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Árbitro pede dispensa da CBF e se vê discriminado por ser bonito

Guilherme Ceretta de Lima foi eleito o melhor árbitro do Paulistão 2015. E é modelo.  - Robson Ventura/Folhapress
Guilherme Ceretta de Lima foi eleito o melhor árbitro do Paulistão 2015. E é modelo. Imagem: Robson Ventura/Folhapress

Vanderlei Lima*

Do UOL, em São Paulo

15/10/2015 17h34

Eleito melhor árbitro do Campeonato Paulista, Guilherme Ceretta de Lima pediu dispensa da CBF. Ele anunciou que não apita mais pelo quadro da entidade enquanto a Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf) for comandada por Sérgio Corrêa. Além da esfera profissional, a desavença entre eles envolve até denúncia de discriminação.

“Com relação à CBF, eu não tenho mais interesse em representar a entidade a partir do momento que o comandante continue sendo o Sérgio Correa. Se houver uma troca, uma substituição ou se ele sair, aí eu posso me colocar à disposição novamente”, afirmou Ceretta ao UOL Esporte.

Paralelo à função de árbitro, Ceretta também trabalhou como modelo. O que, segundo ele, é motivo de discriminação na Comissão de Arbitragem.

“O fato de eu ser um árbitro bonito incomoda. O fato de eu ter sido modelo incomoda. Então você tem que ser feio e você pode ter qualquer uma outra profissão que seria legal, mas modelo não pode, modelo pra ele ou pra eles deve ser algo que não pode ser ligado a arbitragem. Mas eu não li isso em regulamento algum, que pra ser árbitro você não pode ser modelo. Então com certeza isso aí contribui para a antipatia entre as partes”, contou.

De acordo com Ceretta, que costuma falar com a imprensa e já foi até ao Programa do Jô, Corrêa quer que os árbitros ajam à sua imagem e semelhança.

“Eu sempre bati o pé e vejo isso como um trabalho como qualquer outro, se eu fosse feio eu poderia estar na FIFA. Ele tem algum tipo de preconceito em relação a isso eu não posso fazer nada, eu não posso julgar, respeito as preferências que ele tem por outros árbitros, mas posso não concordar. O presidente deixa essa relação profissional e pessoal muito próximo. O fato de eu sempre ser procurado pra falar e dar entrevistas era uma coisa que incomodava. O fato de eu ter ido no Jô Soares é uma coisa que incomodava. Eu tinha que ser aquilo que ele gostaria que eu fosse eu não poderia ser eu mesmo”, acrescentou.

Guilherme Ceretta de Lima já trabalhou como modelo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Guilherme Ceretta de Lima alia as funções de árbitro, modelo e funcionário público
Imagem: Arquivo pessoal

Em contato com o UOL Esporte, Sérgio Corrêa respondeu as acusações. "Isso [justificativas dele] não existe. Não há nem o que comentar sobre isso. O fato de ele não ser aproveitado recentemente é culpa exclusivamente dele, não dá CBF.”

Ao longo do Brasileirão, Ceretta apitou apenas uma partida. Foi na 7ª rodada, no dia 13 de junho, vitória do Flamengo por 1 a 0 contra o Coritiba. Na ocasião, o árbitro deixou de expulsar o atacante Wellington Paulista, que ofendeu o assistente Marcelo Van Gasse, e acabou levando um gancho temporário. À época, ele julgou que a punição foi exagerada. Depois disso, ausentou-se de testes físicos e teóricos da CBF e não voltou a ser escalado para apitar os jogos.

“Ele deixou de comparecer às avaliações físicas e teóricas de julho e, por isso, não estava apto a ser escalado depois. Tenho 600 árbitros que cumprem o protocolo todo de avaliações, ele não pode ser tratado de maneira diferente. Tem que fazer também. É um árbitro de grande potencial, pode chegar a ser internacional tranquilamente, mas precisa fazer as avaliações. Não há qualquer preconceito ou implicância por qualquer outro fator. São questões de protocolo. Ele precisa cumprir", afirmou Corrêa.

“Eu trabalho como funcionário público, principalmente em finais de semana. Quando tem eventos nós da Secretaria de Esportes temos que participar. Então eu não posso organizar tudo durante a semana e no dia do evento virar as costas pro evento e não estar presente. Então sempre quando tinha necessidade de estar presente no evento eu pedia dispensa, até porque esse é o meu trabalho, esse é o meu registro, esse é o meu ganha-pão de todo o dia. A arbitragem é sorteio, então a gente não pode ficar nesta incerteza, será que hoje eu vou? Será que hoje eu não vou? Então pra evitar este tipo de situação, eu pedia dispensa pra que a gente não corresse o risco de não estar acompanhando o evento de perto”, explicou Ceretta, que trabalha na Sedesp (Secretaria do Desporto) da Prefeitura de Votorantim, a pouco mais de 100km de São Paulo.

*Colaboraram Pedro Ivo Almeida e Roberto Oliveira