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Árbitro faz carreira nos EUA e desabafa após largar CBF: "Não há critério"

Vanderlei Lima e Leandro Miranda

Do UOL, em São Paulo

13/02/2016 06h00

Com um cargo público de confiança na prefeitura de Votorantim e uma carreira promissora como árbitro de futebol no Brasil, ele decidiu largar tudo aos 32 anos para se mudar com a família para os Estados Unidos. Guilherme Ceretta de Lima, eleito o melhor árbitro do Campeonato Paulista de 2015, abandonou o quadro da CBF em outubro para tentar, segundo ele próprio, uma "nova vida".

"Estava um pouco cansado das coisas aí no Brasil. Nos Estados Unidos, é outra cultura, porque aqui o critério é não ter critério", disse ele ao UOL Esporte.

Ceretta se desligou da CBF trocando farpas com o presidente da comissão de arbitragem, Sérgio Corrêa. O juiz disse que era discriminado por trabalhar também como modelo, e o dirigente rebateu afirmando que ele vinha tendo más atuações. Agora, com a família ao seu lado, ele tenta recomeçar em Boca Raton, na Flórida, onde vive desde o início do mês.

"Hoje é até uma loucura, porque eu estaria bem no Brasil, teria muitas coisas para fazer. É mais a questão de qualidade de vida, tentar uma nova vida, fazer algo diferente. Não tenho rancor nem mágoa. Tenho duas meninas, a Manuella, de 2 anos e 8 meses, e a Antonella, de 8 meses, e eu quero que elas tenham uma qualidade de vida melhor".

Ceretta também provocou polêmica em 2015 quando criticou a redução da pena do atacante Dudu. O palmeirense deu um empurrão nas costas dele após ser expulso na decisão contra o Santos pelo Campeonato Paulista.

Além das filhas e da mulher, Ceretta tem nos EUA a sogra, o cunhado, a cunhada e dois sobrinhos. Enquanto acelera trâmites burocráticos para começar a trabalhar como árbitro, ele dá aulas de futebol para adolescentes de 13 a 17 anos em uma escolinha local.

"Eu vim aqui para me inscrever na arbitragem. Já tinha visto que era possível, e agora estou tirando as documentações necessárias para começar. Não sei se vou trabalhar no campeonato universitário primeiro ou se vou direto para a MLS (principal liga dos EUA), porque ainda estou em processo de fazer inscrição", explicou.

Morando de aluguel – "um pouco caro para quem está chegando agora" –, ele ainda tenta se ambientar ao novo país. O pai de Ceretta, que ficou no Brasil, não concordou a princípio com a mudança do filho. Mas o árbitro tem a certeza de que fez a coisa certa.

"Meu cunhado trabalha aqui com construção civil, minha cunhada é cabeleireira, eu vou trabalhar com esporte e minha esposa na semana que vem já começa de baby-sitter (babá). Não podemos reclamar de nada, a gente sabe que vai passar um pouco de dificuldade, mas hoje eu vejo que é impossível viver pior aqui do que no Brasil. No Brasil, tem o sistema, e você tem que aceitar. Quando não aceita, quem tem que sair é você".