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O que precisa acontecer para que mata-mata substitua os pontos corridos

Romildo Bolzan, presidente do Grêmio, levantou a bandeira do retorno do mata-mata - Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio
Romildo Bolzan, presidente do Grêmio, levantou a bandeira do retorno do mata-mata Imagem: Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio

Gustavo Franceschini*

Do UOL, em São Paulo

06/01/2015 06h00

Mal chegou ao Grêmio, o presidente Romildo Bolzan Júnior avisou que quer uma mudança radical. Por ele, os pontos corridos que dominam desde 2003 voltariam a dar lugar ao mata-mata. E quando o comandante de um clube deste porte entra na discussão, o Fla-Flu recomeça. Mas além de discutir o que é melhor, cabe a pergunta: O que o presidente do Grêmio precisa fazer para que o Brasileirão volte a ter finais?

O caminho é longo e passa, fundamentalmente, pela vontade política. Bolzan, aparentemente, começou sua campanha sabendo disso. “Conversei com presidentes de clube e vários deles mostraram interesse pelo debate. A Federação Baiana pediu alterações, com quem conversei houve ressonância. Conversei com o Fluminense, com o Vasco, com o Internacional. Temos de fazer o debate. Pode haver turno e returno, pode haver turno único, mas buscamos equilíbrio maior e capacidade de empolgação da torcida”, disse o dirigente em entrevista à Rádio Bandeirantes.

Só que não é fácil identificar quem está de cada lado nessa briga. As razões para cada uma das escolhas variam. Quem quer playoffs e finais diz que o sistema atual é cansativo e amplia a distância entre grandes e pequenos. Quem pede pontos corridos defende que ele dá mais meritocracia e permite um calendário mais seguro e homogêneo, com o mesmo número de jogos para todos os envolvidos.

Um outro fator, porém, pesa bastante. Em geral, quem está ganhando quer manutenção, enquanto quem está perdendo pede o contrário.

“Somos contra a volta do Brasileiro no módulo de mata-mata. O desejo do clube é de manter o formato atual de pontos corridos”, disse Benecy Queiroz, supervisor de futebol do bicampeão Cruzeiro. “Mata-mata é na Copa do Brasil, no Brasileiro é retrocesso. Acho difícil que os clubes daqui apoiem isso”, disse Delfim Peixoto, presidente da Federação Catarinense, que emplacará quatro clubes na Série A em 2015.

“Tem de haver um modelo híbrido, com pontos corridos até determinada fase e quadrangular final. Mantém o critério de mérito e no final vai permitir o que todo mundo gosta, que são os jogos decisivos. O modelo puro e simples dos pontos corridos está superado”, disse Evandro Carvalho, presidente da Federação Pernambucana, que só tem o Sport na elite.

“Temos que aprofundar esse assunto. Ainda não tive acesso ao documento que o Grêmio faz essa proposta.  É uma proposta para se analisar. O importante disso tudo é ver os números, resultados. Se for algo bom para o futebol não vejo problemas, mas se for ruim serei contra”, estuda Carlos Eduardo Pereira, presidente do Botafogo, que em 11 anos de pontos corridos soma dois rebaixamentos e, no máximo, uma ida à Libertadores.

Quem decide, como organizadora da competição, é a CBF, que até o momento parece disposta a manter os pontos corridos. Só que ela pode ser influenciada pelos clubes, caso haja um movimento consistente, ou pela Globo, que em anos anteriores já manifestou sua preferência pelo mata-mata.

Essa indefinição deixa alguns clubes e federações à deriva. Boa parte dos envolvidos fica distante da discussão, esperando o momento certo de opinar. A maioria dos grandes, porém, sinaliza preferência pelos pontos corridos. Se o movimento gremista vingar, a CBF não terá muito trabalho legal para mudar.

O Estatuto do Torcedor exige que qualquer mudança tem de ser feita no ano seguinte, e com aprovação do Conselho Nacional do Esporte, órgão do Ministério do Esporte que é composto de funcionários da pasta e representantes da sociedade civil. A pasta, em transição por conta da chegada do novo ministro, não comentou o assunto com a reportagem do UOL Esporte. Quem está no meio, no entanto, indica que um pedido da CBF não deve ser barrado pelo órgão.

A volta do mata-mata exigiria, em última instância, um “drible” no Estatuto do Torcedor. O texto, de 2003, exige que pelo menos uma competição de âmbito nacional tenha sistema de disputa “em que as equipes participantes conheçam, previamente ao seu início, a quantidade de partidas que disputarão, bem como seus adversários”. Em tese, o trecho seria uma amarra aos pontos corridos. Ainda que a questão seja polêmica, há quem defenda que nem isso impediria uma mudança.

“Isso não impede que tenha mata-mata. O artigo é para que não tenha mudança de tipo de classificação durante a competição. Se a gente tiver hoje um mata-mata, você define antes do começo o sistema de disputa. Isso já atende o que tem no estatuto. Você vai saber que vai jogar no mínimo 38 vezes, mais duas ou quatro rodadas na fase final”, disse Gustavo Delbin, advogado e presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo. 

*Colaboraram Enrico Bruno, Rodrigo Paradella, Victor Martins, Danilo Lavieri, Guilherme Palenzuela, Bernardo Gentile e Vinícius Castro