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Zagueiro corintiano lança livro e conta 'esquema das bolas murchas' na final do Brasileiro

Livro de Paulo André revela bastidores do futebol e apresenta uma reflexão crítica - Divulgação
Livro de Paulo André revela bastidores do futebol e apresenta uma reflexão crítica Imagem: Divulgação

Carlos Padeiro

Do UOL, em São Paulo

17/02/2012 06h00

Durante a trajetória do Corinthians rumo ao título brasileiro em 2011, o zagueiro Paulo André decidiu escrever um livro sobre tudo o que viveu no futebol, desde a adolescência até os dias de hoje.  “O jogo da minha vida – Histórias e reflexões de um atleta” relata bastidores, folclores do futebol, conta dezenas de passagens da carreira do atleta de 28 anos e detalhes da conquista nacional pela equipe alvinegra.

SÓCRATES E RONALDO

Paulo André pediu para que celebridades do esporte e jornalistas escrevessem um breve texto sobre um tema livre e publicou antes de cada capítulo do livro. Um dos convidados foi Sócrates, seu amigo.

”Caso tivessem tido a oportunidade, Picasso, Leonardo, Mozart e Vincent Van Gogh e tantos outros teriam optado pelo fascínio do futebol para exercer o talento que possuíam”, redigiu o Doutor.

Segundo o zagueiro, Sócrates entregou o texto por e-mail dias antes de morrer. “Ele me disse: ‘meu filho, calma que eu te respondo’. Ele chegou a ler o livro, não sei se inteiro, mas leu, elogiou e deixou essa lembrança.”

Já Ronaldo ficou responsável pela apresentação da obra. “Uma alegoria corriqueira para quem está nos bastidores – e acabou tendo de aceitar que as coisas funcionam assim – e surpreendente aos olhos de quem acompanha pelo estádios e pela televisão. Esta é uma obra da vida real do atleta, expondo claramente que é hora de mudar, evoluir”, opina o Fenômeno.

No capítulo ‘Campeão brasileiro de 2011', por exemplo, Paulo André descreve os minutos finais do clássico contra o Palmeiras, o 0 a 0 que garantiu o troféu nacional.

O lance em questão é um escanteio para o rival alviverde, e a cobrança sairia dos pés de Marcos Assunção.  O momento tenso virou cômico na visão do beque corintiano.

“Colocamos dez jogadores dentro da área para afastar o perigo. (...) Olhei mais uma vez para o batedor, que demorava para efetuar a cobrança. Ele pedia ao juiz outra bola, já que a primeira estava murcha. (...) Percebi que o cobrador permaneceu estático, mostrando que aquela bola também não tinha condições de jogo. Tive vontade de rir. Fazia parte do folclore do futebol, mas eu nunca havia presenciado isso numa partida tão decisiva. Os gandulas haviam murchado a bola para atrasar o jogo, fazer o tempo passar e diminuir as chances do time adversário marcar o gol.”

Em entrevista ao UOL Esporte para falar sobre a obra, Paulo André explicou o ‘causo’ entre risos. “Para mim, ali um segundo demorou dez para passar. Depois perguntei aos meus companheiros se eles viram que a bola estava murcha, e eles disseram que não foi assim. Assisti ao vídeo em casa, perguntei para o meu pai, e ele também não viu aquilo. Foi a visão que tive. No livro tentei contar de várias maneiras o final do campeonato, o momento derradeiro. É inédito por isso, são coisas atuais”, explicou.

A parte final foi escrita durante concentrações e viagens pelo Campeonato Brasileiro. “Sentava no avião e pedia para o pessoal [do Corinthians] ler. Eles foram me ajudando, dizendo ‘está legal, gostei’, se identificavam com a história, davam risada”, comentou o beque.

Os 32 capítulos foram elaborados com uma linguagem leve, em primeira pessoa, e permeados por diálogos e lembranças do autor durante a sua história no futebol.

Reflexão e visão crítica

Mais do que as curiosidades, o livro traz uma reflexão sobre a formação do jogador brasileiro, a relação com empresários, a forma como os clubes tratam os jovens na base, questiona a concentração etc.    

A CAPA DO LIVRO

“Gênios ou não, melhores da história ou não, pernas de pau ou não, todos somos seres humanos, com sentimentos muito parecidos, instintos idênticos e uma capacidade de aprender e se adaptar fora do comum. Usemos o nosso conhecimento para o bem do futebol brasileiro”, consta na introdução.

Na parte sobre as categorias de base, surge a crítica. “No Brasil, existe dificuldade para se encontrar treinadores nas categorias de base que se preocupem com a evolução do atleta em longo prazo. (...) a maioria dos treinadores trabalha praticamente da mesma maneira, formando jogadores e não pessoas – boleiros, e não atletas.”

Existe ainda um repúdio ao papel dos empresários e à ideia de que só atingem o sucesso jovens agenciados por quem tem "esquema" nos clubes.

“É uma realidade, um tema corriqueiro. Não gosto de empresários, não tenho eles como amigos. É uma visão antiga, decorrente da pouca condição educacional dos jovens, que são obrigados a acreditar que precisam do empresário. Deveria ser o contrário, o empresário ser um empregado do jogador e não mandar”, opinou.

Serviço

O lançamento de “O jogo da minha vida – Histórias e reflexões de um atleta” acontece no dia 1º de março, na Saraiva do Shopping Pátio Paulista, a partir das 19h.

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