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SP vê barreiras em alvos preferidos. Milton fica porque momento é decisivo

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

07/04/2015 06h00

O São Paulo não tem um perfil definido para contratar o sucessor de Muricy Ramalho. O próximo técnico da equipe virá de forma emergencial e não atenderá a filosofias ou projetos específicos. Os alvos preferidos estavam definidos até o fim da noite de segunda-feira: Vanderlei Luxemburgo, Cuca e Abel Braga. No entanto, há diferentes barreiras que tornam cada um desses nomes mais difíceis. E é por isso e pelo momento que vive o clube que Milton Cruz não deixa o São Paulo junto com Muricy.

Muricy Ramalho se sentiu indisposto na manhã de segunda-feira, foi ao médico e soube que os problemas de saúde que trata são um pouco mais graves do que se pensava. Reuniu-se com o presidente Carlos Miguel Aidar, o vice-presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro e o gerente de futebol Gustavo Vieira de Oliveira e, em comum acordo, deixou o cargo. Nas semanas anteriores, o São Paulo já havia olhado para o mercado e procurado treinadores por precaução, e não encontrou possibilidades.

A saída de Muricy agora acabou com o projeto de contratar um sucessor europeu. O momento, agora, é emergencial. Não há tempo para adaptação. No Morumbi, longe do departamento de futebol, um dos mais citados pela cúpula são-paulina era Leonardo, ex-diretor do Paris Saint-Germain (FRA) e ex-técnico do Milan (ITA) e da Internazionale (ITA). Ataíde Gil Guerreiro, chefe do futebol, não concorda.

No CT da Barra Funda, onde está o departamento de futebol, Vanderlei Luxemburgo, Cuca e Abel Braga apareceram como alvos principais. Em relação a Abel, o São Paulo já não tem mais esperança. Segundo informações recebidas pelo clube, o ex-treinador do Internacional fechou acordo com um clube do Oriente Médio. Em relação a Luxemburgo e Cuca, as barreiras são financeiras.

Luxemburgo tem contrato com o Flamengo até o fim deste ano e vive bom momento. O clube carioca vê como praticamente impossível sua saída neste momento. Na noite de segunda, no entanto, o treinador foi um dos convidados do programa “Bem, Amigos”, do SporTV que não se fecha ao São Paulo: “Tenho direito de discutir a proposta. Aceitar é outra história. Não pode passar por mercenarismo, não passa por nada. Isso é profissionalismo”, afirmou.

No Flamengo, o treinador recebe no mesmo patamar dos R$ 500 mil mensais de Muricy no Morumbi. Porém, o São Paulo teria de pagar também a rescisão do contrato.

Cuca vive situação semelhante. Está atualmente no Shandong Luneng, da China, recebe exorbitantes R$ 1,5 milhão mensais. O São Paulo diz que o técnico aceitaria reduzir consideravelmente seus vencimentos para voltar ao clube que treinou em 2004. Quem está próximo do técnico não nega o interesse.

A diretoria do São Paulo nega oficialmente que fará outras mudanças no departamento de futebol, mas a intenção da cúpula é realizar uma mudança completa no departamento após a saída de Muricy. O coordenador técnico Milton Cruz e o gerente de futebol Gustavo Vieira de Oliveira – este totalmente defendido por Ataíde Gil Guerreiro – são os que enfrentam os principais processos de fritura no clube. No entanto, é absolutamente impossível tirá-los de seus cargos neste momento. Um se faz necessário porque treina o time enquanto não há sucessor de Muricy. E o outro, igualmente, porque é quem negocia com o próximo treinador.

Milton Cruz enfrenta enorme resistência da diretoria são-paulina desde o ano passado. Sua excelente relação com Muricy Ramalho, no entanto, o manteve no cargo de coordenador. Neste momento o São Paulo disputa as quartas de final do Paulistão e os dois últimos jogos da fase de grupos da Copa Libertadores. Não há outro funcionário na comissão técnica fixa que possa assumir o lugar como interino. E, como já dito pela própria diretoria, é possível que demore até 20 dias para que o clube feche com o próximo treinador. É impossível tirar Milton agora.

Antes de ser gerente de futebol do São Paulo, Gustavo Vieira de Oliveira prestou por anos consultoria jurídica ao clube. Era ele que atuava em praticamente todas as contratações do clube. Ele redigia documentos e era responsável pela parte formal das transações. Hoje, como gerente, além de participar deste processo, é ele o negociador do São Paulo. Ataíde Gil Guerreiro tem outras atividades profissionais e não vive exclusivamente para o clube. Divide-se entre duas funções. Ao contrário do resto da diretoria, confia plenamente em Gustavo e o responsabiliza pelas atuações no mercado. Quem frequenta o CT da Barra Funda diariamente está acostumado a ver o gerente de futebol preso a ligações telefônicas enquanto caminha pelos gramados. O telefone celular está colado à sua orelha em quase todos os momentos do dia. É Gustavo quem vai contratar o treinador que o São Paulo não tem – desde a ligação até a elaboração dos documentos.

Como já informado por quem está na cúpula são-paulina, a diretoria pretendia reformular todo o departamento de futebol a partir da saída de Muricy Ramalho. Agora, aguarda um momento propício – quando tiver treinador e após as definições do futuro em Paulistão e Libertadores – para fazê-lo.