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Edmundo quase foi preso por chutar câmera no Equador na Libertadores

Edmundo chuta câmera de cinegrafista no Equador e é filmado por ela - Reprodução
Edmundo chuta câmera de cinegrafista no Equador e é filmado por ela Imagem: Reprodução

Vagner Magalhães e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

06/03/2015 06h00

Durante a sua carreira como jogador, o atacante Edmundo se meteu em algumas confusões. Na Libertadores de 1995, na fase de grupos, ele se irritou com um cinegrafista equatoriano, após a derrota do Palmeiras por 1 a 0 para o El Nacional, em Quito. Ainda em campo, bateu boca com ele e num ato de fúria chutou a sua câmera. O caso foi parar na polícia, o jogador chegou a ter a prisão decretada, mas acabou liberado dias depois.

A versão inicial de Edmundo foi a de que na saída do campo ele pisou no fio da câmera, ela bateu em sua cabeça, e caiu. O jogador não titubeou e chutou o equipamento, que estava no chão. O ato de fúria foi gravado pela câmera. A imagem, rapidamente, ganhou o mundo. Em sua defesa, o jogador disse que foi ofendido pelo profissional equatoriano.

O ato isolado deixou o Palmeiras em apuros no país. O volante Amaral lembra de como ficou o clima para a delegação depois do jogo. "A gente ficou preso no hotel e não podia sair. Quando fomos liberados, muitos brincavam que o Edmundo estava dentro do baú (da rouparia). Os caras fizeram inclusive a gente abrir esse baú. Foi desagradável porque a gente se sentiu prisioneiro. E o grupo não queria sair sem o Edmundo", disse.

 
Amaral lembra da preocupação de todos. "A gente olhava pela janela e tinha o Exército lá na porta. Ficamos com medo de alguém atacar uma bomba na gente. Ou os caras entrarem atirando à noite. O problema foi que a televisão começou a mostrar diversas vezes a imagem e o pessoal ficou revoltado. A televisão deu uma inflamada. Foi um clima de guerra. Nós fomos para o aeroporto de ônibus, escoltados, para jogar contra o Emelec. Parecia que éramos a delegação do Iraque, com tanta segurança para nós".
 
Na ocasião, o time era treinado pelo técnico Valdir Espinosa, que também se recorda do transtorno vivido pela delegação. "O Edmundo foi impedido de nos acompanhar e o Valdir Joaquim de Moraes, que era o nosso treinador de goleiros, se propôs a ficar junto com ele. O Edmundo era  um brigão pela vitória, a briga dele tinha um objetivo, de vencer. Isso marcou. A gente saindo de lá e o Edmundo impedido de nos acompanhar", disse.
 
Segundo o treinador, o que atenuou a situação foi saber que ele não estava em uma prisão. "Ele não estava passando mal. Ia ter toda a segurança, ou seja, era só uma situação. Ele não foi punido por mim. É preciso conviver com pressão de Libertadores, que é uma pressão diferente. Hoje melhorou bastante, mas estamos falando de 20 anos atrás. Então tinha barulho em hotel, pressão na chegada do estádio, pressão no jogo. É preciso estar preparado".
 
Atualmente com 83 anos, Valdir Joaquim de Moraes lembra do convívio com Edmundo, nesse momento difícil para o atleta. "Ele ficou retido, não podia sair do quarto. Inclusive ele se alimentava dentro do apartamento e eu fiquei com ele. Eu reuni a imprensa, fui falar com os repórteres. A polícia queria levar o Edmundo, mas o advogado do hotel não deixou. Quando o Edmundo saiu, depois de quase três dias, nós fomos de carro direto para o aeroporto, que estava lotado de torcedores esperando ele para pedir autógrafos", relembra.
 
Moraes disse que nesses dias conversou muito com o jogador sobre futebol. "Eu lembro que ele me contou a vida todinha dele. De quando começou no Vasco (...) Eu fui um ouvinte daquilo. Quando ele foi jogar no Flamengo (ainda em 1995), eu fui com o Palmeiras ao Maracanã. Quando o Flamengo entrou e o Edmundo me viu, ele deu uma corrida em minha direção, me deu um abraço, e falou, na frente de todos os repórteres: 'esse é o maior homem que eu conheci dentro do futebol e da vida'. Isso me trouxe muita satisfação. Quando havia qualquer problema com o Edmundo, normalmente eu resolvia antes de chegar no Vanderlei Luxemburgo".
 
Seraphim Del Grande, vice-de futebol do Palmeiras na época, e que chefiou a delegação do clube no Equador, disse que Edmundo aceitou prontamente a repreensão que recebeu do clube. "Falamos que não poderia acontecer isso, até porque foi uma partida fora e o Palmeiras estava representando o Brasil. O Edmundo aceitou tranquilamente. Ele concordou que se excedeu, mas quiseram criar um clima sensacionalista dentro daquilo tudo", disse.
 
Del Grande lembra que Edmundo chegou a se desculpar, mas as desculpas não foram aceitas pelo diretor de uma TV local, para quem o cinegrafista trabalhava. "Fomos para uma reunião. O Edmundo pediu desculpas, eu também me desculpei. Mas o Edmundo, daquela maneira dele, meio irônico (...) Aí o diretor falou que não aceitava as desculpas dele e que não iria retirar a queixa. No fim, a Embaixada brasileira ajudou muito e ele pode viajar". Sem Edmundo em campo, o Palmeiras venceu o Emelec por 3 a 1 e finalmente voltou ao Brasil.