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Galácticos não obedeciam Luxemburgo no Real, diz Roberto Carlos

Zidane era um dos que mais conversavam separadamente com o brasileiro - Efe
Zidane era um dos que mais conversavam separadamente com o brasileiro Imagem: Efe

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

25/02/2015 06h00

“Eu, na esquerda?”, pergunta o eterno ídolo do Real Madrid, Raul Gonzalez, para Vanderlei Luxemburgo. “Aqui, um pouquito só”, responde o treinador. A feição do atacante de quem não entende quase nada do que ouve durante o diálogo com o comandante (em vídeo no fim do texto) pode explicar um pouco do porquê o brasileiro não repetiu no “clube do século 20” os trabalhos vitoriosos que fez em seu país.

Há dez anos, o maior ganhador de taças no país pentacampeão mundial teve a grande chance da carreira, em um dos clubes mais prestigiados do mundo e no momento que talvez tenha reunido os maiores craques da época, o período dos “galácticos” o espanhol Raúl, os brasileiros Roberto Carlos e Ronaldo, o inglês Beckham, o português Figo e o francês Zidane, entre outros. Durou apenas 45 jogos, menos de um ano e nenhuma taça.

“Ele trouxe as conquistas do futebol brasileiro e tudo que fazia no Brasil para a Espanha, mas não conseguiu combinar esse trabalho e aprender um pouco da cultura europeia. Proibiu algumas coisas que o europeu não estava acostumado”, disse Roberto Carlos, em entrevista ao UOL Esporte. Ele diz que jogou contra o fato de as estrelas não cumprirem as ordens de Luxa.

“O trabalho dele foi bom, mas quando você tem dois ou três jogadores que não entendem o que o treinador quer, e alguns líderes no grupo...aí esses dois ou três acabaram contaminando os outros para que o trabalho do treinador não seguisse na época. Vanderlei não teve tanta facilidade para se adaptar aos jogadores”, lembrou o ex-lateral, sem citar nomes.

Luxemburgo chegou no início de 2005, semanas depois de obter seu quinto título brasileiro, pelo Santos. Teve um bom início no clube madrilenho ao pegá-lo no meio de uma temporada turbulenta. Obteve 16 vitórias, três empates e três derrotas nos seus primeiros seis meses e foi vice-campeão espanhol. Seu melhor momento nesse estágio foi um triunfo por 4 a 2 sobre o Barcelona de Ronaldinho. Mas, no fim da temporada, montou a equipe mais a seu jeito. Se desentendeu com Figo, que acabou dispensado. Chegaram contratações milionárias dos brasileiros Robinho e Julio Baptista. Mas os resultados não vieram. Acabava a química com os jogadores.

Roberto Carlos havia ganhado vários títulos com Luxa na era vencedora do Palmeiras com a Parmalat e também foi um dos homens de confiança na rápida passagem do treinador pela seleção brasileira. Como um dos mais experientes do elenco galáctico, o lateral tentou fazer o elo do chefe com o elenco. Mas a coisa não andou. Não por falta de respeito ao comandante, mas por vontade.

“O problema não é respeitar, o problema é fazer. E muitas vezes eles (jogadores) deixavam de fazer. E você sabe como o Vanderlei é: se não faz o que ele quer, vira o bicho. Ele fez certo, de repente para fazer um bom trabalho lá, só faltou um detalhezinho, que os jogadores também não queriam fazer muito o que ele queria. Então eu penso que a culpa foi mais dos jogadores. A culpa não foi do Vanderlei, não, a gente avisou muito ele também.”

O atual técnico do Flamengo sofreu desgaste em três frentes que culminaram em sua saída: a falta de resultados no final, críticas por não falar fluentemente o espanhol após quase um ano no país e desconfiança pela legião de brasileiros. Além de indicar Robinho e Julio Baptista, o clube também havia contratado o lateral direito Cicinho, que chegaria depois. Era comum a imprensa espanhola noticiar o interesse por algum jogador brasileiro, como o meia Ricardinho e o zagueiro Edu Dracena.

Os cartolas do clube reclamavam também por alguns métodos que não agradavam ao elenco, como o excesso de concentrações, algo incomum na Europa. “Ele não se adaptou ao estilo europeu. Trouxe as conquistas dele pra Europa, mas não conseguiu combinar o que fazia e aprender um pouco sobre a cultura europeia, como campo reduzido, posse de bola, não fazer concentração e treinos em dois períodos”, comentou Roberto Carlos.

Auxiliar de Vanderlei em parte do período no Real, Paulo Campos entende que os três fatores não atrapalharam e diz que a relação do técnico com elenco era boa. A diferença, segundo ele, foi Ronaldinho ter atuação de gala num 3 a 0 pro Barça no Santiago Bernabéu. “Não teve nada disso. Não houve desentendimento com o espanhóis. O relacionamento dele era muito bom com todos. Ronaldinho fez a diferença e aniquilou o Michel Salgado (ex-lateral), aquilo culminou na saída dele. Os atletas se esforçavam ao máximo.”