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Empresa admite investimento em zagueiro, e SP pode ser punido pela Fifa

Iago Maidana trabalhou com os profissionais nos últimos dias - Saopaulofc.net/Divulgação
Iago Maidana trabalhou com os profissionais nos últimos dias Imagem: Saopaulofc.net/Divulgação

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo*

22/09/2015 22h38

O São Paulo poderá ser punido pela Fifa pela contratação do zagueiro Iago Maidana, de 19 anos, ex-Criciúma. Depois de deixar o clube de Santa Catarina, o jogador passou dois dias registrado no Monte Cristo, clube da terceira divisão de Goiás, conforme publicado pelo Globoesporte, e só então foi comprado pelo São Paulo. O valor que será pago pelo São Paulo é três vezes maior do que o recebido pelo Criciúma. Para que conseguisse realizar a operação, o Monte Cristo contou com o aporte da Itaquerão Soccer, empresa que emprestou a quantia para comprar o jogador do Criciúma e que negociou a venda para o São Paulo, segundo apurou o UOL Esporte. A Fifa, no entanto, proibe desde 1º de maio de 2015 a participação de investidores em direitos econômicos ou mecanismos de investimento que driblem essa prática de forma ilícita.

"Sim, tudo intermédio... Assim, o aporte financeiro foi da Itaquerão, mas tudo em nome do Monte Cristo. Está todo mundo divulgando que parece que essa negociação se diluiu em três dias, mas não foi isso. Pra você ter uma ideia, a negociação com o São Paulo, que era um dos possíveis contratantes do Iago, que se você puxar na mídia foi divulgado em vários sites que o Corinthians estava apalavrado ou fechado com Iago, e não teve, foi uma consulta. O Atlético-MG fez uma consulta com a gente, muito intensa, em termos até que foram oferecidos valores, que não vou divulgar. O São Paulo foi um dos. Quem conduziu a negociação a princípio foi o Júnior Chávare, da base", disse Fernando Moraes, representante da Itaquerão Soccer, ao UOL Esporte.

O São Paulo comprou do Monte Cristo 60% dos direitos econômicos de Iago Maidana por R$ 2 milhões, e a negociação ainda pode chegar a R$ 2,4 milhões dependendo de metas técnicas. O jogador foi vendido pelo Criciúma ao Monte Cristo, segundo a Itaquerão Soccer, por R$ 800 mil. Questionado sobre como seria possível a Itaquerão Soccer realizar o investimento, via Monte Cristo, de forma legal após a nova lei da Fifa para investidores, Moraes respondeu:

"Pela parceria que a gente tem com Monte Cristo há longa data. O Monte Cristo, para você ter uma ideia, para disputar a terceira divisão do Goiano quem arca com custos desse campeonato, taxa de arbitragem, ambulância, médico, policiamento, é a Itaquerão. Não vou te falar que eu... que a Itaquerão banca o Monte Cristo, porque não sei se eles têm outros parceiros e qual condição, o que eles pagam. Mas se você viajar amanhã para Goiânia, desembarcar lá e for assistir o treino, você vai ver que o uniforme inteiro do Monte Cristo tem o logotipo da empresa. Não foi um clube que a gente locou o jogador para negociação, não. A gente percorreu o caminho legal da situação. Clube, clube. O aporte financeiro que eu fiz, no Iago, que eu venho fazendo há dois anos no Monte Cristo, isso é um problema meu, isso é uma conduta que a gente tem. E, se você ver, a maioria está fazendo isso".

Fernando Moraes afirma que não tem vínculo com o Monte Cristo além da parceira. "Sou representante da Itaquerão e tenho um amigo de 15 anos que é o diretor de futebol do Monte Cristo, que é o Moisés [Nascimento], e isso estreitou nosso relacionamento há dois anos, dois anos e pouco. A gente voltou a fazer a negociação do futebol, assim, eles precisavam de um aporte. Você pode puxar e vai ver que o Monte Cristo não tem condição de disputar um campeonato. A gente vê potencial na cidade e no material humano que a gente coloca lá para jogar. A gente acabou juntando a legislação de maio com essa coisa que a gente já vinha conversando desde fevereiro", diz.

O representante da empresa afirma que não vê problema legal na parceria entre a empresa e o clube da terceira divisão do futebol goiano, mesmo admitindo a participação no investimento em compra de jogadores. "Assim, eu sinceramente não sou nenhum expert no assunto jurídico, mas eu não vejo problema. A gente faz o aporte financeiro, é como se a empresa fosse parceira do Monte Cristo. Tudo que foi feito em nome da Itaquerão foi feito por intermédio do Monte Cristo, com o respaldo do Monte Cristo e do Moisés Nascimento, diretor de futebol", afirma Moraes.

A assessoria de imprensa do São Paulo foi procurada pelo UOL Esporte e afirmou que o vice-presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro não irá comentar o caso. Apesar da indicação ter partido do ex-gerente de futebol de base Júnior Chávare, como cita o representante da Itaquerão Soccer, a negociação com Iago Maidana só foi finalizada três semanas após Chávare deixar o São Paulo por motivos pessoais, e conduzida por membros do departamento profissional. A contratação do zagueiro também foge completamente do modelo adotado por Chávare na base são-paulina: quase todos os jovens firmaram contratos de empréstimo até o fim de janeiro de 2016 com opção de compra, e nenhum deles com valor tão alto como Iago, que ultrapassa R$ 2 milhões. 

Se for provado que o São Paulo negociou a contratação de Iago Maidana com o Monte Cristo sabendo da condição de investidor da Itaquerão Soccer no caso, o clube deverá ser punido pela Fifa. O clube poderá ser impedido de contratar jogadores por período de até dois anos e pode receber multa financeira por descumprir a lei vigente desde 1º de maio. O Monte Cristo, igualmente, também pode ser punido pela Fifa. 

Segundo publicado pela Folha de S. Paulo, a CBF notificou os três clubes envolvidos e promete apurar o caso.

*Atualizado em 23/9, às 8h02