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Ex-palmeirense Flávio Conceição diz que Nike pode ter lhe tirado da Copa-98

O volante Flávio Conceição em jogo da seleção brasileira - Phil Cole /Allsport/Getty Images
O volante Flávio Conceição em jogo da seleção brasileira Imagem: Phil Cole /Allsport/Getty Images

Mauricio Duarte

Do UOL, em São Paulo *

27/09/2013 06h00

Flávio Conceição teve uma passagem mais do que vitoriosa no futebol. O ex-volante foi ídolo do Palmeiras na segunda metade da década de 1990, defendeu o La Coruña e o poderoso Real Madrid com sucesso, e também vestiu a camisa da seleção brasileira na Olimpíada de 1996-Atlanta e em duas Copas América (1997 e 1999). No entanto, desde que se aposentou, em 2006, uma coisa o perturba: seu corte de última hora da Copa do mundo de 1998, na França. De acordo com ele, sua saída pode ter tido a ver com o patrocinador de material esportivo do time, a Nike, que acabara de fechar com a CBF.

Conceição, que era patrocinado pela concorrente Reebok, contou ao UOL Esporte que, na época, a especulação de que esse seria o motivo chegou aos seus ouvidos de maneira bastante consistente. No entanto, o ex-atleta disse que nunca teve ânimo para investigar mais a fundo e preferiu não dar mais detalhes.

“Isso me incomoda bastante. É o sonho de qualquer jogador. Ganhei vários títulos, faltou disputar uma Copa do Mundo. Muita gente do meio, com conhecimento, veio me alertar que era coisa de patrocinador. Porque foi muito estranho. Eu vinha jogando desde as Olimpíadas, em 96, e fui cortado na hora do filé”, desabafa.

De fato, Conceição foi convocado pelo técnico Zagallo durante toda a preparação para a Copa de 1998 e era titular. No entanto, foi cortado às vésperas da divulgação da lista final. A justificativa dada pela comissão técnica brasileira é de que ele havia torcido o joelho e não poderia se recuperar a tempo. Então médico do Brasil, Lídio de Toledo disse ao jogador que o próprio médico do La Coruña informou que o jogador não tinha condições. Ele refuta a informação.

“Foi uma coisa estranha. O Lídio me ligou na segunda, perguntou como eu estava e falei ‘Se eu não jogar sábado pode me cortar, se eu jogar, é porque estou bem’. Na quinta me ligou de novo e disse que eu estava cortado. Quis saber o motivo. Disseram que o médico do La Coruña havia dito que eu não tinha condições. É mentira, o próprio médico desmentiu isso. Tanto é que joguei no sábado e fiz gol. Até hoje não consigo entender”, lamenta.

Procurada pela reportagem do UOL Esporte, a Nike, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que a "marca não interfere em escalações e que isso é uma prerrogativa da comissão técnica". Conceição, por sua vez, embora não esconda a mágoa, disse que não sente raiva de Zagallo por ter tirado sua chance de jogar o Mundial. “Nunca mais falei com o Zagallo, mas ainda o admiro muito”, resume.

Palmeiras

No Brasil, o time de coração de Flávio Conceição é o Palmeiras, clube que defendeu de 1993 a 1996, acumulando títulos: Torneio Rio-SP de 1993, bicampeão paulista (1994 e 1996) e bicampeão brasileiro (1993 e 1994). Por essa contribuição, espera ser lembrado no centenário alviverde, que acontece em 2014. De preferência, sendo convidado para participar de uma partida com ex-jogadores na inauguração do novo estádio.

“Eu gostaria de ser convidado, quem não quer fazer parte de uma festa dessa? Não visitei as obras, mas pelo que eu vi achei um dos estádios mais bonitos do Brasil. Acho que o Palmeiras deveria convidar aquele time de 93 e 94, Zinho, Evair, Edmundo, Edilson, foi um dos melhores times que já teve. Seria uma alegria participar”, afirma.

Conceição torce para que o time consiga chegar rápido novamente à elite do futebol nacional, mas alerta que para disputar a Série A do Brasileirão é preciso reforçar o time. “Não desmerecendo o time, mas algumas peças tem que contratar. Na Série B o time está indo bem, o treinador faz um bom trabalho, vai subir sem problemas”, prevê.

Vida nova

Atualmente, aos 38 anos e residindo em Americana, interior de São Paulo,, Conceição virou um homem de negócios, no futebol e fora dele. Ao mesmo tempo em que cuida de empreendimentos imobiliários, ele gerencia o Nova Odessa Atlético Clube, comprado em 2009. “Estamos agora na quarta divisão do Paulista. Trabalhamos com a base. Eu sou proprietário, mas ajudo em outras coisas, dou treinamento. Meu foco hoje é o clube”, explica.

Apesar de ter jogado no Real Madrid ao lado de craques como Zidane, Figo e Ronaldo, o ex-volante acredita que seu melhor momento fora do país foi no La Coruña. “Quando cheguei no Real tive uma contusão séria. Mesmo assim joguei bastante depois, venci uma Liga dos Campeões. Joguei com os melhores. Mas a fase de 96 a 98, até 2000, foi a melhor, no La Coruña”, analisa.

Sobre sua carreira, tirando a polêmica envolvendo seu corte em 1998, Conceição não tem grandes frustrações.  “Quando eu vou fazer jogo beneficente, o pessoal sempre se lembra de mim, demonstra carinho. Trabalhar com futebol não é fácil”, finaliza.

* Atualizado às 17h55