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Marcação da mulher e desejo de ir à Copa fazem Valdivia abandonar baladas

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

30/10/2013 06h02

Lesões incuráveis, fotos comprometedoras, supostas traições, baladas sem fim e até um sequestro-relâmpago. Nos últimos anos, Valdivia esteve muito mais envolvido em escândalos fora de campo que com futebol. Agora, o meia tenta mudar sua postura sob a rédea curta da mulher e corre contra o tempo para disputar sua segunda Copa do Mundo e salvar o fim da carreira.

Valdivia deu um tempo na badalação noturna e adota a discrição na sua vida em São Paulo. “Sossegou” depois que voltou a morar com sua mulher, Daniela Aranguiz, na capital paulista. A modelo retornou ao Brasil neste ano depois de passar uma temporada no Chile após ficar traumatizada com a tentativa de abuso sexual e as agressões sofridas pelo casal em um sequestro relâmpago em São Paulo, em junho de 2012.

Pessoas próximas ao jogador revelaram ao UOL Esporte que ele está mais caseiro por causa da presença da esposa, que adotou uma linha dura em relação aos desvios de comportamento do marido. Também está mais dedicado na busca por seu maior objetivo na carreira: voltar a disputar uma Copa do Mundo.

A dúvida que paira no ar é se depois de tantas lesões e um comportamento desregrado ainda é possível recuperar a credibilidade e o físico de um atleta de 30 anos. “Pega o exemplo de um cara que fuma por 20 anos. Ele para, mas continua tossindo. Ainda vai sofrer os efeitos. Não é simples assim”, diz um amigo do atleta, que não quis se identificar.

Fato é que Valdivia vem tentando. Ele confidenciou a pessoas próximas que o trauma causado pelo sequestro o fez refletir sobre sua vida e o ajudou a ter mais responsabilidade com sua carreira. Até o empresário e conselheiro do Palmeiras Osório Furlan, dono de parte de seus direitos econômicos, acredita que ele amadureceu.

“Ele está se cuidando melhor, está com 30 anos, não é mais criança. Ele sabe, reconheceu muita coisa errada que fez. Ele não tem mais 22 anos, tem que parar de fazer o que fazia, senão vai terminar prematuramente”, disse Furlan, conhecido por ser crítico do meia.

O próprio jogador vem adotando um discurso diferente em suas entrevistas. Procura admitir os erros do passado. “Aproveitava para sair, jantar, escutar música, e não dormia o suficiente para estar descansado no dia seguinte. A gente chegava tarde em casa e acabava não descansando. Hoje, depois do jogo, se alguém falar que me viu na balada vai crescer o nariz. Depois do jogo vou para casa e janto com a minha mulher”, disse recentemente, em entrevista ao “Arena Sportv”.

“Prefiro descansar, prefiro ficar em casa com meus filhos brincando. Hoje tenho tudo em casa, antigamente não tinha tudo que eu tenho agora em casa. Então prefiro fazer minhas coisas dentro de casa e acredito que uma grande diferença é isso”, completou.

Quem mora próximo de Valdivia descreve um vizinho tranquilo. Perto de seu apartamento, localizado em um prédio de luxo em um bairro da Zona Oeste paulistana, ele é visto passeando com o cachorro, comendo um lanche na padaria e alugando filmes de ação que costuma levar para a concentração.

Até por conta dos problemas que se envolveu, não gosta ter sua vida pessoal exposta e tenta até passar despercebido às vezes. Chega a frequentar a lanchonete perto de sua casa com moleton e capuz para não ser reconhecido, de acordo com um funcionário do local. Suas idas ao salão de beleza, onde corta o cabelo e faz massagens, são preservadas pela gerência do estabelecimento que está proibida de falar sobre o atleta. Funcionários relatam que o jogador vai acompanhado de seguranças à paisana.

Uma grande questão é se a mudança recente de comportamento refletiu em seu desempenho em campo. Para os chilenos, sim. Valdivia vem reconstruindo sua imagem após escândalos de indisciplina que custou seu afastamento da seleção chilena com técnicos anteriores, inclusive Claudio Borghi.

O meia voltou à seleção com a chegada de Jorge Sampaoli, que lhe deu um voto de confiança. Aproveitou a chance e ajudou a classificar o Chile para a Copa do Mundo de 2014. Na visão do repórter do jornal chileno “La Tercera”, Cristián Caamaño, o desejo de participar de seu segundo Mundial modificou a vida de Valdivia.

“A confiança de Jorge Sampaoli lhe serviu muito neste ano para ter um motivo concreto para se recuperar. Creio que o Mundial é um incentivo muito grande. Ele está focado para chegar da melhor maneira a junho de 2014. Ele teve uma evolução e isso se deve a um melhor cuidado pessoal e à motivação de jogar o torneio, não tenho dúvidas que é por isso. Ele se dá conta que perdeu muito tempo, se descuidou no tratamento das lesões, na dedicação às recuperações, no descanso”.

No Palmeiras, no entanto, o meia ainda não é visto com olhos tão generosos. Apesar de estar um pouco mais responsável em relação aos tratamentos, o que é confirmado pelo departamento médico, ainda sofre com lesões e joga pouco. Entre os conselheiros, ganhou o apelido de ‘craque celular’ - ‘quando você precisa, ele nunca pega’.

Até amigos do atleta acreditam que o casamento entre atleta e clube já chegou ao fim e o culpam pelos longos períodos de ausência nos gramados. “Claro que é culpa dele. Ele tem que ter consciência. Você não vê o caso do Pedrinho? Ele tinha problemas parecidos e dizia que não queria receber enquanto estivesse lesionado. Foi uma engenharia econômica muito grande para contratar o Valdivia. Ele sabe o quanto custou”, afirma o amigo, que pediu para não ser identificado.

Valdivia, de fato, esteve pouco em campo pelo Palmeiras neste ano.  Seja por lesão, suspensão ou por convocação para a seleção chilena, só completou oito partidas em 2013. Dos 62 jogos que o Palmeiras realizou, participou apenas de 24. Não atuou na Copa do Brasil, tampouco na reta final da Libertadores – jogou apenas duas partidas.

O atleta chegou a ficar afastado de 20 partidas, desde a reta final do Campeonato Paulista até a sétima rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, por conta de uma grave lesão na coxa.

O presidente do Palmeiras Paulo Nobre mantém o discurso otimista e valoriza a evolução. “Em 2013 ele foi um exemplo em treinos, tratamento de lesões. Se criticamos porque ele não se comportava bem, tem que aplaudir e elogiar o desempenho dele. Como torcedor e presidente, este Valdivia para mim poderia ficar no Palmeiras até encerrar a carreira”, disse, em entrevista à rádio Capital/ESPN.