu respeito), viciados, pederastas feministas e machistas...”, postou o juiz.

Diante das palavras do árbitro, o presidente da comissão de arbitragem do STJD, Sergio Corrêa da Silva, encaminhou ao STJD cópias da postagem feita por Marcelo de Lima Henrique.

Entrevistado pelo UOL Esporte, o árbitro disse não ter se arrependido sobre a postagem, voltou a deixar claro seu apoio a Bolsonaro e sua revolta contra a ‘boiolice’ e ainda comentou sobre a conversa com Sérgio Corrêa e a possibilidade de ser punido pelo STJD.

UOL Esporte: Sobre o que publicou, se arrependeu?

Marcelo de Lima Henrique: Eu sou um cara que tenho opiniões, eu vivo, sou um cidadão e tenho opiniões, posições políticas, não gosto de ficar em cima do muro. Como eu falei: ‘para de boiolice’, nada contra homossexual porque eu não sou maluco, eu não tenho nada contra, muito pelo contrário. A gente vive hoje num mundo todo diversificado. Mas na votação me indignou uma pessoa cuspir no rosto da outra, é uma coisa indignante, uma coisa repugnante e isso foi como se fosse uma cusparada na minha cara. Eu tenho as minhas opiniões pessoais, concordo que sou uma pessoa pública até, nem era pra ser tanto porque eu estou ali para servir o futebol como a imprensa serve, como o gandula serve o futebol... Fiz a postagem para mim, normal, não me sinto desconfortável e não tenho que pedir desculpas para ninguém não, não vejo nenhum erro, não tem nenhuma conotação homofóbica  contra homossexuais, está muito bem explicado ali e depois no final eu até evitei a publicação e coloquei entre parênteses, boiolice é uma coisa, homossexual é outra coisa, nada a ver. Hoje você tem que ser politicamente correto, se você não falar o que todo mundo quer ouvir você passa a ser errado, você tem que aceitar tudo e tem coisas que eu não aceito. Cada um tem a sua opinião, se eu falasse que era a favor do PT viria uma enxurrada de pessoas me criticando também, como eu critico todo mundo que não tem posição política. Então, eu encaro de maneira natural, conversei com o Sergio Correa sim, ele falou que foi encaminhado para o STJD para analisar... Mas eu tenho certeza que eu não feri ética nenhuma, apenas coloquei as minhas posições e vou ter até o final da minha vida. O problema é que a pessoa escuta o que ela quer, ela entende o que ela quer. Não tem preconceito nenhum ali, tem a minha opinião com um ato que aconteceu e que eu repugno dentro de campo, isso é cartão vermelho, é conduta violenta, é um ato repugnante. Uma pessoa cuspir na outra é uma coisa podre, isso está passando dos limites, é pior que um soco na cara, e aí você não pode expressar a sua opinião, tem que ficar quieto que se você for a favor de um ou de outro... Mas eu tenho as minhas opiniões políticas independente se eu sou árbitro ou militar, eu tenho as minhas opiniões pessoais, e o que eu coloquei lá eu sou tudo contra o que é radical, está bem claro ali, machistas, feministas, pederastas, está tudo bem claro. Se eu fosse uma pessoa de preconceito contra machistas, contra feministas... Agora, se todo mundo for radical a esse ponto e não puder falar mais nada aí então acaba o mundo, fecha a porta e vamos embora, vamos só aceitar o que está se impondo aí e vamos ver como fica daqui a 30 anos.

UOL Esporte: O que o Sergio Correa falou pra você?

Marcelo: Ele só falou: ‘Marcelo, eu recebi este e-mail de um jornalista que assina a matéria do globo.com e eu repassei para ser avaliado pelo STJD, para ver se cabe uma denúncia ou não’. Eu falei: ‘Tranquilo, sem problemas’. A comissão recebe denúncias todos os dias, então este jornalista por algum motivo dever ter se ofendido ele está no seu direito também, ele é um cidadão, mas eu tenho certeza que não vai passar disso, seria um total absurdo a gente não poder dar a opinião de qualquer assunto. Em nenhum momento o Sergio Correa deu opinião, ele só me passou de uma maneira formal, sem crítica, não teve juízo de valor. Para mim ele não falou nada, só me comunicou o fato.

UOL Esporte: Você teme alguma represália, ficar fora de escala, por exemplo?

Marcelo: A comissão nacional trabalha com critérios técnicos bem definidos, é uma comissão bem democrática e eu não estou aqui para causar problemas para a entidade, não. Eu faço o meu trabalho honesto e transparente. Agora isso não cabe a mim te dizer, não, pelo o que eu conheço das pessoas que dirigem a comissão ali, pela postura deles, isso aí não afeta em nada a vida do árbitro, a vida do árbitro é dentro de campo e tomando alguns cuidados éticos fora de campo. Eu não vejo ter ferido a ética em nada aí... Agora, se o cidadão comum não puder opinar em nada, então eu vou ter que rasgar o meu título de eleitor, não posso mais opinar.

UOL Esporte: Votei e votarei no Bolsonaro, é isso mesmo?

Marcelo: Sim, votei e votarei e farei campanha de graça pra ele, eu acho que a nossa família está em corrosão. Ele tem a maneira dele e a filosofia, porém nós temos que ir atrás de defensores da família, não da família caretona, não, mas da família que queira o bem que agrega, que leva os filhos na escola pra estudar, que quer combater a violência. Hoje em dia a gente vê muita gente passando a mão na cabeça pra arrumar voto. Ah, o Bolsonaro vai resolver? Não sei, mas é uma tentativa, eu não posso ficar com milhares de pessoas que apoiam essas coisas que a gente está vendo aí, eu vou atrás de uma pessoa que se identifica comigo até pelo meu perfil militar, tem o meu perfil, é filho de nordestino, então a gente quer que a coisa sempre ande de maneira correta. É defensor da família brasileira. Não é o salvador da pátria, não, mas é uma perspectiva minha. Votei e pretendo votar nas próximas, sim.