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Edmundo peitou Antônio Carlos e Luxa para ajudar reservas, diz ex-Palmeiras

Antônio Carlos e Edmundo se abraçam para comemorar título de 1993 - Paulo Giandalia/Folhapress
Antônio Carlos e Edmundo se abraçam para comemorar título de 1993 Imagem: Paulo Giandalia/Folhapress

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

29/05/2014 06h00

Bad boy, temperamental, nervosinho e reclamão. Essas são algumas das facetas que mais simbolizam a personalidade do ex-atacante Edmundo por como agia dentro e fora dos gramados nos tempos de jogador. Mas ele teve um lado de defensor dos mais fracos pouco conhecido e que marcou muito um protegido.

Marco Aurélio dos Santos, mais conhecido como Macula, foi um dos reservas do milionário time do Palmeiras da vencedora era da Parmalat e que ganhou consecutivamente dois Campeonatos Paulistas e dois Brasileiros (em 1993 e 1994). Teve passagem por Vasco e Fluminense e naquela época foi trazido do Bangu para completar o elenco alviverde.

Enquanto os estrelados Mazinho, Edílson, Zinho, Rincón, Edmundo e Evair, entre outros, apareciam em quase todos os jogos no setor de criação e ataque, havia um grupo de suplentes formado por nomes como Macula, Jean Carlo e Sorato, que tinham poucas oportunidades em função da alta qualidade dos concorrentes. “Naquele time a coisa mais difícil era você jogar. Eu era praticamente um patinho feio”, lembra Macula.

Segundo o ex-atleta, houve um forte debate certa vez para definir a questão de como seriam distribuídos os bichos por vitória conforme a verba distribuída pela diretoria do clube e da Parmalat para dividir entre os jogadores.

Macula conta que o zagueiro Antônio Carlos, um dos líderes do elenco, queria que a repartição do dinheiro fosse da seguinte forma: os titulares ganhariam uma quantia determinada, enquanto os reservas ficariam com apenas metade desse valor. O defensor falou em nome de um grupo que pensava dessa forma.


“Antônio Carlos e outros não queriam que o nosso (dos reservas) bicho fosse integral. Ele falou ´acho que tem que ser só 50%´para o jogador reserva querer se esforçar para ser titular´. Aí depois disso falou o Mazinho, falou o Cléber, e falaram a mesma coisa”, lembrou.

Macula conta que Edmundo era da opinião de que os reservas deveriam ganhar bicho integral igual aos titulares, mesmo que estes ficassem com menos dinheiro do que ficariam com a outra opção, de apenas 50% para os suplentes.

O técnico Vanderlei Luxemburgo acompanhava calado para deixar que os jogadores opinassem e saísse dali uma decisão democrática. Eis então que Edmundo, visivelmente contrariado, toma a palavra e rebate os argumentos de Antônio Carlos. E, em sua argumentação, deixa claro que Luxa jamais cogitaria que qualquer um daqueles reservas virariam titulares um dia.

“A reunião estava lotada, aí, de repente, o Edmundo falou assim: ´Vanderlei, vou fazer uma pergunta. Se no próximo jogo o Macula fizer três ou cinco gols e arrebentar, ele vai ser titular? Se o Sorato entrar e fizer dois gols, você vai tirar o Evair pra ele jogar? Se esses caras (reservas) arrebentarem, eles vão virar titular?”, lembrou Macula. Luxemburgo tentou tomar a palavra, mas o “Animal” prosseguiu.

“Aí ele falava ´Como é que esses caras vão jogar? Eles podem fazer qualquer coisa, que nunca vão ser titulares. Então como é que vocês querem tirar o bicho deles e que não seja integral? Tem que ser integral sim, porque se eles jogarem bem e arrebentarem, você, Vanderlei, não vai por eles pra jogar. Seu time titular é esse e você não vai mudar´”, continuou.

Macula ao lado de Zico em jogo beneficente - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Luxemburgo então concordou com a argumentação de Edmundo e opinou que aquilo deveria ser o melhor para o grupo. “O Vanderlei falou ´vendo por esse lado, vamos deixar o bicho integral mesmo´. O Edmundo era um cara que brigava pela gente. O Vanderlei ainda perguntou se nós, reservas, queríamos falar alguma coisa e colocar o que achávamos.  Aí eu, o Sorato, Flávio Conceição, Amaral e Tonhão e falamos: ´não, não, podem ficar à vontade, não queremos falar não´”, lembrou, aos risos.

O vencedor time do Palmeiras da era Parmalat ficou conhecido pelo belo futebol praticado, mas  também pelo desentendimento de algumas de suas principais estrelas e um elenco que fora de campo não era tão unido.

Macula conta que apesar da extrema vaidade, Luxemburgo sabia como conduzir o time a resultados e que Edmundo era o principal alvo de críticas dos jogadores mais experientes.

“Havia briga justamente pelo temperamento do Edmundo, que sempre foi um cara muito  explosivo. E tinha um grupo que reclamava que o Palmeiras tinha que ser mais coletivo, e ele era muito individualista. Isso trazia alguns problemas. O Edmundo discutiu várias vezes com o Antônio Carlos porque tinha um grupo que era o pessoal da igreja...Zinho, Cléber, César Sampaio, Cláudio...esse era um grupo. E o Edmundo era praticamente sozinho”, falou.

“O Evair não se metia em nada, o Rincón era muito na dele e fica assim muito dividido fora de campo. Mas dentro de campo o Vanderlei segurou com rédea curta todo mundo. Era um pega pra capar em campo”, finalizou.

Macula, que chegou a ser lavador de carros e gandula antes de ser jogador, atualmente atua como assessor de um deputado federal no Rio de Janeiro.